Somos todos feministas, ecologistas e defensores das minorias


Fazem falta vozes de consciência no Parlamento, mas discordo quando partidos ultra-minoritários passam a ser responsáveis pela priorização da agenda governativa e legislativa.


Escrevo este texto desconhecendo os resultados das eleições legislativas que decorrem hoje, domingo. E, por isso, não sei se os eleitores, pelo menos os que foram exercer o seu direito ao voto, partilham desta perplexidade. Mas muito do que se passou no período de campanha eleitoral não bate a bota com a perdigota. Diria mesmo que estamos a tornar-nos num povo esquizofrénico ou bipolar, avaliando as notícias veiculadas pelos órgãos de comunicação social ou depois de fazer um “scroll down” pelas redes sociais e fazer uma leitura rápida de alguns comentários que por lá são aplaudidos.
Tivemos o Reitor da Universidade de Coimbra, apenas a mais antiga universidade do país (fundada em 1290), e consequentemente com responsabilidade acrescida no meio académico e na sociedade em geral, a banir a carne de vaca da cantina, impedindo, compulsivamente, os consumidores de comerem carne vermelha por razões ecológicas e de saúde. Resumindo: o consumo da carne vermelha faz mal à saúde e é responsável por grande parte da catástrofe ecológica que vivemos. 

Por outro lado, o Instituto Politécnico de Portalegre recebeu os seus alunos para mais um ano letivo, com um churrasco ao ar livre, daqueles que fazem crescer água na boca, só de ver a carne a grelhar sobre o carvão incandescente. A mensagem é clara: a carne vermelha faz parte da nossa dieta mediterrânea e a percentagem da emissão de gases poluentes que são atribuídos à produção desta carne está no final da lista das atividades poluentes e responsáveis pelas alterações climáticas.

Assistimos a inúmeros debates televisivos entre os vários candidatos dos partidos com representação parlamentar, que permitiram ao eleitor “conhecer”, ainda que indiretamente, os candidatos enquanto pessoas de carne e osso e os seus programas e ideias. É um exercício interessante de se fazer, se atentarmos naqueles que estão do outro lado do écran e nos seus comportamentos, bem como nos seus gestos e reações. Quanto ao que dizem, também é importante, mas parece ser fruto de uma encenação prévia e cuidada para capturar a atenção e simpatia de quem assiste. Se houvesse um prémio com a categoria de “revelação”, o meu voto iria para o André Silva, do PAN. Não por bons motivos, mas porque me surpreendeu na sua postura rígida, no seu tom de voz áspero, no léxico utilizado e pela pobreza do seu ideário. Quando foi eleito, há quatro anos, não me chocou particularmente, porque entendo que devem coexistir vozes de consciência no Parlamento. Diria mesmo que fazem falta, na sua devida proporção, se acrescentarem discussões e reflexões sobre temas que fogem da malha dos partidos tradicionais, por serem questões mais periféricas, relativamente aos nossos centros de interesse. Mas que devemos ir refletindo sobre as mesmas. Já discordo, quando estes mesmos partidos (ultra-minoritários) passam a ser os responsáveis pela priorização da agenda governativa e legislativa, numa lógica utilitarista e interesseira dos grandes partidos. Primeiro, porque não representam a vontade democrática da maioria e, segundo, porque desvirtuam o sistema em negociações políticas que servem exclusivamente os partidos políticos envolvidos, desrespeitando a vontade popular. Estes debates são necessários e, mesmo que por vezes sejam pouco interessantes, podem acrescentar mais clareza a quem vai votar.

O mesmo já não se pode dizer do debate que ocorreu com todos os outros partidos políticos que se candidataram a estas eleições. Foi um desastre. Mas também foi o mais interessante de todos os debates, pela alegoria que prendia qualquer um que sintonizasse aquele canal. Política é comunicação. Foi um debate que não rendeu. Não só porque não houve debate, mas também porque a transmissão de ideias foi nitidamente insuficiente. Havia para todos os gostos. Não pode haver quem diga que não foi votar porque não se reviu em nenhum candidato ou programa de partido, porque a pluralidade foi a mais-valia desta campanha. Note-se que grande parte destes candidatos assumiam um discurso antipolítica e antipolíticos, assumindo indiscutivelmente que são vocacionados para a arte de fazer política e para a arte da governação. Mesmo que nenhum deles, exceção feita ao Pedro Santana Lopes (uma carta fora daquele baralho) tenha alguma vez sido governante ou conheça o funcionamento do sistema a partir do seu interior. Não há mal nenhum na inexperiência, nem tão pouco é requisito indispensável a experiência em cargos políticos, mas não fica bem criticar o sistema e os que já contribuíram tanto para o mesmo, como forma de se alcançar o poder – o mesmo que se despreza. Através das ideias, sim. Através das caneladas, só mesmo acusando com propriedade e não com insinuações. Perdemos todos, porque acima de tudo, perde a democracia.

