A escalada da guerra comercial é apontada como um dos principais riscos para o crescimento e o comércio mundial no próximo ano. O alerta é dado pelo último Economic Outlook da Crédito y Caución. “Em breve, por razões de segurança nacional, a administração norte-americana deverá decidir quanto à imposição de tarifas às importações de automóveis e componentes, um risco importante que ameaça abrir uma segunda frente contra a União Europeia, o México e os países asiáticos que apresentam um superávite em conta-corrente com os Estados Unidos. A medida provocaria represálias dos parceiros comerciais, gerando a segunda grande escalada na guerra comercial no espaço de poucos meses”, revela o documento.
O aumento da incerteza, que influencia fortemente o comportamento económico das empresas e das famílias, constitui o segundo grande risco para o crescimento em 2020. “Esta incerteza, entendida como a dificuldade em prever a evolução da economia, afetará outros acontecimentos, como o Brexit ou a crise institucional na Itália”.
E as dúvidas não ficam por aqui. As incertezas em torno do crescimento do produto interno bruto (PIB) da China representam um outro fator desestabilizador da economia mundial. “A guerra comercial atingiu o país asiático num mau momento. A China lida com os elevados níveis de endividamento das empresas estatais e das administrações locais e com uma desaceleração controlada, enquanto caminha para uma economia baseada em mais consumo e menos investimento”, continua a Crédito y Caución, lembrando que, até à data, as “autoridades chinesas fizeram frente à guerra comercial usando medidas de política monetária e fiscal e permitindo uma ligeira desvalorização da moeda”.
Já a possível recuperação dos preços do petróleo encerra esta lista de grandes riscos para 2020.
Portugal treme Para o analista contactado pelo i, a economia portuguesa é sensível ao sentimento do mercado europeu. Ainda assim, André Pires, da XTB, admite que o país “tem conseguido um crescimento superior à média europeia, sustentado em parte pelo consumo das famílias. A desincentivar esse consumo temos o aumento da carga fiscal indireta, contrabalançada pelo aumento do salário mínimo no próximo ano”.
Mas apesar de reconhecer que, no imediato, o resultado poderá parecer bom, o analista garante que a tendência será de uma degradação das condições económicas, “em resultado do desincentivo ao investimento”. E dá como exemplo o crescimento da economia portuguesa, que foi de 1,9% no terceiro trimestre, o que representa um aumento de apenas 0,3% face ao segundo trimestre do ano, ou seja, equivale a metade do ritmo de crescimento verificado nos primeiros dois trimestres do ano, segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), mas que está em linha com a previsão do Governo para a totalidade do ano.