Leffest. Num tempo que grita por resistência

Leffest. Num tempo que grita por resistência


É entre os mais recentes filmes de Ken Loach, Abel Ferrara, Terrence Malick, Wagner Moura e um regresso à Lisboa de Wim Wenders que se faz, de 15 a 24 de novembro, mais um Leffest, numa edição que, num tempo em que ela ganha novo fôlego, traz à discussão o tema da resistência.


Sete anos depois de a Europa a ter posto de joelhos, que Grécia sobrou para os gregos? Do outro lado do Atlântico, que memória de que Brasil Wagner Moura insiste em recuperar no presente de Bolsonaro? Ou ainda: quem são os “miseráveis” contemporâneos de que Ladj Ly vai à procura nos subúrbios de Paris? As respostas estão em Adults in the Room, de Costa-Gavras, em Marighella, o filme que Wagner Moura levou à última edição da Berlinale sobre esse líder da resistência à ditadura militar, em Les Misérables, de Ladj Ly, todos eles parte da programação já anunciada para o Leffest – Lisbon & Sintra Film Festival, que arranca para a sua 13.a edição no próximo dia 15 de novembro.

Na sua seleção oficial, a abarcar ainda, fora de competição, o olhar de Terrence Malick sobre a Alemanha no período nazi (A Hidden Life), PJ Harvey a acompanhar o fotojornalista Seamus Murphy nas suas viagens de trabalho pelo Kosovo, Afeganistão e Washington (A Dog Called Money) e ainda as mais recentes obras de François Ozon (Grâce à Dieu), de Ken Loach (Sorry We Missed You, em antestreia nacional depois de, em maio passado, Cannes a ter visto pela primeira vez) e de Rebecca Zlotowski: com Nuno Lopes entre o elenco, o também estreado em Cannes Une Fille Facile. Nesse exercício de curadoria entre o que de melhor se produz a nível internacional a que o Leffest de Paulo Branco vem habituando o seu público cabem ainda, entre sessões especiais e antestreias nacionais, Atlantique, de Mati Diop, Guest of Honour, de Atom Egoyan, It Must Be Heaven, de Elia Suleiman, Martin Eden, de Pietro Marcello, Sibyl, de Justine Triet, e The Lighthouse, de Robert Eggers.

Em competição, Patrick, o filme que marca a estreia de Gonçalo Waddington na realização e que, a partir da história do desaparecimento de Rui Pedro, acaba de se estrear no Festival de Cinema de San Sebastián, ao lado dos últimos filmes de nomes como Abel Ferrara (Tommaso) ou de Bertrand Bonello (Zombi Child), entre outros, numa lista à qual podem vir a juntar-se ainda novas confirmações.

Aproveitando a deixa dos nomes, vamos então a eles, que em torno disso – os convidados trazidos a Portugal em cada edição – se tem construído também a reputação do Leffest. Se, à 13.a edição, as retrospetivas são dedicadas a Christian Petzold, Corneliu Porumboiu, Alice Rohrwacher, José Miguel Ribeiro, Rita Azevedo Gomes e Damien Manivel, a lista de icónicas figuras do cinema que, de 15 a 24 de novembro, estão de visita a Lisboa e a Sintra não fica por aqui. Wim Wenders, Willem Dafoe, Laurie Anderson, Abel Ferrara e Wagner Moura são, a par de alguns dos já citados, apenas os mais sonantes.

Além de apresentar o seu Marighella, o ator e agora realizador brasileiro Wagner Moura é também, com Maria João Pires, Yasmine Hamdan e Victoria Guerra, membro do júri de uma edição que traz a Portugal Wim Wenders. Isto a propósito dos 25 anos de Viagem a Lisboa (1994), o filme em que o realizador de Paris, Texas e de As Asas do Desejo reflete, numa viagem a Lisboa, sobre o cinema, a imagem e o som. Um filme a que o Leffest regressa numa sessão especial, em cópia digital restaurada pela Fundação Wim Wenders. Também em cópia restaurada e numa sessão com a presença do realizador é proposto um regresso a O Estado das Coisas, de 1983.

À volta dos que resistem Para um ciclo intitulado Looking For Homeland, os curadores Alexey Artamonov, Denis Ruzaev e Inês Branco López selecionaram um conjunto de filmes de proveniências tão distintas como o Irão (A Casa é Negra, de Forough Farrokhzad), a Alemanha (Beer Chase, de Herbert Achternbusch, ou Tales from the Hunsrück Village, de Edgar Reitz), o Chile (Diálogos de Exilados, de Raoul Ruiz), o Japão (The Emperor’s Naked Army Marches On, de Kazuo Hara) ou a Rússia (You and Me, de Larisa Shepitko) que se propõem pensar “as relações entre cinema e a ideia de homeland, refletindo sobre “o que acontece quando o aparato ideológico e poético destas duas forças converge”.

E num festival que não vem tomando por hábito restringir-se apenas ao cinema terá também lugar nesta edição o simpósio internacional Resistências. Dedicado àqueles que “não se conformam perante as injustiças”, com o representante do movimento dos coletes amarelos Maxime Nicolle, o filósofo e ator Mehdi Belhaj Kacem, a artista Laurie Anderson, o ativista e cofundador do movimento Boycott Divestment and Sanctions (BDS) Omar Barghouti e ainda o presidente da Câmara de Nápoles, Luigi de Magistris, como oradores.