Nestes dias, fiquei também a saber que a mulher moderna dos dias de hoje deve preencher, no mínimo, estes três requisitos, se quiser ser uma referência na sociedade: feminista, ecologista e protetora das minorias. Quase todas as candidatas o são ou se assumem ser. Foram para as manifestações da Greve Climática, defendem o empoderamento feminino e são defensoras de quase todas as minorias. Quanto a isto, enquanto mulher, fiquei intrigada se todas estaríamos a este nível. No que me diz respeito, não sou feminista na mesma proporção que não sou machista. Acredito que há muitas áreas em que o discurso sobre a presença das mulheres ainda é necessário e que devemos trabalhar para que as condições de acesso e de oportunidades sejam iguais, tanto para homens como para mulheres. Não me soa bem o empoderamento feminino. Desequilibra a sociedade e as gerações futuras. O desafio reside em chegar a uma igualdade de oportunidades (não de género ou de sexo!), considerando a variável do tempo, sem projetar desigualdades para o futuro. Também não fui para a manifestação, mas faço reciclagem, ensino os meus filhos a terem preocupações relativas à sustentabilidade e a respeitarem o equilíbrio entre a Natureza e as necessidades do Homem. Defendo o combate ao desperdício alimentar e critico o consumo desenfreado de descartáveis. Quanto às minorias, tenho as minhas preferências e canalizo o meu tempo para ajudar no terreno pessoas que estão em dificuldade, independentemente da minoria a que pertençam. Não pego em bandeiras com minorias desenhadas ou com cores que simbolizam minorias que já não o são, porque até mesmo dentro destas minorias, existem pessoas com nome e problemas que aguardam que as ajudem.   


Somos todos feministas, ecologistas e defensores das minorias


Fazem falta vozes de consciência no Parlamento, mas discordo quando partidos ultra-minoritários passam a ser responsáveis pela priorização da agenda governativa e legislativa.


Escrevo este texto desconhecendo os resultados das eleições legislativas que decorrem hoje, domingo. E, por isso, não sei se os eleitores, pelo menos os que foram exercer o seu direito ao voto, partilham desta perplexidade. Mas muito do que se passou no período de campanha eleitoral não bate a bota com a perdigota. Diria mesmo que estamos a tornar-nos num povo esquizofrénico ou bipolar, avaliando as notícias veiculadas pelos órgãos de comunicação social ou depois de fazer um “scroll down” pelas redes sociais e fazer uma leitura rápida de alguns comentários que por lá são aplaudidos.
Tivemos o Reitor da Universidade de Coimbra, apenas a mais antiga universidade do país (fundada em 1290), e consequentemente com responsabilidade acrescida no meio académico e na sociedade em geral, a banir a carne de vaca da cantina, impedindo, compulsivamente, os consumidores de comerem carne vermelha por razões ecológicas e de saúde. Resumindo: o consumo da carne vermelha faz mal à saúde e é responsável por grande parte da catástrofe ecológica que vivemos. 

Por outro lado, o Instituto Politécnico de Portalegre recebeu os seus alunos para mais um ano letivo, com um churrasco ao ar livre, daqueles que fazem crescer água na boca, só de ver a carne a grelhar sobre o carvão incandescente. A mensagem é clara: a carne vermelha faz parte da nossa dieta mediterrânea e a percentagem da emissão de gases poluentes que são atribuídos à produção desta carne está no final da lista das atividades poluentes e responsáveis pelas alterações climáticas.

