Quando é que vamos parar de tentar racionalizar o irracional?


Este ano de 2020 que agora se inicia está a começar com o “pé esquerdo” no que diz respeito à paz mundial.


O assassinato do general Soleimani, ordenado pelo Presidente americano Donald Trump, é algo que ainda tem consequências imprevisíveis mas, em última análise, é claro e evidente que pode levar a uma guerra de larga e triste escala com o Irão.

Desde logo, e as manifestações públicas naquele lado do mundo têm sido audíveis e esclarecedoras, porque o general Qassim Soleimani não era uma “pessoa qualquer” no seu raio de atuação. Dizem os estudiosos e os mais entendidos nesta matéria que este comandante militar era uma exceção e, desde a Revolução Iraniana de 1979, poucos líderes iranianos alcançaram tamanha aprovação popular e militar como o general Soleimani.

De toda a panóplia de possíveis respostas ao ataque que existiu à embaixada americana em Bagdade, Donald Trump escolheu a mais extrema e delicada, em desrespeito para com a lei internacional e americana inclusive. Nestes dias, a ameaça do Presidente americano de iniciar um bombardeamento ao Património da Humanidade no Irão, como Persépolis que é Património Mundial da UNESCO ou as maravilhas de Isfahan que foi das maiores do mundo e tem a Praça de Naqsh-e Jahan, inscrita em 1979 na lista do Património da Humanidade pela UNESCO, é manifestamente irracional por parte de Trump.

É sabido que convenções internacionais proíbem que monumentos históricos sejam alvos militares, princípio que foi reafirmado inclusive pela resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2017 – aprovada por unanimidade – no contexto da destruição pelo Daesh do património histórico de Palmira, na Síria.

Mesmo que não se concretize a dita ameaça irracional, a ameaça de Trump põe em perigo o Património da Humanidade e dá clara legitimidade a uma triste tendência que na última década levou à destruição de monumentos históricos como a Grande Mesquita de Alepo, por exemplo.

Mas, a nível de tendência para a irracionalidade, há várias linhas de pensamento a se ter após mais esta atitude com consequências internacionais.

Esse impasse que hoje se vive aflitivamente, que no seu último episódio real fez o mundo assistir a mísseis iranianos lançados em direção às bases no Iraque, na noite de terça-feira, é tão real com tem sido difícil não imputar alguma falta de lógica às ações do presidente norte-americano.

É natural, assiste à racionalidade que temos enquanto seres humanos, a ânsia e a vontade de se impor ordem ao que vemos. Como seres racionais, queremos todos acreditar que os líderes americanos entendem a gravidade de uma possível guerra. Mas depois, lendo os tabloides americanos, que acompanham diariamente e ao milímetro a atuação da administração Trump, somos surpreendidos com as palavras de oficiais do Pentágono que dizem ter ficado surpresos com a decisão militar americana. O respeitado The Times escreve inclusive que a opção de um ataque foi abordada na expectativa de que o Presidente o rejeitaria por ser muito extremo… ora, não rejeitou nada. Ficam as conclusões, simples, para cada um.

Para quem acompanha, é real que existem palavras no sentido desta concretização em ataque ao Irão por parte do vice-presidente Mike Pence e mesmo do secretário de Estado Mike Pompeo há algum tempo. Mas, nestes últimos dias de confusão «teatral», com a divulgação de mensagens contraditórias e mesmo com mudanças de raciocínio, há variadas evidências de que esta missão «guerrilhenta» foi feita com pouco pensamento apesar de muitas palavras trocadas.

Estes episódios, sendo justo, são teoricamente imprudentes mas já não são chocantes. Não são chocantes porque após três anos de Trump a Presidente já é mais que tempo para se ir conhecendo a linha de acção de Donald J. Trump. Da mesma forma que se deve reconhecer as melhorias económicas do país, e o bom desempenho na criação de emprego acompanhado de uma sedimentada diminuição da taxa de desemprego, como o apoio às empresas e às famílias mas, de igual forma, deve-se reconhecer que a perto dos seus 1000 dias de Presidência, o cargo não mudou a personalidade nem aprimorou as suas capacidades.

Inclusive a meio de um processo de impeachment, que com este impasse deve atrasar julgamento de Trump, sente-se no ar a exclusiva vontade do Presidente em se auto-preservar no cargo. A pública afronta ao Congresso ou a recusa em libertar documentos da Casa Branca e membros do seu Governo para obedecer às deliberações do Senado são a prova das muitas palavras que reúnem consenso na exclusiva vontade egocêntrica do 45º Presidente dos Estados Unidos da América.

