O “surto viral”


COMO O FUTEBOL é uma coisa relativamente básica, os jornalistas desportivos gostam de complicar a linguagem, para lhe dar um cunho “sério”. Assim, deixaram de dizer “penálti” para dizer “pontapé de penálti”. O que se ganhou? Nada. E os “fiscais de linha” passaram a ser “árbitros auxiliares”, e criou-se o quarto árbitro, e depois o…


COMO O FUTEBOL é uma coisa relativamente básica, os jornalistas desportivos gostam de complicar a linguagem, para lhe dar um cunho “sério”. Assim, deixaram de dizer “penálti” para dizer “pontapé de penálti”. O que se ganhou? Nada. E os “fiscais de linha” passaram a ser “árbitros auxiliares”, e criou-se o quarto árbitro, e depois o VAR, e nalguns jogos ainda há o árbitro de baliza, e por aí fora.

Enfim, o futebol, que era uma coisa simples, complicou-se. E hão de complicá-lo cada vez mais.

NA SEMANA QUE PASSOU, o grande caso foi uma epidemia de gripe no Vitória de Setúbal, a que os comentadores chamaram sempre, pomposamente, “surto viral”.

Uma semana antes do jogo com o Sporting, já o Setúbal anunciava que tinha 11 jogadores com gripe e ia pedir o adiamento. Ora, as coisas não podem ser feitas assim. O Vitória deveria ter primeiro falado com o Sporting e com a Liga, em privado, antes de falar em público.

As coisas começavam, portanto, mal – e a tentação do Sporting seria não aceitar.

Depois houve uma reunião entre os dois clubes, com a Liga a intermediar, em que o Sporting exigiu uma junta médica. O Setúbal recusou, dizendo que isso era desconfiar da sua palavra. Ora, o pedido era normal. O problema é que alguns jogadores teriam estado com gripe mas já não estavam, e a junta médica declará-los-ia aptos… Mas estariam em sub-rendimento e não teriam treinado convenientemente.

CLARO QUE TODA A GENTE se pôs ao lado do Vitória. Os sportinguistas eram uns oportunistas que queriam ganhar “os três pontitos” batendo em mortos.

Mas eu, que não tinha a ver com o caso, pergunto: se isto acontecesse numa prova europeia, a UEFA aceitaria o adiamento? O facto de vários jogadores terem gripe seria um argumento aceitável para cancelar um jogo?

E quantos jogadores estavam, ao certo, com gripe em simultâneo? E destes, quantos titulares habituais? Cinco, seis, sete? Ora se, no futuro, uma equipa estivesse com três jogadores com gripe, também poderia pedir o adiamento de um jogo? Não? Então que número de jogadores doentes seria necessário?

COMO VEMOS, a questão parece fácil à primeira vista mas, pensando melhor, criava um precedente difícil de “gerir” no futuro.

Quando o Setúbal viu que não havia boa vontade do Sporting, deveria ter-se calado. A verdade é que o Sporting não tinha obrigação nenhuma de aceitar o adiamento. Mas não. O Vitória veio barafustar para a praça pública. E depois, em vez de dizer que ia mesmo assim apresentar uma equipa digna – até para motivar os jogadores disponíveis -, veio desmerecer os seus jogadores, dizendo que era uma “equipa morta”.

E no dia do jogo ainda terá havido uma altercação pouco edificante entre os presidentes dos dois clubes, que levou ao corte de relações.

OS JOGADORES DO VITÓRIA é que deram em campo uma lição aos dirigentes. Depois de estarem a perder 2-0, fizeram das fraquezas forças, submeteram o adversário e só não empataram por manifesta infelicidade. Mostraram-se bem vivos, ao contrário do que o seu próprio presidente dissera.

O “surto viral”


COMO O FUTEBOL é uma coisa relativamente básica, os jornalistas desportivos gostam de complicar a linguagem, para lhe dar um cunho “sério”. Assim, deixaram de dizer “penálti” para dizer “pontapé de penálti”. O que se ganhou? Nada. E os “fiscais de linha” passaram a ser “árbitros auxiliares”, e criou-se o quarto árbitro, e depois o…


COMO O FUTEBOL é uma coisa relativamente básica, os jornalistas desportivos gostam de complicar a linguagem, para lhe dar um cunho “sério”. Assim, deixaram de dizer “penálti” para dizer “pontapé de penálti”. O que se ganhou? Nada. E os “fiscais de linha” passaram a ser “árbitros auxiliares”, e criou-se o quarto árbitro, e depois o VAR, e nalguns jogos ainda há o árbitro de baliza, e por aí fora.

Enfim, o futebol, que era uma coisa simples, complicou-se. E hão de complicá-lo cada vez mais.

NA SEMANA QUE PASSOU, o grande caso foi uma epidemia de gripe no Vitória de Setúbal, a que os comentadores chamaram sempre, pomposamente, “surto viral”.

Uma semana antes do jogo com o Sporting, já o Setúbal anunciava que tinha 11 jogadores com gripe e ia pedir o adiamento. Ora, as coisas não podem ser feitas assim. O Vitória deveria ter primeiro falado com o Sporting e com a Liga, em privado, antes de falar em público.

As coisas começavam, portanto, mal – e a tentação do Sporting seria não aceitar.

Depois houve uma reunião entre os dois clubes, com a Liga a intermediar, em que o Sporting exigiu uma junta médica. O Setúbal recusou, dizendo que isso era desconfiar da sua palavra. Ora, o pedido era normal. O problema é que alguns jogadores teriam estado com gripe mas já não estavam, e a junta médica declará-los-ia aptos… Mas estariam em sub-rendimento e não teriam treinado convenientemente.

CLARO QUE TODA A GENTE se pôs ao lado do Vitória. Os sportinguistas eram uns oportunistas que queriam ganhar “os três pontitos” batendo em mortos.

Mas eu, que não tinha a ver com o caso, pergunto: se isto acontecesse numa prova europeia, a UEFA aceitaria o adiamento? O facto de vários jogadores terem gripe seria um argumento aceitável para cancelar um jogo?

E quantos jogadores estavam, ao certo, com gripe em simultâneo? E destes, quantos titulares habituais? Cinco, seis, sete? Ora se, no futuro, uma equipa estivesse com três jogadores com gripe, também poderia pedir o adiamento de um jogo? Não? Então que número de jogadores doentes seria necessário?

COMO VEMOS, a questão parece fácil à primeira vista mas, pensando melhor, criava um precedente difícil de “gerir” no futuro.

Quando o Setúbal viu que não havia boa vontade do Sporting, deveria ter-se calado. A verdade é que o Sporting não tinha obrigação nenhuma de aceitar o adiamento. Mas não. O Vitória veio barafustar para a praça pública. E depois, em vez de dizer que ia mesmo assim apresentar uma equipa digna – até para motivar os jogadores disponíveis -, veio desmerecer os seus jogadores, dizendo que era uma “equipa morta”.

E no dia do jogo ainda terá havido uma altercação pouco edificante entre os presidentes dos dois clubes, que levou ao corte de relações.

OS JOGADORES DO VITÓRIA é que deram em campo uma lição aos dirigentes. Depois de estarem a perder 2-0, fizeram das fraquezas forças, submeteram o adversário e só não empataram por manifesta infelicidade. Mostraram-se bem vivos, ao contrário do que o seu próprio presidente dissera.