Assistimos a inúmeros debates televisivos entre os vários candidatos dos partidos com representação parlamentar, que permitiram ao eleitor “conhecer”, ainda que indiretamente, os candidatos enquanto pessoas de carne e osso e os seus programas e ideias. É um exercício interessante de se fazer, se atentarmos naqueles que estão do outro lado do écran e nos seus comportamentos, bem como nos seus gestos e reações. Quanto ao que dizem, também é importante, mas parece ser fruto de uma encenação prévia e cuidada para capturar a atenção e simpatia de quem assiste. Se houvesse um prémio com a categoria de “revelação”, o meu voto iria para o André Silva, do PAN. Não por bons motivos, mas porque me surpreendeu na sua postura rígida, no seu tom de voz áspero, no léxico utilizado e pela pobreza do seu ideário. Quando foi eleito, há quatro anos, não me chocou particularmente, porque entendo que devem coexistir vozes de consciência no Parlamento. Diria mesmo que fazem falta, na sua devida proporção, se acrescentarem discussões e reflexões sobre temas que fogem da malha dos partidos tradicionais, por serem questões mais periféricas, relativamente aos nossos centros de interesse. Mas que devemos ir refletindo sobre as mesmas. Já discordo, quando estes mesmos partidos (ultra-minoritários) passam a ser os responsáveis pela priorização da agenda governativa e legislativa, numa lógica utilitarista e interesseira dos grandes partidos. Primeiro, porque não representam a vontade democrática da maioria e, segundo, porque desvirtuam o sistema em negociações políticas que servem exclusivamente os partidos políticos envolvidos, desrespeitando a vontade popular. Estes debates são necessários e, mesmo que por vezes sejam pouco interessantes, podem acrescentar mais clareza a quem vai votar.

O mesmo já não se pode dizer do debate que ocorreu com todos os outros partidos políticos que se candidataram a estas eleições. Foi um desastre. Mas também foi o mais interessante de todos os debates, pela alegoria que prendia qualquer um que sintonizasse aquele canal. Política é comunicação. Foi um debate que não rendeu. Não só porque não houve debate, mas também porque a transmissão de ideias foi nitidamente insuficiente. Havia para todos os gostos. Não pode haver quem diga que não foi votar porque não se reviu em nenhum candidato ou programa de partido, porque a pluralidade foi a mais-valia desta campanha. Note-se que grande parte destes candidatos assumiam um discurso antipolítica e antipolíticos, assumindo indiscutivelmente que são vocacionados para a arte de fazer política e para a arte da governação. Mesmo que nenhum deles, exceção feita ao Pedro Santana Lopes (uma carta fora daquele baralho) tenha alguma vez sido governante ou conheça o funcionamento do sistema a partir do seu interior. Não há mal nenhum na inexperiência, nem tão pouco é requisito indispensável a experiência em cargos políticos, mas não fica bem criticar o sistema e os que já contribuíram tanto para o mesmo, como forma de se alcançar o poder – o mesmo que se despreza. Através das ideias, sim. Através das caneladas, só mesmo acusando com propriedade e não com insinuações. Perdemos todos, porque acima de tudo, perde a democracia.

Nestes dias, fiquei também a saber que a mulher moderna dos dias de hoje deve preencher, no mínimo, estes três requisitos, se quiser ser uma referência na sociedade: feminista, ecologista e protetora das minorias. Quase todas as candidatas o são ou se assumem ser. Foram para as manifestações da Greve Climática, defendem o empoderamento feminino e são defensoras de quase todas as minorias. Quanto a isto, enquanto mulher, fiquei intrigada se todas estaríamos a este nível. No que me diz respeito, não sou feminista na mesma proporção que não sou machista. Acredito que há muitas áreas em que o discurso sobre a presença das mulheres ainda é necessário e que devemos trabalhar para que as condições de acesso e de oportunidades sejam iguais, tanto para homens como para mulheres. Não me soa bem o empoderamento feminino. Desequilibra a sociedade e as gerações futuras. O desafio reside em chegar a uma igualdade de oportunidades (não de género ou de sexo!), considerando a variável do tempo, sem projetar desigualdades para o futuro. Também não fui para a manifestação, mas faço reciclagem, ensino os meus filhos a terem preocupações relativas à sustentabilidade e a respeitarem o equilíbrio entre a Natureza e as necessidades do Homem. Defendo o combate ao desperdício alimentar e critico o consumo desenfreado de descartáveis. Quanto às minorias, tenho as minhas preferências e canalizo o meu tempo para ajudar no terreno pessoas que estão em dificuldade, independentemente da minoria a que pertençam. Não pego em bandeiras com minorias desenhadas ou com cores que simbolizam minorias que já não o são, porque até mesmo dentro destas minorias, existem pessoas com nome e problemas que aguardam que as ajudem.