Marcelo Rebelo de Sousa, o único chefe de Estado da União Europeia a assistir à tomada de posse de Filipe Nyusi, chegou a Maputo na segunda-feira para uma visita de cinco dias e, logo no primeiro, deixou bem claro o quanto se sente à vontade em Maputo. E, mais uma vez, a população da terra onde passou parte da sua juventude, enquanto o pai foi governador-geral de Moçambique, voltou a acolher o Presidente português de braços abertos. Mergulho na praia, visita ao barbeiro e ao engraxador de sapatos, bem como visitas a outros espaços públicos como mercados, restaurantes e livrarias que frequentou noutros tempos, marcaram o primeiro dia de visita de Marcelo. Um dos locais visitados foi a Livraria Minerva&Continental, onde numa das paredes está exposto o registo fotográfico de um momento de confraternização entre Baltazar Rebelo de Sousa e o pintor moçambicano Malangatana. Neste espaço funcionou no passado o restaurante Continental, um local de eleição do último governador-geral de Moçambique. “A visita é especial porque esta é a minha segunda pátria, porque já cá não venho há muito tempo”, disse aos jornalistas.
Da Minerva&Continental, Marcelo Rebelo de Sousa saiu com livros de dois estreantes nas lides literárias, que fez questão de comprar: um dos livros foi escrito por um antigo deputado da Frelimo, Teodoro Waty, e o segundo é da autoria da deputada da Renamo Ivone Soares.
Ivone Soares, sobrinha do líder histórico da Renamo Afonso Dhlakama, falecido em 2018, recorreu mais tarde às redes sociais para manifestar o seu agrado: “Senhor Presidente de Portugal, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, muito obrigado por também ter comprado um exemplar do meu livro Salpicos de Águas e Sóis – Meu eu poético na Minerva&Continental. Honrou-me bastante”, escreveu.
Casos por resolver O chefe de Estado português foi o primeiro líder a ser recebido por Filipe Nyusi, numa série de encontros que o Presidente moçambicano ainda vai manter com chefes de Estado que hoje assistem em Maputo à sua investidura para um segundo mandato.
No encontro oficial que decorreu ontem no palácio presidencial, os chefes de Estado português e moçambicano passaram em revista o caso do homicídio de Inês Botas e o do desaparecimento de Américo Sebastião. A conversa entre os Presidentes serviu para avaliar o andamento dos dois processos na justiça, conforme disse o Presidente moçambicano.
Raptado em julho de 2016 em Nhamapadza, província de Sofala, no centro de Moçambique, Américo Sebastião é um empresário agrícola e madeireiro. Até hoje, não há suspeitos e desconhece-se ainda o paradeiro do empresário.
Já Inês Botas foi raptada e assassinada a 28 de dezembro de 2017, na zona da Beira, onde trabalhava ao serviço da empresa portuguesa Ferpinta. Poucos dias após o crime, as autoridades da província de Sofala decretaram a prisão preventiva de três suspeitos, mas o julgamento ainda não se realizou e um dos suspeitos já fugiu da prisão.
Sobre os dois casos, Marcelo Rebelo de Sousa disse à sua chegada a Maputo, na segunda-feira, que o “ Estado português tem não só contactos permanentes” com os familiares, “mas também apoio, porque, tanto num caso como noutro”, trata-se de “questões jurídicas”.
Investimento Português No encontro de ontem, Marcelo e Nyusi debruçaram-se igualmente sobre o investimento português em Moçambique. À saída da reunião, Marcelo defendeu uma nova abordagem do investimento português porque, mesmo sendo “veterano, pode rejuvenescer, encontrar novas pistas e formas de investir”.
Já o Presidente moçambicano sublinhou a importância do investimento português, que “não pode faltar neste novo ciclo” de exploração de gás natural.
Ontem, Marcelo visitou também a Escola Portuguesa de Maputo e ainda se reuniu com membros da comunidade portuguesa – estima-se que haja entre 23 mil a 25 mil portugueses em Moçambique.
Visita às vítimas do ciclone Idai Amanhã, Marcelo Rebelo de Sousa desloca-se à cidade da Beira, arrasada pelo ciclone Idai, para acompanhar o processo da sua reconstrução com diversos apoios, entre os quais de Portugal. Na sexta-feira, novamente em Maputo, o chefe de Estado português tem encontro marcado com a equipa da Cooperação Técnico-Militar.