Mais quinze dias de silêncio


Um destes dias, enquanto circulava numa Segunda Circular quase sem carros, recordei-me do inferno que costuma ser aquela artéria da capital e das horas que já ali perdi no trânsito. 


Apesar de todas as contrariedades e constrangimentos – para não falar das enormes dificuldades que nos esperam –, há aspetos do estado de emergência que ninguém se importaria de ver prolongados. Tem sido dado como exemplo o caso da cidade chinesa que deixou de ter uma nuvem de poluição a cobri-la e que nos mostra até que ponto algumas das sociedades mais evoluídas se encontram doentes.

Mas não é preciso ir tão longe para encontrar sinais igualmente positivos. Um destes dias, enquanto circulava numa Segunda Circular quase sem carros, recordei-me do inferno que costuma ser aquela artéria da capital e das horas que já ali perdi no trânsito. Em seguida, um outdoor com um qualquer slogan político fez-me pensar no ruído mediático permanente que obriga os políticos a gritar cada vez mais alto e a inventar propostas cada vez mais extravagantes para conseguirem fazer-se ouvir.

À luz da situação atual, percebemos mais facilmente o absurdo de se querer fazer casas de banho para o terceiro género nas escolas e outras causas dessa natureza, de se discutir horas a fio foras-de-jogo de três centímetros ou de certas modas que, não sendo bonitas nem práticas, são apenas ridículas e têm como único objetivo obrigar os mais influenciáveis a renovarem o seu guarda-roupa a cada estação, com receio de não acompanharem a última tendência.

Como ficámos a saber ontem pelo novo canal oficial que é o programa de Cristina Ferreira, o estado de emergência será prolongado por mais 15 dias. A estratégia parece estar a resultar quase em pleno, permitindo evitar o grande pico de infeções que provocaria o caos no SNS e que está a ser responsável pela mortandade em Itália. Até ver, o confinamento é a solução que melhor nos protege a todos nós e, em particular, aos mais frágeis, aos mais velhos e aos profissionais de saúde que estão na linha da frente.

Depois virá o tempo em que aqueles que agora estão resguardados em suas casas terão de ir à luta, para tentar evitar o descalabro da economia. Com ganas e com empenho, mas de preferência sem agressividade e sem contribuírem para o ruído constante, que é um dos grandes problemas das sociedades modernas. Maldita pandemia… mas abençoado silêncio!