Muito estranhamente, sobretudo para um clube que reclamava ter muros de betão, absolutamente calafetado perante os ataques externos, bastaram três resultados negativos para deixar a casa do dragão em pé de guerra, reduzida ao ridículo de um zoológico de pacotilha que até põe o patusco do presidente a dizer que anda à caça de bois e de ratos e papagaios, numa versão muito bisonha do velho Richard Attenborough. Vendo o Benfica fugir a sete pés, isto é, a sete pontos, Sérgio Conceição sentiu-se posto em causa, tratou de falar de divisões dentro do FC Porto e foi um salsifré, com muitas comadres a virem à superfície da sua habitual pusilanimidade e a botarem discurso em tudo o que é jornal, rádio ou televisão.
Por isso, a deslocação a Setúbal veio a calhar que nem ginjas neste momento conturbado. Toda a gente sabe que o Vitória de Setúbal é, por assim dizer, o melhor cliente dos senhores das Antas. Soma décadas a fio a perder com os portistas, e perder não chega para sublinhar a formidável superioridade dos nortenhos em relação aos seus infelizes adversários, continuamente espancados – a coisa chega ao ponto de, nesta época, os sadinos terem defrontado o dragão por três vezes, duas para o campeonato e uma para a Taça de Portugal, e poderem orgulhar-se de apresentar contas mais certinhas do que as de um merceeiro da Praça do Quebedo: três derrotas, zero golos marcados, 12 sofridos: 0-4, 0-4, 0-4. Jogasse o FC Porto todos os fins de semana contra o Vitória e terminaria um campeonato só com triunfos, se é que a laracha é permitida.
Acima das considerações competitivas, neste caso mais não competitivas, a vitória dos apaniguados de Sérgio Conceição deu para ganhar fôlego para o clássico do próximo sábado, quando o Benfica visitar as Antas. Um triunfo nesse jogo dará aos nortenhos a possibilidade de ficarem apenas a quatro pontos da liderança à 20.a jornada. E aí que se levante o primeiro atrevido a gritar de peito feito que o campeonato está arrumado.
Tremeliques Vinha a águia a voar tranquilamente sobre os tropeções do dragão quando, na sexta-feira, meteu os pés pelas mãos de uma forma preocupante para os seus adeptos. Na Luz, contra aquele clube anteriormente conhecido como Belenenses, agora treinado por um espertalhão chamado Armando Teixeira, dito Petit, que mostra cada vez mais vivacidade de raposa na hora de equilibrar encontros que parecem, à primeira vista, impossíveis de nivelar, o Benfica viu-se e desejou-se para ganhar por 3-2, mesmo depois de ter tido as vantagens satisfatórias de 2-0 e de 3-1. Terão os portistas visto com muito bons olhos as dificuldades defensivas provocadas aos seus únicos concorrentes pelo título de campeão pelos azuis que já não são de Belém. Tanto buraco aberto pela velocidade de gente como Varela ou Licá, nenhuns meninos, há que dizê-lo, mostrou fragilidades que poderão ser fatais no jogo que tanto pode decidir a luta pelo primeiro lugar como atirá-la para um saco de gatos.
Mete-se, entretanto, a Taça de Portugal. Já amanhã, com o Benfica-Famalicão (19h15) e com o Académico de Viseu-FC Porto (20h45). Vamos e venhamos: não é de acreditar que Bruno Lage e Conceição decidam apostar todos os trunfos em jogos que só ficarão definidos na segunda mão, a 11 e 12 deste mês. O horizonte é demasiado visível: 20h30 de dia 12. É aí que tudo se decidirá!
As vertigens do leão Regressou o Sporting a Braga depois da eliminação na meia-final da Taça da Liga e, agora, já sem a joia mais brilhante dos seus anéis, Bruno Fernandes. Terceiro lugar em disputa, já que os leões entraram para a 19.a jornada com apenas mais dois pontos do que os minhotos, algo que parece querer reduzir a ambição de Silas de atingir o segundo posto a uma mera declaração de intenções. Tinha escrito aqui, nestas vossas páginas, que só sofrendo de vertigens é que o Sporting olharia mais para cima do que para baixo. As ambições são mais do que legítimas e nunca seria eu a pô-las em causa. O problema é que por cima das ambições instala-se a realidade e não é fácil despegá-la do seu poleiro. Este Sporting é, seguramente, um dos mais frágeis da última década, para não ir mais além, e este Braga é como que um seu espelho, o mais forte dos que há muito não se viam. Por isso, que mais dizer? O tempo recolocou ambas as equipas nos lugares que são delas na tabela que define a realidade regular. Ou seja, está tudo bem.