De Sócrates a Greta Thunberg: Dare you.


A sociedade sempre viveu envolta de pensadores. De Homens livres que projetaram nas ideias o avanço que nos conduziu ao futuro. Homens e Mulheres que implicaram pelo seu pensamento a criação e depois a respetiva ação que influenciou as sociedades e o mundo.   Hoje o planeta político está focado numa menina sueca de 16…


A sociedade sempre viveu envolta de pensadores. De Homens livres que projetaram nas ideias o avanço que nos conduziu ao futuro. Homens e Mulheres que implicaram pelo seu pensamento a criação e depois a respetiva ação que influenciou as sociedades e o mundo.  

Hoje o planeta político está focado numa menina sueca de 16 anos. Greta Thunberg, nascida em Estocolmo, foi diagnosticada com síndrome de Asperger e transtorno obsessivo-compulsivo com mutismo seletivo. Registo que, na dificuldade teve a particularidade feliz de dizer que "ser diferente é um superpoder". Bem, Greta. Nisto, estejamos todos de acordo.

Mas não ficará na história pelo que tem mas sim pelo que fez e disse.

Em agosto de 2018 ousou faltar às aulas e colocar-se à frente do parlamento do seu país com um cartaz, um simples cartaz, a apelar à greve escolar pelo clima. “Skolstrejk för klimatet” podia ler quem passava perto da Riksdagshuset. Sozinha ainda distribuiu panfletos repletos de dados científicos que alertavam para o aquecimento do Planeta. Uma ação solitária mas esteve sozinha pouco tempo.

A ainda menina Greta não sabia que esse dia marcou o pontapé de saída, perto de 8 meses depois, para um movimento juvenil que juntou por cerca de 1,5 milhões de jovens em perto de 100 países a protestar em marcha pelo clima. #SchoolStrike4Climate. Em Portugal também. A 15 de março deste ano, milhares de jovens manifestaram-se pela causa climática até às escadarias da Assembleia da República.

Procure e verá como o que o momento solitário de Greta Thunberg se transformou num movimento à escala global.

A palavra desta jovem, ainda menor de idade, alastrou-se. O nome “Greta Thunberg” atravessou fronteiras e tem passado por vários palcos de forma ascendente. Dos palcos mais mediáticos, passou pela conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), realizado na Polónia em dezembro de 2018, e mais recentemente chegou à Cimeira da Ação Climática da ONU em que ficará célebre o desafio às autoridades políticas: How dare you? (“Como é que se atrevem?” na língua de Camões).

Evidentemente, e sem avaliar o conteúdo específico da missiva da menina escandinava, também serei um dos muitos – como há uma semana aqui escrevi no iOnline – que tenho manifesta preocupação pelo clima e que entende que devemos ter mais e melhores políticas ambientais.

Não entrarei em quezílias comparativas sobre a infância que Greta acusou dirigentes políticos de lhe “roubarem”. Sobre isto limito-me à constatação de que há no planeta milhões de crianças que sonharam ter apenas um pouco da infância que esta jovem teve em Estocolmo. Há, infelizmente, muitos jovens com adolescências terrivelmente piores que a vivida na Suécia.

Muito menos irei entrar por teorias da conspiração sobre qual e quão influenciada a jovem é por determinado quadrante político. Foco a coragem, o exemplo de tentar fazer algo.

O que pretendo fixar nesta reflexão, é mesmo o respeito que devemos ter pelo pensamento. O respeito por quem tenta e tentou fazer algo, começando pelas palavras.

Pela coragem de alguém sair da sua área de conforto e enfrentar a negação, muitas vezes, tal como no exemplo da obra do “Sermão de Santo António aos Peixes” de Padre António Vieira.

Não é de hoje que há exemplos de quem se chegou à frente para puxar pelo pensamento de um povo.

Podemos recuar a 450 a.C., ao filósofo grego Sócrates. Foi o primeiro dos três grandes filósofos gregos que estruturaram as principais bases do pensamento ocidental, antecedendo a Platão e Aristóteles.

Sócrates foi aquele que mudou o paradigma do Ágora de Atenas, que significa mesmo “Pensamento”, e propositadamente ficava no centro de tudo. O filósofo grego, a partir do centro da comunidade Ateniense, foi o responsável por colocar os pensadores e os filósofos a pensarem política, no sentido da política das coisas, da política como ferramenta para a melhoria da gestão da sociedade e não no sentido de política partidária. Deixou-se de afunilar o pensamento filosófico na origem do mundo, na forte mitologia grega, nos inúmeros deuses como Baco (deus do vinho) ou Ícaro, e focou-se no pensamento da sociedade. Sócrates focou-se nas pessoas, pensou e marcou a História.

O filósofo romano, Cícero, três séculos depois, recordaria Sócrates como quem “fez com que a filosofia descesse dos céus para a terra”. Cícero, então desde a metrópole Romana, marcou também uma etapa de coragem no Pensamento. Foi um dos principais responsáveis pela evolução da língua latina, não apenas o Latim, e é-lhe reconhecida a sua influência sobre a história da literatura. É dos mais estudados escritores de qualquer idioma e, na sua ação política, foi o criador das escolas para romanos de filosofia grega. Colocou Roma a pensar filosofia política.  

