A cólera dos iraquianos é grande e mesmo que o seu Governo os mate à centena, os manifestantes continuaram a sair para as ruas para mostrar a sua determinação e não se deram por derrotados.
Os protestos voltaram ao sul de Bagdade durante a noite de segunda para terça-feira no distrito da Cidade de Sadr, que se tornou num dos epicentros do descontentamento dos iraquianos nos últimos dias e onde morreram quinze pessoas só no domingo passado. Esta terça-feira, morreu um policial e quatro pessoas ficaram feridas nesta zona, segundo a Reuters. Apesar disso, o ambiente no país parece ter acalmado. Por enquanto.
Os protestos iniciaram-se na semana passada e até agora morreram mais de 110 pessoas e cerca de seis mil ficaram feridas. Os iraquianos mostravam a sua raiva contra o desemprego galopante no país, pela falta de serviços públicos e contra a corrupção, no que constitui o maior desafio ao Governo de Adel Abdul Mahdi, primeiro-ministro do país há um ano.
Pelo mundo inteiro normaliza-se o uso de gás lacrimogéneo, a utilização de balas de borracha e canhões de água para conter o descontentamento popular e as forças de segurança iraquianas não foram exceção à regra. Mas o uso de fogo real não é tão comum assim e o resultado foi trágico. Tanto, que até os militares se envergonharam e foram obrigados a admitir o uso de "força excessiva" contra os manifestantes, na segunda-feira.
Embora o custo tenha sido tremendo, os protestos parecem estar a surtir efeito e os manifestantes já conseguiram pôr o chefe de Estado ao seu lado. O Presidente do Iraque, Barham Salih, condenou os ataques aos manifestantes e aos media, instando as forças de segurança a preservar os direitos de todos os iraquianos.
Num discurso televisionado na passada segunda-feira, Salih apelou a uma remodelação governamental e pediu ao Parlamento que avançasse com reformas para ir de encontro com as exigências dos manifestantes – como a reforma eleitoral. "O direito ao protesto e à liberdade de expressão estão garantidos na constituição", realçou, citado pela Al Jazira.
A Reuters presenciou a morte de manifestantes por snipers que disparavam em cima de telhados de edifícios da capital iraquiana. Especula-se no país que os atiradores sejam iranianos, mas Mustafa Ali, irmão de um manifestante morto durante os protestos, afirmou o contrário à Al Jazira. "Estão a mentir. São do nosso país. São os militares iraquianos a matarem iraquianos".
Perante esta tragédia, a Amnistia Internacional tem sido das vozes mais ativas contra o Governo de Mahdi. Embora o Executivo dê alguns sinais de estar a recuar, a restrição de acesso à internet permanece. "Continuamos monitorizar a situação no Iraque. As pessoas andam a dizer-nos que foram cortadas do mundo com um blackout da internet. A nossa mensagem para os iraquianos: Estamos a assistir, nós ouvimo-vos".
O Iraque foi invadido pelos Estados Unidos em 2003 com o propósito de depor Saddam Hussein. Os norte-americanos saíram do país em 2012, mas as empresas petrolíferas ocidentais, como a ExxonMobil, BP e a Shell por lá continuam. O Iraque é o sétimo maior produtor de petróleo do mundo.