Tão evoluídos que nós fomos


Face ao que vivemos, vêm à lembrança realidades recentes, como os 100 milhões para a Web Summit, quando temos fragilidades digitais para uma simples plataforma estatística na rede hospitalar.  


Com a pandemia chegou uma espécie de consenso acrítico com divagações censórias para quem se atreve a questionar o que pode não convir em momentos de sobressalto nacional, mas está longe de servir o país.

É induzido pelos poderes (o existente e o que pretende obter validação implícita para vir a sê-lo) e percorre depois uma zona de fiéis servidores comunicacionais que replicam a quase condenação da crítica.

Vamos por partes.

Cada qual saberá como serve melhor a sua perspetiva do interesse nacional na simples cidadania ou nas instituições, mas sempre se dirá que se a pandemia seria inevitável também nestes confins, a sua decorrência põe a nu o irrealismo chocante de alguns momentos relevantes da recente vida política, nos intervalos entre pandemias e surtos vários na economia e outros setores.

Estas semanas já permitem declarar que a vida irá retomar a normalidade, mas permitem também ver como as utopias avulsas mais recentes vão agravar o dia seguinte em que seja decretada a saída do confinamento, e a saúde da sociedade e do Estado vai ser posta à prova.

E vêm então à lembrança as realidades recentes…

Da eutanásia promovida pelo Estado para quem quisesse partir depressa, da realidade dos lares da terceira e quarta idades, onde agora não chega a mão salvífica do Estado e se morre sem assistência terapêutica, na maior das solidões mesmo no adeus final e sem um simples olhar… mas hoje com lamentos de uma hipocrisia averiguada por muitos que promoveram a legislação sobre a eutanásia.

Do acantonamento dos empresários privados na saúde com a revisão expressa da lei de bases, para exclusivo gáudio e compensação em negociatas políticas com a esquerda totalitária, mas agora com os privados a serem requisitados como imprescindíveis no combate à tragédia em curso…

Dos cerca de dois mil milhões de euros anuais de aumento da despesa pública com o regresso às 35 horas de trabalho no Estado em geral até à notória desvalorização do trabalho para onde esses recursos deviam ser carreados, no estatuto remuneratório dos profissionais da saúde, da segurança, da justiça e da educação.

Dos 100 milhões para uma Web Summit de discutíveis réditos a prazo à constatação das fragilidades digitais para uma simples plataforma estatística na rede hospitalar, que atue com segurança no balanço de mortos e feridos na pandemia.

Dos turistas que era preciso restringir, que “invadiam” Lisboa e retiravam o saudoso dolce far niente de quando Pessoa descia o Chiado, até aos vídeos de hoje de áreas turísticas em desespero, chamando os turistas para regressarem logo que acabe a tragédia.

Da urgência de um aeroporto submerso no Montijo às imagens fantasmagóricas do aeroporto da Portela, que terá ganho, até à retoma de tráfego em plenitude dos números históricos, mais quatro ou cinco anos, e assim vai durar e servir…

Dos impostos, taxas e taxinhas que era preciso retirar das empresas e das famílias para agora, se queremos evitar o deslaçamento social completo, termos de devolver o que o assalto tributário extorquiu a famílias e empresas exauridas…

Do fanatismo dos sucedâneos bloquistas clamando contra o imobiliário dos vistos gold, e praticamente a interdição de tal figura em Lisboa e Porto, para agora se assistir ao riscar do mapa de Portugal dos poucos incentivos que oferecia ao investimento estrangeiro.

Dos votos em agrupamentos corporativos para uma sociedade de promoção absoluta entre humanos e animais até ao desprezo e abandono mais incivilizado de animais que hoje a epidemia está a mostrar…

Dos votos em grupos ideológicos que defendem a desvalorização da família, para a constatação do retorno nesta crise a esse elemento essencial da sociedade, quando o Estado mostrou a sua pequenez, perante o caráter insubstituível onde se reproduz a continuidade da humanidade…

No intervalo de surtos, epidemias e, agora, pandemias, os portugueses optam pela democracia como a arte de uma espécie de feira dos afetos e do Estado como centro de trocas atrabiliárias para validação de Governos e outras realidades que por aí andam, fazendo crescer votos em quem defende uma sociedade de utopias avulsas que agora a pandemia exibe…

Por estes dias, as evidências são mais que muitas de quão evoluídos nós fomos… naquele tempo.