Pegando na filosofia política de Sócrates e na literatura de Cícero, recordemos Benjamin Disraeli também, que une ambas as ferramentas.

A história política do Reino Unido perpetuou muito mais Sir Winston Leonard Spencer-Churchill ou a Baronesa Margaret Hilda Thatcher. Certo, é manifestamente verdade.

Mas muito antes, nos primórdios do século XIX, outro ex-Primeiro Ministro Britânico ficava na história com a criação do Partido Conservador moderno, definindo suas políticas e amplitude ideológica que teria. Nunca deixou de escrever e afirmava perto de 1875 que “Enquanto político, acho que nunca deixei de fazer literatura. E como escritor, sei que jamais deixei de fazer política”. É algo fundamental que ainda hoje muitos custam a engolir, que a ação política está em tudo. Benjamin Disraeli, 1.º Conde de Beaconsfield e ex-Primeiro Ministro do Reino Unido (por duas vezes), foi outro filósofo marcante que usou a palavra para fazer pensar e recriar o mundo.

São vários os exemplos de pensadores que influenciaram o mundo, cada um à sua escala e sem quantificar importância de cada qual. É manifestamente injusto selecionar quem é mais importante.

Impossível quantificar, ora vejamos curtos exemplos:

O filósofo inglês John Locke que foi “Pai do Liberalismo” ou o alemão Karl Marx com o seu Manifesto Comunista? Friedrich Engels com o Socialismo ou Adam Smith com a “Mão Invisível” do Estado? Não dá. É impossível.

Com pensamentos mais ideológicos, como estes anteriores, ou pensamentos focados em causas como Martin Luther King Jr. ou agora Greta Thunberg, todos os pensadores marcaram e marcarão sempre a reflexão.

Sobre a menina Greta, porque é de hoje, porque eu e todos vós estão a conviver com a reação à ação que teve, há algo que todos deveríamos validar: O Pensamento é o que faz avançar o planeta.

Perguntou em Nova Iorque sem medos. Questionou os dirigentes políticos sobre o porquê de, na sua ótica, lhe roubarem os sonhos. Afrontou a área de conforto de ser criança. Chegou-se à frente por uma causa. Marcou o mundo.

Irei sempre preferir os que ousaram pensar em público e trazer mais pensamento à sociedade, mesmo aqueles cujo pensamento é antagónico do que acredito como Karl Marx, aos que apenas os tentam silenciar vozes superiores com teorias de conspiração, debilidades de saúde ou imaturidade.

Haja Pensamento. Atrevam-se. Ou como diria a Greta Thunberg: “Dare you”.

Carlos Gouveia Martins

De Sócrates a Greta Thunberg: Dare you.


A sociedade sempre viveu envolta de pensadores. De Homens livres que projetaram nas ideias o avanço que nos conduziu ao futuro. Homens e Mulheres que implicaram pelo seu pensamento a criação e depois a respetiva ação que influenciou as sociedades e o mundo.   Hoje o planeta político está focado numa menina sueca de 16…


A sociedade sempre viveu envolta de pensadores. De Homens livres que projetaram nas ideias o avanço que nos conduziu ao futuro. Homens e Mulheres que implicaram pelo seu pensamento a criação e depois a respetiva ação que influenciou as sociedades e o mundo.  

Hoje o planeta político está focado numa menina sueca de 16 anos. Greta Thunberg, nascida em Estocolmo, foi diagnosticada com síndrome de Asperger e transtorno obsessivo-compulsivo com mutismo seletivo. Registo que, na dificuldade teve a particularidade feliz de dizer que "ser diferente é um superpoder". Bem, Greta. Nisto, estejamos todos de acordo.

Mas não ficará na história pelo que tem mas sim pelo que fez e disse.

Em agosto de 2018 ousou faltar às aulas e colocar-se à frente do parlamento do seu país com um cartaz, um simples cartaz, a apelar à greve escolar pelo clima. “Skolstrejk för klimatet” podia ler quem passava perto da Riksdagshuset. Sozinha ainda distribuiu panfletos repletos de dados científicos que alertavam para o aquecimento do Planeta. Uma ação solitária mas esteve sozinha pouco tempo.

A ainda menina Greta não sabia que esse dia marcou o pontapé de saída, perto de 8 meses depois, para um movimento juvenil que juntou por cerca de 1,5 milhões de jovens em perto de 100 países a protestar em marcha pelo clima. #SchoolStrike4Climate. Em Portugal também. A 15 de março deste ano, milhares de jovens manifestaram-se pela causa climática até às escadarias da Assembleia da República.

Procure e verá como o que o momento solitário de Greta Thunberg se transformou num movimento à escala global.

