Esta semana brinquei com o meu filho na praia e reparei na alegria e na forma como ele, com apenas três anos, se divertia tanto com tão pouco. Como não podia deixar de ser, recordei o tempo em que também eu era criança e gostava de brincar com a areia. Naquele tempo fazia castelos, abria buracos, construía túneis e erguia barragens. Tinha a liberdade de passar de aprendiz a arquiteto, mas a verdade é que aquela era a única solução que me restava entre o não poder ir para a água e o ficar a ouvir as conversas dos adultos que considerava maçadoras.
A praia é um bom lugar para refletir. Inspira e talvez tenha sido por isso que, segundo se conta, Santo Agostinho tenha escolhido caminhar pela areia junto ao mar, a fim de refletir sobre o mistério da Santíssima Trindade. Diz-se que, enquanto andava às voltas com os seus pensamentos, avistou uma criança que brincava com um balde, transportando a água do mar para um buraco. Aproximando-se, perguntou-lhe o que estava a fazer. Ela respondeu: “estou a guardar o oceano neste buraco”. O santo explicou à criança que seria impossível guardar ali toda aquela água e eis que é surpreendido: “mais facilmente guardarei toda a água do oceano neste buraco do que tu conseguirás entender o mistério da Santíssima Trindade”.
Há versões que dizem que o menino era um anjo, outras que afirmam ter sido o próprio menino Jesus e outras ainda dizem que era apenas uma criança.
À semelhança do que acontecia comigo no passado, também as construções que fizemos esta semana na praia foram rapidamente destruídas pelo mar. Julguei que o meu filho Afonso ia chorar ao ver a destruição completa do nosso trabalho mas, em vez disso, deu gargalhadas tão altas que todos os que se encontravam por perto – mesmo com o distanciamento social – conseguiram ouvi-lo. “E agora?” – perguntei-lhe. “Agora já podemos ir para a água” – respondeu-me.
Talvez, escondida nesta sabedoria de quem nada sabe, estejam as respostas que procuramos. Para o explorador é preciso remexer muita terra para encontrar pouco ouro, mas para cada um de nós bastará procurar dentro de si o que julga estar fora. Sonhamos, projetamos, lutamos, por vezes até ao ponto de não nos recordarmos da razão que nos leva a fazê-lo.
Deste modo, um dos principais problemas que se nos deparam enquanto humanidade é a impossibilidade estarmos quietos. Está na nossa natureza inquietarmo-nos com a vida. Desejar e concretizar é bom e belo sempre que não estamos preocupados na comparação com os outros. Se fizemos maior, melhor ou mais rápido… Somos tolos. Todos os castelos serão destruídos e todos seremos esquecidos.
Professor e investigador