Isto é, ainda há seis meses…

Jurista

Tão evoluídos que nós fomos


Face ao que vivemos, vêm à lembrança realidades recentes, como os 100 milhões para a Web Summit, quando temos fragilidades digitais para uma simples plataforma estatística na rede hospitalar.  


Com a pandemia chegou uma espécie de consenso acrítico com divagações censórias para quem se atreve a questionar o que pode não convir em momentos de sobressalto nacional, mas está longe de servir o país.

É induzido pelos poderes (o existente e o que pretende obter validação implícita para vir a sê-lo) e percorre depois uma zona de fiéis servidores comunicacionais que replicam a quase condenação da crítica.

Vamos por partes.

Cada qual saberá como serve melhor a sua perspetiva do interesse nacional na simples cidadania ou nas instituições, mas sempre se dirá que se a pandemia seria inevitável também nestes confins, a sua decorrência põe a nu o irrealismo chocante de alguns momentos relevantes da recente vida política, nos intervalos entre pandemias e surtos vários na economia e outros setores.

Estas semanas já permitem declarar que a vida irá retomar a normalidade, mas permitem também ver como as utopias avulsas mais recentes vão agravar o dia seguinte em que seja decretada a saída do confinamento, e a saúde da sociedade e do Estado vai ser posta à prova.

E vêm então à lembrança as realidades recentes…

Da eutanásia promovida pelo Estado para quem quisesse partir depressa, da realidade dos lares da terceira e quarta idades, onde agora não chega a mão salvífica do Estado e se morre sem assistência terapêutica, na maior das solidões mesmo no adeus final e sem um simples olhar… mas hoje com lamentos de uma hipocrisia averiguada por muitos que promoveram a legislação sobre a eutanásia.

Do acantonamento dos empresários privados na saúde com a revisão expressa da lei de bases, para exclusivo gáudio e compensação em negociatas políticas com a esquerda totalitária, mas agora com os privados a serem requisitados como imprescindíveis no combate à tragédia em curso…

Dos cerca de dois mil milhões de euros anuais de aumento da despesa pública com o regresso às 35 horas de trabalho no Estado em geral até à notória desvalorização do trabalho para onde esses recursos deviam ser carreados, no estatuto remuneratório dos profissionais da saúde, da segurança, da justiça e da educação.

Dos 100 milhões para uma Web Summit de discutíveis réditos a prazo à constatação das fragilidades digitais para uma simples plataforma estatística na rede hospitalar, que atue com segurança no balanço de mortos e feridos na pandemia.

Dos turistas que era preciso restringir, que “invadiam” Lisboa e retiravam o saudoso dolce far niente de quando Pessoa descia o Chiado, até aos vídeos de hoje de áreas turísticas em desespero, chamando os turistas para regressarem logo que acabe a tragédia.

Da urgência de um aeroporto submerso no Montijo às imagens fantasmagóricas do aeroporto da Portela, que terá ganho, até à retoma de tráfego em plenitude dos números históricos, mais quatro ou cinco anos, e assim vai durar e servir…

Dos impostos, taxas e taxinhas que era preciso retirar das empresas e das famílias para agora, se queremos evitar o deslaçamento social completo, termos de devolver o que o assalto tributário extorquiu a famílias e empresas exauridas…

Do fanatismo dos sucedâneos bloquistas clamando contra o imobiliário dos vistos gold, e praticamente a interdição de tal figura em Lisboa e Porto, para agora se assistir ao riscar do mapa de Portugal dos poucos incentivos que oferecia ao investimento estrangeiro.

Dos votos em agrupamentos corporativos para uma sociedade de promoção absoluta entre humanos e animais até ao desprezo e abandono mais incivilizado de animais que hoje a epidemia está a mostrar…

Dos votos em grupos ideológicos que defendem a desvalorização da família, para a constatação do retorno nesta crise a esse elemento essencial da sociedade, quando o Estado mostrou a sua pequenez, perante o caráter insubstituível onde se reproduz a continuidade da humanidade…

No intervalo de surtos, epidemias e, agora, pandemias, os portugueses optam pela democracia como a arte de uma espécie de feira dos afetos e do Estado como centro de trocas atrabiliárias para validação de Governos e outras realidades que por aí andam, fazendo crescer votos em quem defende uma sociedade de utopias avulsas que agora a pandemia exibe…

Por estes dias, as evidências são mais que muitas de quão evoluídos nós fomos… naquele tempo.

Isto é, ainda há seis meses…

Jurista