A “cobardia” no (Des)governo

A “cobardia” no (Des)governo


Temos assistido ao que considero ser um apogeu na capacidade de disfarçar as profundas fragilidades nos meios e tecnologias ao dispor dos serviços públicos.


“Por muito alto que fales, muito mais alto que as tuas palavras falam as tuas ações”.

Utilizo frequentemente esta frase, em contextos diversos, para relembrar a imprescindível condição de coerência no que respeita à solidez da confiança que estabelecemos com os nossos interlocutores, e que assenta na conformidade entre palavras ditas e ações realizadas. Pelas implicações que tem na sociedade e no povo, a importância dessa condição é particularmente relevante no que à gestão das políticas públicas diz respeito.

Esperar-se-ia que numa época de escrutínio informativo tão intenso a forma como os problemas e as condicionantes ao reconhecimento das múltiplas situações que um governo enfrenta fosse revestida de graus de lucidez e seriedade à prova de qualquer interpretação mais folclórica.

Temos assistido nos últimos tempos ao que considero ser um apogeu na capacidade de disfarçar as profundas fragilidades nos meios e tecnologias ao dispor dos serviços públicos. Esperaria que o ministro da tutela reconhecesse a fragilidade dos sistemas de segurança ferroviária logo após o acidente que causou vítimas mortais e que envolveu o comboio Alfa que liga Lisboa ao Porto. Pelo contrário; veio enaltecer essas capacidades e descansar os utilizadores, refugiando-se na desculpa do erro humano. Será certamente aflitivo pensar no que sentiram, ao escutarem essas declarações, os familiares daqueles que confiando no sistema perderam a vida.

Só reconhecendo os erros e as fragilidades é possível evoluirmos. Enquanto, por cobardia ou vício de mentira, o Governo continuar a insistir que está tudo bem, dificilmente as fragilidades são corrigidas e o país evoluirá. É evidente que o governo não entende a fragilidade de meios com que o sistema de saúde a nível nacional se depara, tal como não entende que o melhor que o sistema de saúde tem, assenta precisamente na qualidade, na dedicação e no esforço que os profissionais de saúde entregam à sua missão. É tão evidente por esse país fora a entrega dos profissionais em ambiente de fragilidade de meios e falta de investimento por parte do governo central. Pessoalmente assisti recentemente no Hospital de Seia a um exemplo magnifico dessa entrega revestida de uma ausência de meios e de excesso de burocracia que contribuem para a fragilidade do sistema e para a desmotivação dos profissionais.

As calúnias proferidas pelo primeiro-ministro aos médicos são para além de muito injustas, bem demonstrativas da falta de respeito pelos profissionais que se dedicam a salvar vidas, colocando muitas vezes a sua própria em causa. Revelam também o estilo brejeiro com que este primeiro ministro, impreparado para adequada gestão do país, trata de temas seriíssimos. Numa democracia avançada e de qualidade teria efetivamente de se demitir. António Costa mostrou, ao falar caluniosamente e nas costas, bem ser o que os outros acusa de ser.

Indispensável para Portugal e para o povo português seria o Governo procurar encontrar e reconhecer as fragilidades do investimento público, procurar e encontrar formas sérias e sustentáveis de financiar esse investimento. É isso o que um povo deveria esperar de um governo. Reconhecimento das fragilidades para que as possa tratar.

Estamos muito mal entregues ao governo socialista que de socialista nada tem.

Esperemos que o povo acorde e perceba que tem razão quando diz que “quem muito fala pouco acerta”.

CEO do Taguspark e Professor da Escola de Gestão do ISCTE