Campeonatos. O cenário ideal começa a desmoronar-se

Campeonatos. O cenário ideal começa a desmoronar-se


Em França, a Ligue 1 já foi cancelada e, por Itália, a Serie A promete vir a conhecer o mesmo desfecho. Por cá, hoje são esperadas respostas sobre o eventual regresso do futebol.


Os portugueses aguardam com expetativa as palavras de António Costa, que irá anunciar esta quinta-feira o plano gradual de desconfinamento no país devido à pandemia de covid-19. Entre as várias medidas, aguardam-se também novidades relacionadas com o universo desportivo. O futebol profissional vai ou não regressar? Esta é apenas uma das perguntas que conhecem hoje resposta, tal como confirmou, ontem, António Lacerda Sales, secretário de Estado da Saúde.

Apesar da vontade demonstrada do retorno da alta competição por todos os intervenientes diretamente ligados ao desporto-rei, neste momento há apenas uma certeza: a bola só voltará a rolar se as autoridades de saúde derem o apito inicial. Foi esta, aliás, a garantia avançada, na terça-feira, por Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), após a reunião realizada em São Bento com o primeiro-ministro, Luís Filipe Vieira, Pinto da Costa, Frederico Varandas e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), onde se discutiu precisamente o eventual regresso da Liga de futebol portuguesa – e, a acontecer, em que moldes. Terminar a época no formato original, isto é, disputar as dez jornadas que faltam, continua a ser, de resto, meta primordial para todas as organizações. Para além do desejo já demonstrado pela FPF, Liga, Sindicato de Jogadores e clubes de terminar as provas, também, nos últimos dias, a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) garantiu, pela voz do presidente, Luciano Gonçalves, que os árbitros portugueses estão preparados para o regresso.

De notar que a posição de todos os organismos e associações relacionados com o futebol no país vai ao encontro da forte recomendação deixada pela UEFA que, desde que os vários campeonatos foram suspensos devido ao novo coronavírus, em março, continua a desenvolver esforços para que as ligas possam ser concluídas da forma tradicional.

Porém, pelo menos por cá, essa meta ambiciosa só será cumprida se houver autorização por parte dos técnicos de saúde, liderados por Adalberto Campos Fernandes. Tal como já garantiu o líder máximo da FPF, só se os trabalhos com a Direção-Geral da Saúde (DGS) levarem a uma “posição definitiva” é que haverá uma decisão final sobre o retorno do futebol.

Fernando Gomes lembrou ainda que o país continua a ser um exemplo a nível mundial de como combater a pandemia e que o setor desportivo não vai dar um passo em falso: “Importa criar as condições para criar a retoma, e não pará-la depois, novamente. E essas condições têm de ser acertadas para continuarmos a dar o exemplo ao mundo de como combater a pandemia”.

fase de retoma Depois de Nacional (ii Liga), Sporting, SC Braga e Famalicão, há mais clubes que vão recomeçar a treinar, embora com várias restrições. Na próxima segunda-feira, FC Porto, Benfica e Boavista voltam aos relvados com trabalho individual e em grupos divididos, depois de as equipas técnicas e os futebolistas serem testados para a covid-19. Estes são apenas algumas medidas no acordo estabelecido por todos os clubes, sob o patrocínio da Liga, para dar início à designada fase de retoma.

Com FC Porto e Benfica separados por um ponto, de relembrar que a possibilidade de usar menos estádios nas restantes dez rondas, bem como fazê-lo numa localização geográfica mais confinada, é uma das hipóteses que estão a ser analisadas pelo grupo de trabalho da FPF, em conjunto com a DGS.

Embora o otimismo continue presente na sede da UEFA – bem como na maior parte das federações-membros –, o plano ideal, que previa o término das competições, já começou a apresentar os primeiros sinais de fracasso.

Depois de o campeonato holandês ter sido dado por terminado (sem campeão, descidas ou subidas), esta terça-feira ficou conhecida a primeira grande decisão referente aos cinco principais campeonatos europeus, com a Ligue 1 a ser cancelada por ordem do Governo francês. O primeiro-ministro Édouard Philippe anunciou que a época 2019/2020 não poderá ser retomada, pelo que o principal escalão de futebol do país, bem como a Ligue 2, foi dado por terminado. Entre as medidas de gradual desconfinamento do país para lá de 11 de maio encontra-se a impossibilidade de realizar grandes eventos desportivos até ao início de setembro – mesmo à porta fechada. A Liga Francesa de Futebol, em conjunto com a federação do país, deverá decidir no mês de maio a classificação final tida em conta para o acesso às competições europeias, bem com as subidas e descidas de divisão. Quando faltam dez jornadas para o fim da liga, o Paris Saint-Germain lidera com 12 pontos (e menos um jogo) e o segundo classificado é o Marselha, do treinador português André Villas-Boas.

Também por solo italiano, as novidades não são as melhores. O ministro para a Juventude e o Desporto, Vincenzo Spadafora, disse ontem que um recomeço da Serie A é um cenário difícil, pelo que recomendaria aos clubes apontarem já para a próxima época.

Espanha e o regresso do futebol Em Espanha, pelo contrário, o regresso aos treinos acontece no próximo dia 4 de maio, com a realização da 28.a jornada de La Liga apontada para dia 5 de junho – no pior cenário, a dia 12 desse mês. Javier Tebas, presidente da liga de clubes em solo espanhol, considerou essencial o regresso da prova e mostrou-se até surpreendido com a decisão do Governo francês. “Não compreendo como haverá mais risco em jogar à porta fechada, com todas as precauções, do que trabalhar numa linha de montagem ou num barco de pesca em alto-mar”, considerou. Recorde-se que Espanha é o terceiro país a nível mundial mais afetado pela pandemia, depois de Estados Unidos e Itália. Segue-se a França.

Por sua vez, em Inglaterra, apesar de não haver qualquer previsão de regresso do futebol, os testes sistemáticos à covid-19 estão entre as várias medidas para o retorno da liga.

Resta, assim, a liga alemã (DFL), que anunciou há dias um regresso a partir de “meados ou final” de maio, com jogos à porta fechada, além de rigorosas medidas de higiene e testes regulares de despistagem aos futebolistas. Todavia, o plano da Bundesliga ainda necessita da aprovação do Governo, que deverá ter uma decisão final ainda hoje, após a reunião entre a chanceler Angela Merkel e os chefes de governo de cada um dos estados da Alemanha.

Este cenário parece, porém, irrealista para o belga Michel D’Hooghe, presidente do comité médico da FIFA, que durante a semana defendeu que o futebol não deve regressar antes de setembro. “O mundo não está preparado para o regresso do futebol competitivo. Eu espero que isto mude depressa, mas é preciso ter mais paciência”, disse à Sky Sports. “Estamos a viver a situação mais dramática desde a ii Guerra Mundial. Não podemos subestimar isso. Temos de ser realistas. O futebol só poderá regressar quando o contacto for novamente possível”, sublinhou.