Insegurança social e não só


A pegada deixada pelo ministro Vieira da Silva é altamente negativa em muitos aspetos, como se verifica por notícias praticamente diárias que vamos tendo.


1. São raríssimas as semanas em que não haja notícias sobre a destruidora pegada deixada por Vieira da Silva na política, nos muitos governos onde pontificou (como nos de Sócrates) e nomeadamente no anterior, contribuindo para o desastre da falência nacional. À volta de Vieira da Silva há um mar de casos e problemas. Ele é o caos no Montepio, que tutelava. Ele são atrasos descomunais e dramáticos nos pagamentos de pensões, colocando na miséria gente à espera da reforma para que descontou. Ele são ruinosos negócios feitos com o dinheiro da Segurança Social, como o caso que o Tribunal de Contas denunciou há dias, causando grande alarde comunicacional, o qual, obviamente, não irá dar em nada judicialmente.

O caso tem a ver com a venda de património da Segurança Social subavaliado à Câmara de Lisboa, sabe-se lá para que estranha estratégia. É verdade que a área social é complexa, mas é inaceitável a bandalheira em que as coisas caíram e se mantêm. São lamentáveis situações como levar anos até se entregar uma cadeira de rodas, uma cama articulada ou meses até pagarem as baixas a pessoas que estão efetivamente doentes, já para não falar da escandalosa situação das juntas médicas que mereciam uma análise judicial e científica, onde alguns são martirizados por médicos que se sujeitam a mais não ser do que agentes da burocracia.

Mas, abstraindo de outras matérias, há uma coisa que tem de ficar clara. O Instituto de Gestão da Segurança Social não existe para fazer caridade diretamente ou apoiar obras sociais e propagandísticas do Governo ou da Câmara de Lisboa. Existe, sim, para gerir, valorizar os descontos e garantir as pensões no futuro. Existe, portanto, para ganhar dinheiro. Veja-se que neste caso o próprio ex-ministro do PS, Paulo Pedroso, a referência máxima do PS na Segurança Social, comentou negativamente as opções tomadas e anunciou que se desligou do seu partido.

Vieira da Silva foi uma espécie de catástrofe natural, destruidora de alicerces materiais e, sobretudo, de cidadãos traumatizados que, ingenuamente, acreditaram ir ser amparados na hora da desgraça quando apareciam altas figuras do Estado a oferecer préstimos que nunca chegaram. É triste. E o pior é que ficamos com a sensação de que nunca ninguém será castigado pelos desvios, pela incompetência, pelas falsas promessas, lágrimas de crocodilo, para já não falar do dinheiro mal gasto, das obras mal feitas e até de desvios.

2. Denunciada neste espaço anos a fio sem que ao nível do Estado, das autoridades reguladoras, das tutelas ou dos partidos políticos, a situação e as manobras no Montepio (tutelado também por Vieira da Silva) acabaram finalmente por obrigar as autoridades judiciais a mexerem-se, desencadeando uma megaoperação que, provavelmente, vai levar anos e não dar em nada. Mais valia ter prevenido do que remediar. É assim no Montepio e foi assim no BES, no BPP, no BANIF, na Caixa Faialense e também pode suceder no Eurobic, onde pontifica o inenarrável Teixeira dos Santos, braço direito financeiro de Sócrates. Hoje, os que escreveram, denunciaram e contestaram diretamente o que se passava no Montepio têm legitimidade para falar do assunto. E os que se calaram não têm. Tanto ao nível dos reguladores como da política. Portugal tem aspetos que envergonham. Um deles é ver que quem cai do cavalo do poder é perseguido, mas quando o monta é bajulado. Foi assim com Salgado. Foi assim com Tomás Correia. Foi assim também com Angola e os seus dinheiros. O Luanda Leaks que rebentou no fim de semana é a maior não notícia de sempre. Isto porque ninguém nunca duvidou da forma manipulada como Isabel dos Santos se tornou na mulher mais rica de África. Toda a gente em Angola, em Portugal e em todo o mundo sabia que foi pela proteção do poder do seu pai, o qual criou muitos outros multimilionários entre os seus amigos e até gente ligada à oposição angolana. Isabel dos Santos vai agora viver um inferno mediático no conforto do seu regaço de muitas casas e muitos milhares de milhões, embora protegida pela sua residência no Dubai e nacionalidade russa. Há, porém, gente em Angola com tanto ou mais dinheiro do que ela. Simplesmente não está sob a mira da justiça local porque fez acordos de repatriamento de capitais, devolvendo um pequeno quinhão do muito que sacou. E assim ninguém perdeu a face. Isabel dos Santos recusou colaborar, quis afrontar e não ganhou nada com isso. Quanto ao seu pai, está, por hora, coberto pela imunidade que negociou para si próprio.

3. Depois de uma disputada corrida interna, o PSD reconduziu Rui Rio na liderança. Dentro de dias vai seguir-se o congresso em que se irão eleger os restantes órgãos do principal partido da oposição e único que objetivamente tem condições de ser uma real alternativa ao PS, à geringonça adormecida e a António Costa. Em termos de calendário há, para além de uma oposição diária e de uma rigorosa fiscalização da ação do executivo, que preparar as eleições autárquicas, as regionais nos Açores e também as presidenciais que dizem muito aos sociais democratas que não esquecem que o chefe de Estado foi fundador do PSD. Em todo este percurso, a procura de uma estabilidade e pacificação interna é um fator essencial para a concretização de um regresso à governação nacional, esperando-se que ela não ocorra nas condições traumatizantes e de falência do país que se verificaram da última vez.

