Duas abordagens opostas com o mesmo objetivo e resultados díspares. A Nova Zelândia, com cautela e sem grandes celebrações, aparenta ter conseguido eliminar a ameaça do novo coronavírus depois de semanas de confinamento extremo. A Suécia é um caso distinto, com uma estratégia invulgar em comparação com a maior parte dos países do globo, com instruções de distanciamento social mais “descontraídas”.
Ainda longe de expulsar o coronavírus, a embaixadora sueca nos Estados Unidos anunciou na segunda-feira que Estocolmo, a mais populosa cidade da Suécia, pode atingir um tão almejado objetivo mas que parece tão longínquo – de que a capital pode atingir a imunidade coletiva em maio. Embora persistam imensas incertezas sobre a capacidade de reinfeção do vírus.
“Cerca de 30% das pessoas em Estocolmo chegaram ao nível de imunidade”, celebrou a embaixadora Karin Ulrika Olofsdotter à rádio norte-americana National Public Radio. “Podemos chegar à imunidade coletiva na capital no próximo mês”.
A imunidade coletiva tem estado no seio da discussão sobre como resolver esta devastadora crise pandémica. Mas, em relação ao coronavírus, as certezas sobre como alcançá-la (sem vacinação, pelo menos) são escassas. Para se alcançar tal objetivo, quando se trata de uma doença infecciosa, a maioria da população tem que se tornar imune: seja recuperando da doença, seja através de uma vacina, prevenindo a propagação do contágio ao resto da população.
Alguns investigadores põem o patamar nos 60%, em determinadas áreas (há um estudo de caso que aponta para essa taxa para Estocolmo), para se atingir a imunidade coletiva. E essa tem sido a estratégia do Governo sueco: deixar que a maior parte dos seus cidadão fique infetado, criando a imunidade – o Reino Unido também planeou inicialmente aplicar essa estratégia, mas recuou.
Trata-se, porém, de um vírus novo e o desconhecimento ainda reina. Não existem provas de que as pessoas recuperadas da covid-19 não possam voltar a ficar infetadas. Aliás, a Coreia do Sul, entre outros, tem tido vários casos de reinfeções. A Organização Mundial de Saúde também tem alertado para a falta de conhecimento sistematizado sobre o assunto, além de lançar dúvidas sobre os chamados certificados de imunidade, uma ideia que muitos países têm pensado aplicar.
Embora os números não sejam catastróficos, o rácio de óbitos por coronavírus é significativamente maior do que em outros países europeus, com 22 mortes por cada 100 mil pessoas, dados da Universidade Johns Hopkins. Na vizinha Dinamarca, a taxa é de cerca de sete mortes por cada 100 mil – na Finlândia e Dinamarca, menos de quatro.
Nova Zelândia, do lado oposto do Planeta e com a abordagem contrária
As vantagens geográficas do país localizado no Oceano Pacífico podem ter facilitado o combate de Wellington ao coronavírus: o isolamento, onde poucos voos de escala por lá passam; e uma população de apenas cinco milhões. Por exemplo, o primeiro caso registado com covid-19 apareceu apenas no dia 28 de fevereiro, um mês depois da primeira infeção confirmada nos Estados Unidos.
Mesmo assim, Jacinda Ardern, primeira-ministra, não esteve com meias medidas. Como a própria descreveu, citada pela CNN, os neozelandeses sofreram os “piores constrangimentos” da sua “história moderna”. Ardern aplicou quatro níveis de distanciamento social e esta terça-feira a chefe do Governo neozelandês levantou o quarto nível, descendo para o terceiro.
Como diz o Washington Post, foram 33 dias sem nadar e surfar nas belas águas do Pacífico, sem poder comer fish and chips e beber o tão popular café local. Com o nível três, o comércio pode reabrir desde que consiga operar sem contacto, com a distância vista como apropriada. Quase 83% das 1472 pessoas infetadas encontram-se recuperadas e registaram-se 19 óbitos por covid-19. Todas com idades acima dos 60 anos, diz o mesmo jornal norte-americano.
“Não estamos fora de perigo”, alerta, mesmo assim, a primeira-ministra. Mesmo com cautela, há razões para otimismo: nos últimos dias, a Nova Zelândia não ultrapassou o patamar de uma dezena de casos. E, na segunda-feira, registou apenas um.
A Suécia, do lado oposto do Planeta e com a abordagem contrária, no dia 24, registou o pior registo diário de novos casos: 812. Até 27 de abril, o balanço cifra-se nos 2355 óbitos e a Suécia caminha para os 20 mil casos confirmados.