Não obstante ter aumentado o número de forças políticas representadas no hemiciclo, os resultados das eleições legislativas de 6 de outubro evidenciaram, de forma inequívoca, a vontade maioritária dos eleitores no que diz respeito à matriz de governação que desejam para os próximos quatro anos.
Uma maioria expressiva de portuguesas e portugueses querem mais quatro anos de estabilidade governativa, com um Governo do PS. Por isso, reforçaram significativamente a sua votação nesse partido e aumentaram o seu número de mandatos, permitindo-lhe, sozinho, ter uma bancada maior do que as bancadas de direita todas somadas.
As portuguesas e os portugueses também querem que essa governação se continue a fazer em articulação com os outros partidos progressistas e, por isso, não atribuíram uma maioria absoluta ao PS. Em síntese, os portugueses querem mais PS e por isso o reforçaram, e querem uma geringonça alargada e flexível, e por isso alargaram o leque de forças que lhe podem dar respaldo.
Na sequência de um ciclo político em que Portugal convergiu com a União Europeia, criou emprego e manteve as contas equilibradas, mais de 60% dos portugueses votaram no prosseguimento dessa agenda. Quem, no centro e na esquerda parlamentar, ousar fazer ouvidos moucos a esta mensagem, arrisca-se a ser incompreendido por muitos dos que lhe outorgaram os seus votos.
Em 2015, o grande cimento da articulação política à esquerda foi a reversão das políticas de austeridade e empobrecimento aplicadas até ao extremo pela frente de direita. Em 2019 continuam a existir razões muito fortes para uma articulação política alargada em torno do essencial, porque se joga a consolidação do que foi conseguido nos últimos quatro anos e se prepara o lançamento de uma nova agenda contra as desigualdades, pela inclusão digital, pela recuperação demográfica e de combate às alterações climáticas, capaz de melhorar a qualidade de vida dos portugueses e fazer frente à expetável desaceleração sincronizada da economia global, para usar a expressão da nova diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva.
A entrada do populismo radical na Assembleia da República através da eleição de um deputado do Chega é outra razão mobilizadora para que se adaptem mas não se quebrem, de forma ligeira. soluções e metodologias que provaram funcionar. Um movimento populista radical, sabe-se como começa, mas nunca se sabe como acaba. Evitar riscos de contaminação através de um combate democrático robusto é a resposta mais segura que pode ser dada.
Perante uma consulta popular com a dimensão de umas eleições gerais como as que ocorreram em Portugal podem fazer-se muitos exercícios, mais ou menos calculistas, de negociação e participação na construção das soluções, ou da sua recusa. A negociação e o diálogo são pilares essenciais de uma democracia sã. O calculismo excessivo, como tem mostrado a nossa história recente, raramente compensa politicamente quem o pratica.
Em 6 de outubro, os eleitores fizeram a sua escolha para o novo ciclo de governação. Querem mais PS e outro modelo de geringonça. A seu tempo avaliarão as respostas que os seus representantes darão à sua vontade expressa.
Eurodeputado