Em tempos, não muito longínquos, a ex-Candidata Hillary Clinton disse sobre o seu então adversário Donald Trump que este era "Temperamentalmente inadequado para ocupar um cargo que exige conhecimento, estabilidade e imensa responsabilidade" e que "um homem que você pode atrair com um tweet não é um homem em quem possamos confiar com armas nucleares".

Os dias de hoje podem não dar razão às palavras da antiga Secretária de Estado e Primeira-Dama americana. Mas, seguramente, fazem pelo menos como que cada um de nós deva pensar no que então disse.

De alguma forma, ainda estamos mundialmente a viver na fase do pensamento pré-Trump em que estas ilações eram apenas em virtude do receio de que alguma instabilidade pudesse surgir. Mas, em pleno 2020, já se devia aceitar que hoje não se discute “o que acontecerá com Trump a liderar os destinos Americanos” mas sim “Trump pode inclusive ser reeleito porque já é Presidente há três anos”. São coisas distintas. Pode-se dizer que o Presidente Trump não faz escolhas ponderadas. Claro. Pode-se dizer mas então deve-se trabalhar partindo dessa evidência e não a pensar que isso não acontece.

Factos são que Pence e Pompeo podem ter feito campanha por palavras a uma missão pró-ataque ao Irão, essas “medalhas” ninguém pode tirar a estes dois altos quadros americanos, mas não há evidências de que a Administração americana tenha estruturado este movimento militar embora tenham falado publicamente desse objetivo.

Quando o Irão retaliou na passada noite de terça-feira, o Presidente Trump não falou… embora, é claro, tenha usado o Twitter para escrever algumas frases em vários 140 caracteres.

A conclusão é racional e demonstra irracionalidade: Ninguém sabe o que o governo americano fará a seguir.

Com mais ou menos ponderação, o facto é que este Presidente pode ter começado uma guerra sem nenhum plano ou estratégia que se note para acabar com ela. Acima de tudo, sente-se que vivemos movimentos militares sem consideração pelas vidas que serão perdidas.

Felizmente, ao decidir não responder militarmente ao ataque iraniano, Trump acalmou o conflito no terreno e focou-se na negociação do acordo nuclear. Mas os especialistas avisam que o confronto ainda não acabou.

É assustador pensar nisso. Mas não podemos desviar o olhar.


Quando é que vamos parar de tentar racionalizar o irracional?


Este ano de 2020 que agora se inicia está a começar com o “pé esquerdo” no que diz respeito à paz mundial.


O assassinato do general Soleimani, ordenado pelo Presidente americano Donald Trump, é algo que ainda tem consequências imprevisíveis mas, em última análise, é claro e evidente que pode levar a uma guerra de larga e triste escala com o Irão.

Desde logo, e as manifestações públicas naquele lado do mundo têm sido audíveis e esclarecedoras, porque o general Qassim Soleimani não era uma “pessoa qualquer” no seu raio de atuação. Dizem os estudiosos e os mais entendidos nesta matéria que este comandante militar era uma exceção e, desde a Revolução Iraniana de 1979, poucos líderes iranianos alcançaram tamanha aprovação popular e militar como o general Soleimani.

De toda a panóplia de possíveis respostas ao ataque que existiu à embaixada americana em Bagdade, Donald Trump escolheu a mais extrema e delicada, em desrespeito para com a lei internacional e americana inclusive. Nestes dias, a ameaça do Presidente americano de iniciar um bombardeamento ao Património da Humanidade no Irão, como Persépolis que é Património Mundial da UNESCO ou as maravilhas de Isfahan que foi das maiores do mundo e tem a Praça de Naqsh-e Jahan, inscrita em 1979 na lista do Património da Humanidade pela UNESCO, é manifestamente irracional por parte de Trump.

É sabido que convenções internacionais proíbem que monumentos históricos sejam alvos militares, princípio que foi reafirmado inclusive pela resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2017 – aprovada por unanimidade – no contexto da destruição pelo Daesh do património histórico de Palmira, na Síria.

Mesmo que não se concretize a dita ameaça irracional, a ameaça de Trump põe em perigo o Património da Humanidade e dá clara legitimidade a uma triste tendência que na última década levou à destruição de monumentos históricos como a Grande Mesquita de Alepo, por exemplo.

Mas, a nível de tendência para a irracionalidade, há várias linhas de pensamento a se ter após mais esta atitude com consequências internacionais.

Esse impasse que hoje se vive aflitivamente, que no seu último episódio real fez o mundo assistir a mísseis iranianos lançados em direção às bases no Iraque, na noite de terça-feira, é tão real com tem sido difícil não imputar alguma falta de lógica às ações do presidente norte-americano.

