Foi um congresso cheio de moções, gritos e acusações. No final, ficou tudo como estava: Joacine Katar Moreira continua a ser deputada do Livre e a representar o partido na Assembleia da República. Mas este cenário deve mudar em breve.
Ontem, no último dia do IX congresso do partido, os militantes do Livre elegeram a nova direção do partido, com 95 votos a favor e 15 brancos. Entre os 15 elementos eleitos, sete tramitam da anterior direção. Um deles é Carlos Teixeira, o homem que substituirá Joacine caso esta abdique do lugar como deputada, uma posição que a própria que garantiu que não irá tomar. Quanto ao conselho de jurisdição, apenas 66 dos 109 votos contabilizados eram a favor da única lista apresentada, da qual faz parte Ricardo Sá Fernandes. Para a Assembleia, que é composta por 50 membros do partido, houve 105 válidos de um total de 109.
Ora, dias antes do congresso, a Assembleia do partido emitiu uma nota na qual manifestava vontade de retirar a confiança política a Joacine. A resolução foi votada e venceu a proposta B por dois votos, o que resulta no adiamento da decisão. Isto significa que os órgãos eleitos ficam responsáveis por decidir o futuro da deputada única do partido. O i sabe que a decisão deverá ser tomada nas próximas duas semanas.
No sábado, durante o discurso, Joacine exaltou-se e acusou a assembleia de assumir uma posição ilegal. De “consciência tranquilíssima”, a deputada defendeu os seus últimos “dois meses e meio de ação”. “Cabe-me informar imediatamente que este relatório fere a minha honra, fere a minha dignidade, está cheio de inverdades e de algumas mentiras e manipulação”, afirmou Joacine. A deputada foi mais longe e deu a entender que o partido tinha aproveitado a sua imagem para conseguir alcançar mais votos e, consequentemente, arrecadar mais dinheiro através das subvenções do Estado: “Elegeram uma mulher negra que gagueja e que deu jeito para a subvenção”. A verdade é que, caso o partido retire a confiança política a Joacine, manterá a subvenção do Estado no valor de 165 mil euros (ver páginas 14 e 15), mas a deputada perderá regalia: segundo o Público, a subvenção que Joacine recebe para a atividade parlamentar, no valor de 117 845,8 euros, será reduzida para metade, mais precisamente 57 044,44 euros.
A verdade é que os novos órgãos deverão seguir a proposta da Assembleia e retirar a confiança política a Joacine: “A leitura dos resultados eleitorais demonstram que os congressistas quiseram a continuidade da linha que os órgãos tinham vindo a tomar. A direção teve mais de 85% dos votos e todas as pessoas que estiveram na anterior assembleia e se recandidataram foram eleitas. Houve uma escolha clara da continuidade da linha política”, disse ao i.
No final do congresso, Joacine disse estar “disponível” para fazer cedências e Rui Tavares, fundador do Livre, assegurou que a Assembleia saberá “escolher o melhor caminho”. Resta saber se este será feito ao lado da deputada ou longe das bancadas do Parlamento.