Doze anos depois de ter vencido o último campeonato da sua história, o Costa do Sol voltou, esta quarta-feira, a sagrar-se campeão moçambicano de futebol. Desta vez com um português ao leme: Horácio Gonçalves, de 56 anos, conquistou pela primeira vez a prova, depois de já ter vencido uma Taça (2018) e uma Supertaça (2019). O treinador português faz assim a dobradinha num ano em que cumpre a segunda temporada no conjunto de Maputo, que alcançou ontem a décima Liga do país (1979, 1980, 1991, 1992, 1993, 1994, 2000, 2001, 2007 e 2019). Os canarinhos chegaram ao título após bater o atual bicampeão União Desportiva de Songo, por 4-2, em jogo de atraso da 27.ª jornada, ficando agora com seis pontos de vantagem para os hidroelétricos, segundos classificados, numa altura em que já só há três pontos em jogo.
No total, este é o quarto troféu no currículo do técnico vimaranense, que conquistou a II Divisão B portuguesa pelo Varzim, em 1995/96.
Além dos lobos do mar, em Portugal, Gonçalves treinou o Desp. Chaves, Maia, Olhanense, Rio Ave, União da Madeira, Leixões, Santa Clara, Farense e Felgueiras. Já fora de portas, a passagem por Moçambique trata-se da terceira aventura do técnico português depois das experiências nos gregos do Asteras Tripolis (2011) e nos cipriotas do AEP (2012/13).
Com o mais recente triunfo, Horácio Gonçalves torna-se o terceiro treinador português a ser campeão no estrangeiro neste final de ano depois de Jorge Jesus no Brasil, com o Flamengo, e José Morais na Coreia do Sul, ao serviço do Jeonbuk Motors.
Além disso, o técnico vimaranense é ainda o quinto português campeão de futebol em Moçambique.
O primeiro luso a vencer desde 2015 Há quatro anos que a Moçambola não era conquistada por um treinador português. O último a conseguir este feito havia sido Vítor Pontes, em 2015. Na altura, o técnico natural de Leiria tinha precisamente a mesma idade que Gonçalves (56 anos) e representava o Ferroviário, também de Maputo. Tal como o treinador da cidade berço, Pontes conquistou à data o décimo campeonato da história do locomotivas, precisamente na segunda temporada no comando técnico do clube. Ainda assim este era o quarto ano que o treinador luso atravessava no futebol moçambicano uma vez que antes tinha orientado, também durante duas temporadas, o Clube do Chibuto.
Nos dois anos imediatamente anteriores a festa também tinha sido em parte portuguesa, com Litos a conquistar a competição de forma consecutiva, em 2013 e 2014, ao serviço do Liga Desportivo Maputo (L.D.M).
Antes, é preciso recuar até à década de 1980 para encontrar os restantes triunfos com dedo luso, com José Castro a aparecer como vencedor da edição de 1988, pelo Grupo Desportivo de Maputo. Ainda assim o pioneiro nesta lista foi Rui Caçador, que venceu a competição em 1985 e em 1986 pelo Maxaquene. De notar, aliás, que, após o triunfo inaugural, Caçador tornou-se à data o primeiro técnico português campeão no estrangeiro.
“É uma vitória muito importante para mim e é o culminar de um trabalho executado em ano e meio. Estou contente por mim, é mais um treinador da escola de treinadores portugueses a vencer e isso é importante para levarmos o nome do nosso país bem longe”, disse Gonçalves, em declarações à Bola Branca após a conquista.
Na mesma entrevista, o técnico admitiu que o futuro é incerto e que irá essencialmente depender das propostas que possam surgir, pelo que não descarta, por enquanto, nenhuma hipótese – desde a sua permanência na formação canarinha até a um eventual regresso a Portugal.
“Não sei se continuo. No nosso trabalho, isso é sempre uma incógnita, estamos sempre abertos a novas situações e eu sempre gostei de desafios. Há possibilidade de continuar, há possibilidade de sair e voltar a Portugal, vamos aguardar. Agora, é momento de esperar, até porque o campeonato só acaba no domingo. Depois, vou equacionar todas as opções que possam aparecer para o futuro”, sentenciou.
Ainda durante o dia de ontem, Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), fez questão de fclicitar o técnico natural de Guimarães, numa mensagem em que aproveitou para reforçar o bom trabalho feito pelos treinadores portugueses lá fora.
“Numa prova muito competitiva, Horácio Gonçalves conseguiu, de uma forma inequívoca, afirmar, fora de portas, o valor dos treinadores nacionais e do futebol português”, afirmou o dirigente.
De notar que este ano, além do treinador agora campeão moçambicano, Portugal esteve apenas representado naquele campeonato pelo avançado Bruno Caixado (Ferroviário de Maputo). Contudo, nem sempre foi assim. As cores lusas estão longe de serem estranhas no futebol moçambicano, porém, houve um ano em que o domínio foi ainda mais notório.
Recorde de técnicos portugueses na Moçambola Há seis anos a Moçambola arrancou com seis treinadores portugueses, um recorde na competição, disputada na altura por 14 equipas (praticamente metade).
Corria o ano de 2013 quando a competição contou com a presença de Litos (L.D.M), Diamantino (Costa do Sol), Vítor Urbano (Ferroviário de Maputo), Vítor Pontes (Chibuto), Rogério Gonçalves (Ferroviário de Nampula) e José Fernando (Têxtil do Púnguè).
Também no que respeita à seleção de futebol moçambicana, há algo a dizer já que o português Luís Gonçalves foi, em agosto último, recorde-se, apresentado como o novo selecionador para os próximos três anos.