Ao longo dos últimos anos, ouvimos – muitos de nós atónitos – PS, BE e PCP vangloriarem-se que tinham derrubado um muro, o tal erguido no tempo do PREC, e que, desse modo, se inaugurava uma era, era essa marcada pelo fim da austeridade e por um país livre de políticas obsoletas, inspiradas numa vertigem ultraliberal que desprotegia o cidadão e o colocava novamente servo das mais brutais e implacáveis forças de mercado. Uns diziam mais de uma coisa, outros doutra, mas, no fim de contas, esta foi a orientação afirmada. Ora, na campanha eleitoral, sem temor, sossegaram os portugueses de que era desprovido de sentido entregar-se a alguém as chaves do reino, a maioria absoluta. O primeiro-ministro, contrariado, ainda uma vez ou outra, em declarações subtis e engenhosas, tentou puxar por esse objetivo, mas não o vincou, sempre se conformou com a fórmula de estabilidade, um tal Governo sólido e de legislatura, firmado pelo punho de cada um dos protagonistas, para também ele perspetivar essa solução.
Venderam, vê-se hoje, gato por lebre. Tal como em 2015, já sabiam o que iria suceder. Que a solução que professaram já estava falida, pois só existe em época de expansão económica e o desmerecimento total da economia e dos compromissos – a realidade – chega sempre, vergada ao peso dos ciclos económicos.
A grande maioria parlamentar já se dissolveu. O BE, em fuga, com os cartazes que inundam as cidades a bradar a favor da salvação do SNS – após quatro anos de orçamentos aprovados – é o primeiro a saltar do barco, tentando fazer do outro, o PCP, refém de uma responsabilidade que os três assumiram.
A sensação de um Governo desgastado não me tinha nunca surgido após uma eleição. Não há, em sentido algum, ponta de Iluminismo, um programa, uma visão, mas um mero balançar inconsciente e uma vontade que se vai quebrar de sobreviver.
O que interessa é que Portugal está sem rumo, sem ímpeto reformista, sem tratar de temas essenciais, adiando-os, assente numa cobrança maior de impostos e na incapacidade cruel de prestar serviços públicos de qualidade. Em que o mérito vale menos, em que a vontade de querer fazer algo novo inexiste, esmorece, em que é até difícil perceber o que se passa.
Deputado do PSD