Um cisma, no sentido religioso, corresponde a uma separação. Na história da Igreja Católica encontramos alguns momentos cismáticos que modificaram consideravelmente o rumo da sua história, sendo o protestantismo de Lutero um dos mais significativos.
Manter a unidade é uma preocupação permanente de todos os grupos. Porém, há momentos decisivos em que parece não haver espaço para um caminho de unidade, acabando por eclodir uma guerra interna. Ora, a única forma de ambos os lados saírem vitoriosos numa guerra é se essa mesma guerra não chegar a acontecer. No seio da Igreja, os otimistas dizem não haver razão para alarme; no entanto, os pessimistas asseguram existirem fortes movimentações para assegurar a manutenção das verdades da doutrina e da fé, estando para isso a ser preparado o próximo conclave. Por outras palavras, as posições do Papa Francisco, portadoras de frescura e abertura, são para alguns motivo de preocupação. Entretanto, o nome de Bento xvi tem surgido como contraponto à visão de Francisco, como uma espécie de conservador das verdades do catolicismo. Há quem acuse o Papa de heresia! Havendo dois Papas, mesmo que um seja emérito, não devem ficar voltados um para o outro, mas ambos devem olhar na mesma direção.
Bento xvi esforçou-se por aproximar da Igreja os membros da Fraternidade Sacerdotal São Pio x, levantando a excomunhão aos quatro bispos ordenados em 1988 por Dom Marcel Lefebvre. Tinham sido ordenados sem mandato pontifício, ou seja, sem ordem do Papa. Este esforço pela unidade levou a que, no dia 10 de março de 2009, Bento xvi tenha sentido a necessidade de escrever uma carta dirigida a todos os bispos da Igreja Católica a propósito da remissão desta excomunhão. Escreveu Bento xvi: “Notei com surpresa o caráter imediato com que estas frases nos falam do momento atual: ‘Não abuseis da liberdade como pretexto para viverdes segundo a carne; mas, pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a lei se resume nesta palavra: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tomai cuidado em não vos destruirdes uns aos outros’. Sempre tive a propensão de considerar esta frase como um daqueles exageros retóricos que às vezes se encontram em São Paulo. E, sob certos aspetos, pode ser assim. Mas, infelizmente, este ‘morder e devorar’ existe também hoje na Igreja como expressão duma liberdade mal interpretada”.
Mas porque está a Igreja a dividir-se? Principalmente, pelo clima de medo perante um futuro próximo. Na iminência de um cisma, Francisco esclareceu que não o teme e também afirmou que esse caminho não é um caminho cristão. Seja como for, continua a escolher novos cardeais entre homens vindos do fim do mundo.
Sinais como este demonstram quão humana é a Igreja mas, ao mesmo tempo, fazem pensar no porquê de ela não cair de uma vez por todas. A atitude do Papa Francisco perante a Cúria fez-me recordar uma frase de Dom António Ferreira Gomes: “De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens”.
Professor e investigador