Uma noite de rumores e terror em Nova Deli

Uma noite de rumores e terror em Nova Deli


Depois de pelo menos 46 pessoas, sobretudo muçulmanos, terem sido mortas em motins, o terror paralisou a capital indiana, este domingo à noite.


Depois dos motins da semana passada, que fizeram pelo menos 46 mortos e mais de 200 feridos – maioritariamente muçulmanos alvos de supremacistas hindus – o terror voltou às ruas de Nova Deli. Contudo, desta vez foi falso alarme. Circularam no WhatsApp alertas infundados de novos motins, incêndios e tiroteios, que espalharam o pânico e levaram ao congestionamento das redes de emergência.

"Quando os vendedores de rua ouvem estes rumores fogem, porque são os mais vulneráveis à violência", afirmou a correspondente da BBC Dilnawaz Pasha, explicando: "As pessoas gravam vídeos disto e divulgam no WhatsApp, depois tornam-se virais e causam mais pânico". A Polícia de Nova Deli reagiu com posts nas redes sociais – "não prestem atenção a estes rumores", lia-se no seu Twitter -, mas muitos terão tido dúvidas. Afinal, a polícia tem sido criticada pela sua inação perante os massacres: sobreviventes contam que alguns agentes até participaram. 

Não é de estranhar que continue a haver terror nas ruas. Muitas vítimas dos motins hindus da semana passada sofreram ferimentos terríveis: alguns foram queimados vivos, outros desfigurados com ácido ou alvo de mutilação genital. "Os ferimentos que estamos a ver são horríveis. Nunca vi coisas tão terríveis em toda a minha vida", contou no domingo ao Guardian o doutor Meeraj Ekram, que assegura ter assistido mais de 500 pessoas feridas no hospital al-Hindi, um número de vítimas bem acima do oficial.

A responsabilidade destes ataques tem sido imputada aos nacionalistas hindus do Partido do Povo Indiano (BJP), do primeiro-ministro Narendra Modi. O chefe de Executivo indiano cultiva uma imagem de líder tranquilo, silencioso e afável, mas faz-se rodear por confessos islamofóbicos, como Yogi Adityanath, chefe do Executivo do BJP em Uttar Pradesh. É o estado mais populoso do país, de onde terão vindos muitos dos supremacistas hindus responsáveis pelos motins, armados com machetes e bastões. "Vimos camiões cheios daqueles desordeiros vindos da fronteira com Uttar Pradesh, foram pessoas de fora que vieram e incitarem à violência", contou um residente ao Guardian.