“Jamais faltarão a um príncipe argumentos para desculpar o incumprimento das suas promessas”
Maquiavel
Política e mentira surgem normalmente associadas, vezes de mais, o que faz acreditar que são sinónimos.
E, de facto, há demasiadas razões para isso.
A associação da política à mentira é tão antiga como a própria política.
“Sempre se consideraram as mentiras como ferramentas necessárias e justificáveis ao ofício não só do político ou do demagogo, como também do estadista”, escreveu Hannah Arendt.
Da busca da verdade, perseguida incessantemente pelos pais gregos da filosofia, considerada “o fim de tudo” por Platão, estamos hoje, 25 séculos depois, a disfarçar a mentira prevalecente chamando-lhe pós-verdade, o tema do momento no maior meio de comunicação mundial, as redes sociais.
A pós-verdade é a confirmação da razão de Goebbels: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. E porque não acreditar em Hitler quando afirmou que “as massas acreditam mais facilmente numa grande mentira do que numa pequena”?
Aliás, não é por acaso que a religião cristã elegeu o diabo como o anjo mau, o espírito da mentira. A origem latina da palavra, diabolus, significa caluniador, o que profere falsas acusações.
A verdade, para um político, é quase sempre condicionada pelo seu ponto de vista partidário. Isto é, ele vê um aspeto da verdade, filtrado pela sua ideologia. Até aqui, tudo normal. O que ultrapassa todos os códigos morais e éticos é deliberadamente usar a mentira como base do seu discurso, apoiado muitas vezes por poderosos meios de comunicação, hoje fáceis de usar, uma vez que estão disponíveis para todos os cidadãos, permitindo o contacto direto, sem intermediários: as redes sociais.
“Fake news! Fake news!”, escreve quase diariamente no Twitter o Presidente do país mais poderoso do mundo, tentando desta forma desacreditar os órgãos de comunicação social tradicionais.
Em Portugal, o último caso que levou um primeiro-ministro a mentir no Parlamento quase acabou com a demissão do ministro das Finanças. António Costa não terá sido informado atempadamente pelo ministro do pagamento de 850 milhões de euros ao Novo Banco, o que o fez afirmar que não haveria mais pagamentos antes de uma auditoria que estava a decorrer quando, na verdade, o pagamento já estava feito.
Um caso que Santo Agostinho perdoaria porque, na sua ótica, “dizer uma coisa falsa não é mentira se alguém a crê verdadeira ou se tem opinião formada de que é verdadeiro aquilo que diz”.
Viveremos eternamente entre a realidade e as diferentes versões da mesma.
E entre estas estará sempre a do diabo. Isto é, a mentira.
Jornalista