 

Escreve à quarta-feira


Insegurança social e não só


A pegada deixada pelo ministro Vieira da Silva é altamente negativa em muitos aspetos, como se verifica por notícias praticamente diárias que vamos tendo.


1. São raríssimas as semanas em que não haja notícias sobre a destruidora pegada deixada por Vieira da Silva na política, nos muitos governos onde pontificou (como nos de Sócrates) e nomeadamente no anterior, contribuindo para o desastre da falência nacional. À volta de Vieira da Silva há um mar de casos e problemas. Ele é o caos no Montepio, que tutelava. Ele são atrasos descomunais e dramáticos nos pagamentos de pensões, colocando na miséria gente à espera da reforma para que descontou. Ele são ruinosos negócios feitos com o dinheiro da Segurança Social, como o caso que o Tribunal de Contas denunciou há dias, causando grande alarde comunicacional, o qual, obviamente, não irá dar em nada judicialmente.

O caso tem a ver com a venda de património da Segurança Social subavaliado à Câmara de Lisboa, sabe-se lá para que estranha estratégia. É verdade que a área social é complexa, mas é inaceitável a bandalheira em que as coisas caíram e se mantêm. São lamentáveis situações como levar anos até se entregar uma cadeira de rodas, uma cama articulada ou meses até pagarem as baixas a pessoas que estão efetivamente doentes, já para não falar da escandalosa situação das juntas médicas que mereciam uma análise judicial e científica, onde alguns são martirizados por médicos que se sujeitam a mais não ser do que agentes da burocracia.

Mas, abstraindo de outras matérias, há uma coisa que tem de ficar clara. O Instituto de Gestão da Segurança Social não existe para fazer caridade diretamente ou apoiar obras sociais e propagandísticas do Governo ou da Câmara de Lisboa. Existe, sim, para gerir, valorizar os descontos e garantir as pensões no futuro. Existe, portanto, para ganhar dinheiro. Veja-se que neste caso o próprio ex-ministro do PS, Paulo Pedroso, a referência máxima do PS na Segurança Social, comentou negativamente as opções tomadas e anunciou que se desligou do seu partido.

Vieira da Silva foi uma espécie de catástrofe natural, destruidora de alicerces materiais e, sobretudo, de cidadãos traumatizados que, ingenuamente, acreditaram ir ser amparados na hora da desgraça quando apareciam altas figuras do Estado a oferecer préstimos que nunca chegaram. É triste. E o pior é que ficamos com a sensação de que nunca ninguém será castigado pelos desvios, pela incompetência, pelas falsas promessas, lágrimas de crocodilo, para já não falar do dinheiro mal gasto, das obras mal feitas e até de desvios.

2. Denunciada neste espaço anos a fio sem que ao nível do Estado, das autoridades reguladoras, das tutelas ou dos partidos políticos, a situação e as manobras no Montepio (tutelado também por Vieira da Silva) acabaram finalmente por obrigar as autoridades judiciais a mexerem-se, desencadeando uma megaoperação que, provavelmente, vai levar anos e não dar em nada. Mais valia ter prevenido do que remediar. É assim no Montepio e foi assim no BES, no BPP, no BANIF, na Caixa Faialense e também pode suceder no Eurobic, onde pontifica o inenarrável Teixeira dos Santos, braço direito financeiro de Sócrates. Hoje, os que escreveram, denunciaram e contestaram diretamente o que se passava no Montepio têm legitimidade para falar do assunto. E os que se calaram não têm. Tanto ao nível dos reguladores como da política. Portugal tem aspetos que envergonham. Um deles é ver que quem cai do cavalo do poder é perseguido, mas quando o monta é bajulado. Foi assim com Salgado. Foi assim com Tomás Correia. Foi assim também com Angola e os seus dinheiros. O Luanda Leaks que rebentou no fim de semana é a maior não notícia de sempre. Isto porque ninguém nunca duvidou da forma manipulada como Isabel dos Santos se tornou na mulher mais rica de África. Toda a gente em Angola, em Portugal e em todo o mundo sabia que foi pela proteção do poder do seu pai, o qual criou muitos outros multimilionários entre os seus amigos e até gente ligada à oposição angolana. Isabel dos Santos vai agora viver um inferno mediático no conforto do seu regaço de muitas casas e muitos milhares de milhões, embora protegida pela sua residência no Dubai e nacionalidade russa. Há, porém, gente em Angola com tanto ou mais dinheiro do que ela. Simplesmente não está sob a mira da justiça local porque fez acordos de repatriamento de capitais, devolvendo um pequeno quinhão do muito que sacou. E assim ninguém perdeu a face. Isabel dos Santos recusou colaborar, quis afrontar e não ganhou nada com isso. Quanto ao seu pai, está, por hora, coberto pela imunidade que negociou para si próprio.

3. Depois de uma disputada corrida interna, o PSD reconduziu Rui Rio na liderança. Dentro de dias vai seguir-se o congresso em que se irão eleger os restantes órgãos do principal partido da oposição e único que objetivamente tem condições de ser uma real alternativa ao PS, à geringonça adormecida e a António Costa. Em termos de calendário há, para além de uma oposição diária e de uma rigorosa fiscalização da ação do executivo, que preparar as eleições autárquicas, as regionais nos Açores e também as presidenciais que dizem muito aos sociais democratas que não esquecem que o chefe de Estado foi fundador do PSD. Em todo este percurso, a procura de uma estabilidade e pacificação interna é um fator essencial para a concretização de um regresso à governação nacional, esperando-se que ela não ocorra nas condições traumatizantes e de falência do país que se verificaram da última vez.

 

Escreve à quarta-feira