O Supremo Tribunal da Venezuela ordenou a substituição esta terça-feira da direção de dois partidos de oposição ao Governo de Nicolás Maduro, meses antes das eleições parlamentares.
A mais alta instância do país, descrita como leal a Maduro, suspendeu e substituiu a direção do partido Justiça Primeiro, um dia depois de ter feito o mesmo ao Ação Democrática, um dos maiores e mais antigos partidos do país sul-americano. Faz parte de um “necessário processo de restruturação”, justificou o tribunal.
Ambas as formações estavam entre os 11 partidos que anunciaram que não iam disputar as próximas eleições legislativas depois de o Supremo Tribunal ter, segundo eles, nomeado uma autoridade eleitoral favorável ao Governo para supervisionar a ida às urnas.
O líder da Ação Democrática e aliado político de Juan Guaidó, Henry Ramos Allup, disse que não ia obedecer à deliberação do tribunal e acusou Maduro de ter “sequestrado” o seu partido. “A Ação Democrática vai resistir a estes atos vergonhosos”, afirmou Allup.
Allup foi substituído como líder da oposição pelo tribunal por Bernabé Gutiérrez, um ativista de longa data do partido. Ao contrário de Ramos Allup, Gutiérrez elogiou a “decisão histórica” do tribunal para acabar com anos de “ditadura” dentro do partido e anunciou que a Ação Democrática irá concorrer às próximas eleições.
Mas, na segunda-feira, a Ação Democrática disse que Gutiérrez foi expulso do partido, segundo o mesmo por “conspirar com o regime de Nicolás Maduro”.
Já para a direção do Justiça Primeiro, o tribunal nomeou um comité ad hoc que será liderado por José Brito, rival de Guaidó. Brito foi expulso do partido depois der sido acusado de receber um suborno do Governo de Maduro.
O Presidente Nicolás Maduro, por sua vez, acusou os partidos de oposição, que controlam a Assembleia Nacional nos últimos cinco anos, de roubarem a riqueza da Venezuela e de orquestrarem uma invasão estrangeira para retirá-lo do poder.
Prevê-se uma feroz batalha nas eleições para a Assembleia Nacional, a única que Maduro não controla. Mas isso vai mudar, disse o Presidente. “Com o voto popular, vamos removê-los da Assembleia Nacional”, declarou. “Vamos retirá-los”.
A Assembleia Nacional é liderada por Juan Guaidó, líder da oposição reconhecido por quase 60 países como o Presidente interino da Venezuela. Um dos partidos visados pelo Supremo Tribunal, o Justiça Primeiro, é um dos aliados-chave de Guaidó (Vontade Popular), que procura expulsar Maduro da Presidência.
Depois de a instância ter nomeado a autoridade eleitoral, Guaidó apelidou-a de “falsa” e criticou o tribunal, dizendo que a oposição não iria reconhecê-la – a Assembleia Nacional rejeitou na terça-feira o Conselho Eleitoral. Não existe ainda data para as eleições, que estão previstas para este ano, de acordo com a Constituição.
Em relação à decisão do Supremo Tribunal, Guaidó disse que era uma tentativa de dividir a oposição. “Pelo contrário, estas ações fortalecem-nos”, sublinhou. “A ditadura vai cair e a república vai renascer”.