António Costa parece adepto da unicidade sindical


Ao desconsiderar a UGT e valorizar a CGTP o mais que pode, António Costa cola-se totalmente ao PCP, num momento em que se afasta do Bloco.


1. A quarentena de desprezo que António Costa impôs à UGT, ignorando o seu líder, Carlos Silva, que não recebe, foi um acelerador para a Intersindical, que é hoje, mais do que nunca, uma correia de transmissão do PCP e dos seus propósitos políticos.

Na prática, o sindicalismo do socialismo democrático e da social-democracia desapareceu. Para isso também concorreu o desprezo de António Costa relativamente à UGT. O atual líder do PS contribuiu assim para estabelecer uma realidade próxima da que Álvaro Cunhal queria impor pela força e que Mário Soares e Salgado Zenha rejeitaram corajosamente nos tempos do PREC, num combate que exigiu coragem política e até física.

Estávamos nos anos 70 do século passado quando aqueles dirigentes e gente do PSD se opuseram nas ruas à unicidade sindical que o PCP queria impor. Hoje, em 2020, chegamos à conclusão de que, tirando episódios como os dos motoristas de matérias perigosas e dos estivadores, todo o sindicalismo reivindicativo e com poder está nas mãos da CGTP, transformada na Intersindical sonhada para os amanhãs que cantam.

Ao abandonar a liderança da CGTP-IN, Arménio Carlos não podia ter sido mais claro quanto à natureza daquela organização ao dizer que “desenvolvemos uma luta dura e prolongada que acabou por ser determinante para esvaziar a base eleitoral do governo PSD/CDS”. Ninguém duvidava disso. Nem sequer é ilegítimo. Mas a verdade é que se trata de uma afirmação que identifica a CGTP como um instrumento político de conquista do poder para uma ideologia que, por respeito que mereça, não agrega nem dez por cento dos eleitores.

É tal a gratidão e o carinho que António Costa nutre pela Intersindical que propôs ao Presidente Marcelo que condecore Arménio Carlos no momento em que este deixa a liderança da central, substituído por Isabel Camarinha, que ficou desde já celebre por nunca ter trabalhado noutro sítio a não ser num sindicato. Não deixava de ser bem visto era o Presidente da República condecorar em simultâneo com Arménio Carlos o líder da UGT, Carlos Silva, que foi destratado por Costa, cuja estratégia global passa por uma manifesta aproximação ao PCP e um distanciamento cada vez maior do Bloco de Esquerda, até porque este não tem expressão sindical e económica. Tudo no Bloco é política pura e eleitoralismo.

A Intersindical é uma força no Estado ou em algumas empresas que este controla. Aí sim, põe e dispõe ao sabor dos interesses do PCP. No setor privado não tem força nem há sindicalismo, o que é péssimo para os trabalhadores, cujas defesas nunca estiveram tão baixas como hoje. Estranhamente, verificamos hoje que um Governo socialista acaba por nutrir mais simpatia pelo seu adversário de sempre do que pela central sindical que saiu de si e de uma luta histórica e corajosa.

Sabe-se que António Costa não esquece quem dele divergiu, o que explica em parte o desprezo dado a Carlos Silva, um ex-segurista do PS que nunca renegou essa condição. Apesar de tudo, há que reconhecer que essa explicação não é suficiente. Há aqui uma troca de apoios e acordos tácitos que têm permitido ao Governo sobreviver politicamente, negociando sempre com tudo e com todos e, obviamente, com o PCP e a Intersindical no campo laboral e da paz social, e com o Bloco nas questões fraturantes, como terá sido o caso com a eutanásia, que foi agendada exatamente a seguir à viabilização por este partido do Orçamento do Estado. E em política há muito quem mantenha a ideia de que o que parece é.

 

2. É interessante acompanhar as posições de alguns comentadores políticos e olhar para os seus antecedentes. Um caso é Jorge Coelho, que recentemente qualificou de palhaçada a decisão do Parlamento de mandar estudar novamente o futuro traçado do metro de Lisboa. Por razão que possa ter, é conveniente ter algum cuidado na qualificação das coisas, sobretudo quando ela vem de alguém que transitou em pouco tempo de ministro com a responsabilidade das obras públicas para líder executivo da Mota-Engil. Isto para além de ter presidido, a certa altura, à comissão de vencimentos do Banco Montepio e da respetiva associação mutualista, onde validou pantagruélicos ordenados a quem deixou as instituições de rastos. Nem de propósito, soube-se nos últimos dias que Tomás Correia reivindica um aumento na sua pensão do Montepio que se eleva a uns singelos 18 mil euros/mês, enquanto associados e funcionários viram regalias cortadas. Notável!

 

3. A SIBS é responsável por uma série de áreas na nossa economia, como gestão de pagamentos, entre os quais as caixas multibanco. Aparentemente, funciona bem, mas quando empanca é em grande. Leva meses para responder a clientes quando estes têm problemas, até porque se relaciona diretamente com os bancos e estes ocupam-se fundamentalmente de explorar os depositantes com comissões chorudas. Num caso concreto de uma utilização abusiva de um cartão por contacto direto (não solicitado), é possível a SIBS levar meses a mexer-se, se é que o faz. No seu site, a empresa tem o desplante de escrever que “existimos para tornar mais simples o que foi complicado”. Talvez aquele método antigo de atender o telefone e falar diretamente com as pessoas fosse melhor do que certas modernices.

 

Escreve à quarta-feira