A saída do ministro de Estado e das Finanças, Mário Centeno, do Governo não foi uma novidade para os socialistas e para a oposição. Já era esperada. Só não se sabia o calendário. Contudo, nem o primeiro-ministro, nem o próprio ministro demissionário esclareceram os motivos da exoneração no dia em que o Governo aprovou o Orçamento Suplementar.
Na hora da despedida, António Costa agradeceu “profundamente” o empenho do governante e o espírito de equipa. E fê-lo nas redes sociais. Foi aí que a também socialista e ex-eurodeputada Ana Gomes comentou as palavras de Chefe de Governo: “Mais decoro e menos hipocrisia. Convinha”.
A frase é curta, mas foi replicada (designadamente por sociais-democratas) no Twitter. Ana Gomes aludia a possíveis desentendimentos entre os dois, designadamente no caso do Novo Banco. Que obrigou a uma reunião de emergência no passado dia 13 de maio.
Apesar de Costa ter feito tudo para demonstrar a imagem de tranquilidade na hora da mudança, com uma substituição interna (a promoção do secretário de Estado do Orçamento, João Leão, a ministro), as razões da saída de Centeno ainda continuam por esclarecer de forma cabal. Costa limitou-se a dizer que a “vida é feita de ciclos” e compreendia que Mário Centeno quisesse “abrir um novo ciclo na sua vida”.
Ana Gomes realçou, numa sucessão de tweets, que Centeno foi um ministro das Finanças “decisivo”, uma figura e que considerava “séria, competente, trabalhadora e decente”. Porém, foi “insensível à injustiça e criminalidade fiscal, para proveito de secos, molhados e Salgados… cujos capangas deixou que continuem instalados”.
Do lado do PSD, surgiu ontem mais uma voz a comentar a substituição de Centeno por João Leão. Paulo Rangel, eurodeputado do PSD, considerou à Rádio Renascença que o secretário de Estado “é uma escolha de segunda linha. É um Governo que tem 19 ministros, além do primeiro-ministro, mas nenhum tem peso e importância como tinha Mário Centeno”.
Os socialistas reiteraram ontem a sua posição sobre a saída de Centeno. José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, insistiu que a sua saída do Executivo é “uma decisão pessoal que merece respeito”. E que o país, tal como o PS, “está grato ao ministro Mário Centeno” pelo trabalho feito.
Hoje, o ainda ministro preside a mais uma reunião do Eurogrupo para abrir a sua sucessão, uma vez que também está de saída. E os nomes que se perfilam para o cargo são três: Nadia Calviño, vice-presidente do governo espanhol e ministra dos assuntos económicos, Paschal Donohoe, da Irlanda, e Pierre Gramegna, do Luxemburgo. Segundo o site Politico, os candidatos estavam a preparar-se desde fevereiro, quando em Bruxelas já se dava como quase certo que Centeno estaria de saída para o cargo de governador do Banco de Portugal. O mesmo site aponta os sinais vindos de Portugal para reforçar a convicção de que Centeno estaria de saída do Governo. E sai no próximo dia 15 de junho.
O cargo de governador do Banco de Portugal ainda está em aberto. António Costa ouvirá os partidos até ao início de julho, sendo que há outro nome que pode vir a estar em cima da mesa, caso a resistência da oposição crie demasiado ruído para a transferência de Centeno: o do vice-governador do Banco de Portugal, Luís Máximo dos Santos. Até lá, no Parlamento prosseguem as tentativas para fazer aprovar legislação que defina um período de nojo para a transferência de políticos para a Supervisão, ou seja, uma lei à medida do caso de Mário Centeno.
Entretanto, o PAN, através da líder parlamentar Inês Sousa Real, pediu ao Presidente da República que saiba distinguir entre a sua opinião pessoal e a institucional: “Acreditamos que o senhor Presidente saberá distinguir entre aquela que é uma opinião pessoal e uma posição institucional, e que saberá respeitar, esperamos, a vontade de uma ampla maioria parlamentar que vai da esquerda à direita e que decidiu aprovar o projeto quer do PAN quer do PEV”.. O PAN reagia às declarações de Marcelo da passada terça-feita, em que recordou os dois casos de ministros das Finanças que já passaram para o Banco de Portugal,