Os argumentos de última hora por parte da administração da Navigator não foram suficientes para convencer os trabalhadores a travar a greve de quatro dias que decorre nas quatro fábricas do grupo – Aveiro, Vila Velha de Ródão, Figueira da Foz e Setúbal – até às 24h00 do próximo sábado. Mantém-se assim o braço-de-ferro entre empresa e trabalhadores, com as trocas de argumentos entre ambas as partes a subirem de tom nas últimas horas, o que vem confirmar um cenário de crise no setor que os resultados financeiros dos primeiros nove meses do ano já haviam antecipado. Ao clima de contestação junta-se ainda a realidade fria dos números, que apontam para uma queda significativa dos lucros.
Os trabalhadores da Navigator defendem um reenquadramento salarial, uma revisão do plano de carreiras e ainda a recusa de todo o tipo de trabalho suplementar em qualquer momento, durante ou depois da greve. A convocação da paralisação surge na sequência do que alegam ser a “intransigência” demonstrada pela administração da empresa, ao longo dos seis meses em que decorreram as negociações.
Em resposta ao protesto, a Navigator emitiu um comunicado em que afirmou “não encontrar justificação para esta greve”.
O grupo liderado por João Castello Branco tentou, em vésperas da paralisação, convencer os trabalhadores a recuarem na sua decisão, anunciando uma redução do horário de trabalho para as 38 horas semanais já a partir de 2020 e garantindo a criação de um fundo de pensões para todos os colaboradores.
O comunicado procurou recordar e enumerar as várias medidas em termos remuneratórios tomadas pela administração ao longo dos últimos anos. A administração da Navigator alegou, entre outros exemplos, que realizou “aumentos generalizados nos ordenados e subsídios, entre 1,5% e 2%”, procedeu ao pagamento de “prémios de desempenho no valor de 80 milhões de euros, distribuídos ao longo de cinco anos”, e concedeu “progressões na carreira a 58% dos trabalhadores”. Sindicatos e trabalhadores ouviram atentamente, mas os argumentos não colheram frutos. A greve arrancou mesmo às 00h00 de ontem.
“Afirmações são falsas” O comunicado da Navigator mereceu reação pronta da Fiequimetal – Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Elétricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas. Em declarações ao i, Manuel Bravo recorda que o que está neste momento em causa “são as progressões na carreira”, rejeitando os números apresentados pela empresa. “Essas afirmações são falsas e essas percentagens não têm qualquer fundamento”, garante. Segundo o dirigente sindical, “existem centenas de trabalhadores da Navigator que estão estagnados há 15/20 anos e que não têm sido premiados pelo seu esforço diário e dedicação à empresa. O valor indicado pela empresa [58%] referente aos trabalhadores que progrediram nas suas carreiras é simplesmente falso”.
Manuel Bravo desvalorizou ainda os restantes dados apresentados pela empresa, admitindo que, de facto, algumas destas medidas foram sendo tomadas, mas só avançaram na sequência “de negociações decorridas ao longo dos últimos anos, encerradas há muito, que mereceram a concordância das partes e que, na maioria dos casos, resultaram apenas da integração de empresas e trabalhadores no grupo e do natural nivelamento das suas condições de trabalho”. “Nada do que foi referido aconteceu por vontade voluntária e expressa da empresa. Foram sempre os sindicatos e os trabalhadores a terem de lutar para o alcançar”, sublinha.
Na manhã de ontem, o primeiro destes quatro dias de greve, a Fiequimetal divulgou um comunicado onde reforça a posição de Manuel Bravo e endurece a posição dos trabalhadores em relação à empresa. Segundo a federação intersindical, o comunicado da Navigator “está pejado de inverdades” e a sua divulgação foi apenas mais uma tentativa “de desmobilizar os trabalhadores para a greve”. De acordo com a nota publicada no seu site, a Fiequimetal acusa a Navigator de tentar “iludir a opinião pública, mantendo a imagem de empresa modelo ao nível da política salarial que pratica”, e de “branquear a incapacidade e a falta de vontade para negociar”.