Portugal tem condições suficientes para poder ter uma maior presença em território chinês. Esta é uma das principais observações de Vasco Rocha Vieira, último governador português de Macau, em entrevista à Lusa, a propósito do 20.o aniversário da transferência da administração de Macau para a China, que será celebrado na próxima sexta-feira.
Apesar de admitir que, nos últimos tempos, Lisboa não tem tido “grande possibilidade de o fazer, por muitas razões”, o general considera que “seria bom” Portugal investir na China. E justifica: “Porque temos um bom entendimento, somos respeitados e, portanto, é uma questão de iniciativa e de capacidade das nossas empresas” para poderem avançar com o investimento, considera. “Temos hipótese de entrar via Macau ou sem ser via Macau. Pela experiência que tenho, sempre com parcerias chinesas, que é importante neste país como noutro qualquer”, acrescentou, uma vez que, no seu entender, “a partir de Macau, essas parcerias são fáceis. E a partir de Macau para dentro da China”.
Rocha Vieira recordou ainda que Portugal já tem posições em Pequim e Xangai. “Seja onde for, a presença portuguesa é entendida sempre com uma presença amiga”.
Para o último português de Macau, investimentos da China devem ser entendidos como investimentos do Estado chinês. “Grande parte do investimento chinês vem de empresas do Estado. O Estado tem o capital. E, portanto, o Estado chinês não faz as coisas por acaso. Tem objetivos”, explica. “O Estado chinês tem muitos objetivos, tem objetivos de aprender com os outros, de conseguir áreas fundamentais que lhe interessam para o seu desenvolvimento e para a sua presença no mundo em expansão, como seja o caso da energia, ou dos seguros, ou da saúde, onde estão, ou da própria banca. Tem esses objetivos”, explicou ainda Rocha Vieira.
Na entrevista à Lusa, o general, que agora faz parte do conselho geral e de supervisão da EDP, defende ainda que “em qualquer dos casos (…) se deve acautelar o volume, as áreas desse investimento, e fazê-lo de forma que haja contrapartidas e que os nossos interesses se conjuguem com os interesses dos chineses”.