É natural, assiste à racionalidade que temos enquanto seres humanos, a ânsia e a vontade de se impor ordem ao que vemos. Como seres racionais, queremos todos acreditar que os líderes americanos entendem a gravidade de uma possível guerra. Mas depois, lendo os tabloides americanos, que acompanham diariamente e ao milímetro a atuação da administração Trump, somos surpreendidos com as palavras de oficiais do Pentágono que dizem ter ficado surpresos com a decisão militar americana. O respeitado The Times escreve inclusive que a opção de um ataque foi abordada na expectativa de que o Presidente o rejeitaria por ser muito extremo… ora, não rejeitou nada. Ficam as conclusões, simples, para cada um.

Para quem acompanha, é real que existem palavras no sentido desta concretização em ataque ao Irão por parte do vice-presidente Mike Pence e mesmo do secretário de Estado Mike Pompeo há algum tempo. Mas, nestes últimos dias de confusão «teatral», com a divulgação de mensagens contraditórias e mesmo com mudanças de raciocínio, há variadas evidências de que esta missão «guerrilhenta» foi feita com pouco pensamento apesar de muitas palavras trocadas.

Estes episódios, sendo justo, são teoricamente imprudentes mas já não são chocantes. Não são chocantes porque após três anos de Trump a Presidente já é mais que tempo para se ir conhecendo a linha de acção de Donald J. Trump. Da mesma forma que se deve reconhecer as melhorias económicas do país, e o bom desempenho na criação de emprego acompanhado de uma sedimentada diminuição da taxa de desemprego, como o apoio às empresas e às famílias mas, de igual forma, deve-se reconhecer que a perto dos seus 1000 dias de Presidência, o cargo não mudou a personalidade nem aprimorou as suas capacidades.

Inclusive a meio de um processo de impeachment, que com este impasse deve atrasar julgamento de Trump, sente-se no ar a exclusiva vontade do Presidente em se auto-preservar no cargo. A pública afronta ao Congresso ou a recusa em libertar documentos da Casa Branca e membros do seu Governo para obedecer às deliberações do Senado são a prova das muitas palavras que reúnem consenso na exclusiva vontade egocêntrica do 45º Presidente dos Estados Unidos da América.

Em tempos, não muito longínquos, a ex-Candidata Hillary Clinton disse sobre o seu então adversário Donald Trump que este era "Temperamentalmente inadequado para ocupar um cargo que exige conhecimento, estabilidade e imensa responsabilidade" e que "um homem que você pode atrair com um tweet não é um homem em quem possamos confiar com armas nucleares".

Os dias de hoje podem não dar razão às palavras da antiga Secretária de Estado e Primeira-Dama americana. Mas, seguramente, fazem pelo menos como que cada um de nós deva pensar no que então disse.

De alguma forma, ainda estamos mundialmente a viver na fase do pensamento pré-Trump em que estas ilações eram apenas em virtude do receio de que alguma instabilidade pudesse surgir. Mas, em pleno 2020, já se devia aceitar que hoje não se discute “o que acontecerá com Trump a liderar os destinos Americanos” mas sim “Trump pode inclusive ser reeleito porque já é Presidente há três anos”. São coisas distintas. Pode-se dizer que o Presidente Trump não faz escolhas ponderadas. Claro. Pode-se dizer mas então deve-se trabalhar partindo dessa evidência e não a pensar que isso não acontece.

Factos são que Pence e Pompeo podem ter feito campanha por palavras a uma missão pró-ataque ao Irão, essas “medalhas” ninguém pode tirar a estes dois altos quadros americanos, mas não há evidências de que a Administração americana tenha estruturado este movimento militar embora tenham falado publicamente desse objetivo.

Quando o Irão retaliou na passada noite de terça-feira, o Presidente Trump não falou… embora, é claro, tenha usado o Twitter para escrever algumas frases em vários 140 caracteres.

A conclusão é racional e demonstra irracionalidade: Ninguém sabe o que o governo americano fará a seguir.

Com mais ou menos ponderação, o facto é que este Presidente pode ter começado uma guerra sem nenhum plano ou estratégia que se note para acabar com ela. Acima de tudo, sente-se que vivemos movimentos militares sem consideração pelas vidas que serão perdidas.

Felizmente, ao decidir não responder militarmente ao ataque iraniano, Trump acalmou o conflito no terreno e focou-se na negociação do acordo nuclear. Mas os especialistas avisam que o confronto ainda não acabou.

É assustador pensar nisso. Mas não podemos desviar o olhar.