1. As questões à volta do Novo Banco sucedem-se, mas nada têm de novidade. O dinheiro que está a ser entregue à instituição corresponde ao montante máximo previsto desde início, num plano que 90% dos políticos, jornalistas, economistas e gestores acharam razoável. Os 10% restantes defendiam a nacionalização e, aparentemente, tinham razão. Quando se diz que parte das imparidades irá ser paga pelos bancos, através do Fundo de Resolução, está a omitir-se deliberadamente que os bancos movimentam dinheiro de pessoas e que, hoje, o seu negócio são, na prática, comissões e taxas de juro baixíssimas. Se acrescentarmos a isso que há mais clientes bancários do que contribuintes, está tudo dito. Quem paga são os cidadãos em geral, seja pela via dos impostos seja pelas contas bancárias. Não há milagres! O Novo Banco é um buraco gigante que integra o grupo BES/GES, que se estende ao Banif, ao BPP e, agora, a uma pandemia que só parece abrandar para ganhar forças e regressar ainda com mais agressividade, depois de agosto. Portugal foi, como se esperava, o país mais atingido pelos efeitos económicos da doença, porque o que verdadeiramente fazia a diferença no nosso crescimento era o turismo. E, para ser claro, é preciso dizer que ou o turismo volta ou, então, afundamo-nos como nunca e com problemas cada vez maiores e mais complicados – talvez até inimagináveis. Vem a propósito dizer que parecemos muito descontraídos no que toca à covid. Ao ponto de nada estar decidido e anunciado relativamente à organização social e aos métodos profiláticos a adotar em meados de setembro, quando dois milhões e meio de pessoas, entre ativos, inativos e estudantes, tiverem de voltar a uma vida relativamente normal, numa altura em que ainda não haverá vacina nem medicamentos específicos e eficazes.
2. O grupo Montepio, onde predomina uma esquerda socialista, afunda-se cada vez mais, sem que haja uma intervenção forte do Governo, dos integrantes da geringonça que Costa quer recuperar com papel assinado, e sem denúncias dos restantes partidos. Há silêncios injustificáveis. Falar do Novo Banco é importante, mas há pouco para fazer, na medida em que está tudo assinado e validado legalmente, por lamentável que seja. O Montepio seria uma primeira oportunidade para o novo governador do Banco de Portugal intervir no banco e, por tabela, na associação mutualista. Talvez ainda nos poupasse 400 milhões.
3. A avaliar pelo que escrevia o Expresso, o Presidente Marcelo está preocupado porque Rio diz o que pensa independentemente das consequências. Sendo um político com opiniões normalmente sensatas, é verdade que Rui Rio nem sempre consegue manter-se politicamente sereno. A semana passada abriu portas a um entendimento com o Chega, desde que este se modere. Na volta do correio, Ventura mandou dizer que aceitava se Rio deixasse de ser muleta do PS. O social-democrata pôs-se a jeito com uma afirmação que nunca ouviríamos de um Cavaco, de um Passos, de um Soares e muito menos de um Sá Carneiro. Uma coligação PSD/Chega pararia o país de imediato por via de uma esquerda maioritária sociologicamente e só disponível para radicalismos vindos do Bloco e do PAN. Imagine-se o pandemónio político-sindical que gerava um Governo ou um acordo desses. Isto para não falar da imprensa nacional e internacional. O Chega, para todos os efeitos, está conotado com a extrema-direita racista. Até pode não o ser, mas é entendido como tal. A hipótese admitida por Rui Rio é, portanto, descabida, além de ser um argumento para entregar votos a Ventura, que agradece. Um político tem de antecipar alianças que assegurem governabilidade, e não crispação e rutura. Rio tem mais é que pedalar a sua bicicleta e habituar-se à ideia de criar condições para ganhar sozinho ou com o CDS, na tradição do PSD. Uns dias antes desta tirada, o líder social-democrata saiu-se com outra a dizer que tinha de ser o Ministério Público a averiguar o que se passou no Novo Banco para a coisa ser feita a sério, o que é diferente das certificações legais feitas pelas grandes empresas que as fazem. Aludia, assim, à Deloitte, que audita o Novo Banco e tem o seu relatório em atraso. A afirmação suscita concordância, apesar de ter sido precisamente a Deloitte que Rio escolheu para fazer um estudo de reorganização do PSD. É a eterna dualidade da “Olívia patroa, Olívia empregada”.
4. O futebol sem adeptos não é a mesma coisa, como se tem visto nos estádios. E, entre nós, também não há programas audiovisuais que se distingam sem umas refregas verbais entre comentadores clubísticos. No râguebi é possível ver, torcer e discutir o jogo sem o fervor do futebol, mas a inversa não existe. SIC e TVI acabaram com os comentadores ligados aos três grandes. As explicações são esdrúxulas. Mais valia assumir a verdade, ou seja, que ambas as estações estavam a perder para a CMTV, que potencia ao máximo a agressividade entre os comentadores, enquanto a TVI deixou a coisa descambar para lutas quase corpo a corpo. Desde sempre que o futebol comportou sementes de violência tribal. Não foram os comentadores adeptos que o tornaram mais agressivo. Quem for mais velho lembra-se da tragédia do Heysel ou de um jogador assassinado por ter falhado um penálti num Mundial. Os excessos nos programas de televisão têm de ser controlados pelos moderadores, realizadores e diretores. É para isso que lá estão. Quando se aborda política ou questões sociais bem mais importantes, consegue-se. Nunca, por exemplo, no Prós e Contras, de Fátima Campos Ferreira, ela perdeu o controlo da situação, sabendo sempre impor-se como grande profissional que é. No futebol também se conseguiria se se quisesse mesmo. Foi-se longe demais porque os jornalistas desportivos estavam excessivamente envolvidos na guerra de audiências. A CMTV encontra agora mais potencial de crescimento e pode, curiosamente, dar-se ao luxo de moderar as contendas.
Escreve à quarta-feira