O debate sobre a devolução de património a ex-colónias tem feito correr tinta e divide os que a veem como medida simbólica de reparação, os que rejeitam o revisionismo da História e os que questionam até que ponto é aplicável, mas André Ventura achou ontem que o seu contributo sobre o assunto que agora vai ser discutido em Portugal ficava bem resumido com um ataque a Joacine Katar Moreira, a deputada do Livre que fez chegar a proposta ao Parlamento.
“Eu proponho que a própria deputada Joacine seja devolvida ao seu país de origem. Seria muito mais tranquilo para todos… inclusivamente para o seu partido! Mas sobretudo para Portugal!”, escreveu o líder do Chega no Facebook, onde sabia que ia ter quem concordasse com ele e quem não concordasse e, mais grave, que seria rastilho para comentários de ódio, como depressa surgiram, sem que o deputado mudasse uma linha no que escreveu como reação a uma notícia sobre a iniciativa do Livre.
Antes, já o nome de Joacine tinha sido invocado pelo novo líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, no que parece ter-se tornado a bengala fácil da “nova” direita para expiar fantasmas do partido. Se é racismo ou sexismo o que alimenta a obsessão por Joacine no debate político, isso são outros quinhentos, mas é rasteiro e o discurso soa oco. As alternativas são saudáveis em democracia, mas a política do sound bite, que continua a ganhar púlpito quando, supostamente, devia caminhar para a maturidade, não contribui em nada para a discussão sobre o país e a sociedade que queremos. E no caso de Ventura, se os “vergonhas” na AR mereceram censura e foi questionável a intervenção de Ferro Rodrigues, agora pisou a linha da decência – não teceu um único argumento contra a iniciativa do Livre, apenas um ataque pessoal gratuito. Na volta, o Livre reagiu coeso e talvez ainda se reencontre na defesa de caráter de Joacine, mas não se coibiu de a expor nas últimas semanas. O filme deverá terminar esta quinta-feira, mas ninguém sai bem na fotografia.