A palavra desta jovem, ainda menor de idade, alastrou-se. O nome “Greta Thunberg” atravessou fronteiras e tem passado por vários palcos de forma ascendente. Dos palcos mais mediáticos, passou pela conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), realizado na Polónia em dezembro de 2018, e mais recentemente chegou à Cimeira da Ação Climática da ONU em que ficará célebre o desafio às autoridades políticas: How dare you? (“Como é que se atrevem?” na língua de Camões).

Evidentemente, e sem avaliar o conteúdo específico da missiva da menina escandinava, também serei um dos muitos – como há uma semana aqui escrevi no iOnline – que tenho manifesta preocupação pelo clima e que entende que devemos ter mais e melhores políticas ambientais.

Não entrarei em quezílias comparativas sobre a infância que Greta acusou dirigentes políticos de lhe “roubarem”. Sobre isto limito-me à constatação de que há no planeta milhões de crianças que sonharam ter apenas um pouco da infância que esta jovem teve em Estocolmo. Há, infelizmente, muitos jovens com adolescências terrivelmente piores que a vivida na Suécia.

Muito menos irei entrar por teorias da conspiração sobre qual e quão influenciada a jovem é por determinado quadrante político. Foco a coragem, o exemplo de tentar fazer algo.

O que pretendo fixar nesta reflexão, é mesmo o respeito que devemos ter pelo pensamento. O respeito por quem tenta e tentou fazer algo, começando pelas palavras.

Pela coragem de alguém sair da sua área de conforto e enfrentar a negação, muitas vezes, tal como no exemplo da obra do “Sermão de Santo António aos Peixes” de Padre António Vieira.

Não é de hoje que há exemplos de quem se chegou à frente para puxar pelo pensamento de um povo.

Podemos recuar a 450 a.C., ao filósofo grego Sócrates. Foi o primeiro dos três grandes filósofos gregos que estruturaram as principais bases do pensamento ocidental, antecedendo a Platão e Aristóteles.

Sócrates foi aquele que mudou o paradigma do Ágora de Atenas, que significa mesmo “Pensamento”, e propositadamente ficava no centro de tudo. O filósofo grego, a partir do centro da comunidade Ateniense, foi o responsável por colocar os pensadores e os filósofos a pensarem política, no sentido da política das coisas, da política como ferramenta para a melhoria da gestão da sociedade e não no sentido de política partidária. Deixou-se de afunilar o pensamento filosófico na origem do mundo, na forte mitologia grega, nos inúmeros deuses como Baco (deus do vinho) ou Ícaro, e focou-se no pensamento da sociedade. Sócrates focou-se nas pessoas, pensou e marcou a História.

O filósofo romano, Cícero, três séculos depois, recordaria Sócrates como quem “fez com que a filosofia descesse dos céus para a terra”. Cícero, então desde a metrópole Romana, marcou também uma etapa de coragem no Pensamento. Foi um dos principais responsáveis pela evolução da língua latina, não apenas o Latim, e é-lhe reconhecida a sua influência sobre a história da literatura. É dos mais estudados escritores de qualquer idioma e, na sua ação política, foi o criador das escolas para romanos de filosofia grega. Colocou Roma a pensar filosofia política.  

Pegando na filosofia política de Sócrates e na literatura de Cícero, recordemos Benjamin Disraeli também, que une ambas as ferramentas.

A história política do Reino Unido perpetuou muito mais Sir Winston Leonard Spencer-Churchill ou a Baronesa Margaret Hilda Thatcher. Certo, é manifestamente verdade.

Mas muito antes, nos primórdios do século XIX, outro ex-Primeiro Ministro Britânico ficava na história com a criação do Partido Conservador moderno, definindo suas políticas e amplitude ideológica que teria. Nunca deixou de escrever e afirmava perto de 1875 que “Enquanto político, acho que nunca deixei de fazer literatura. E como escritor, sei que jamais deixei de fazer política”. É algo fundamental que ainda hoje muitos custam a engolir, que a ação política está em tudo. Benjamin Disraeli, 1.º Conde de Beaconsfield e ex-Primeiro Ministro do Reino Unido (por duas vezes), foi outro filósofo marcante que usou a palavra para fazer pensar e recriar o mundo.

São vários os exemplos de pensadores que influenciaram o mundo, cada um à sua escala e sem quantificar importância de cada qual. É manifestamente injusto selecionar quem é mais importante.

Impossível quantificar, ora vejamos curtos exemplos:

O filósofo inglês John Locke que foi “Pai do Liberalismo” ou o alemão Karl Marx com o seu Manifesto Comunista? Friedrich Engels com o Socialismo ou Adam Smith com a “Mão Invisível” do Estado? Não dá. É impossível.

Com pensamentos mais ideológicos, como estes anteriores, ou pensamentos focados em causas como Martin Luther King Jr. ou agora Greta Thunberg, todos os pensadores marcaram e marcarão sempre a reflexão.

Sobre a menina Greta, porque é de hoje, porque eu e todos vós estão a conviver com a reação à ação que teve, há algo que todos deveríamos validar: O Pensamento é o que faz avançar o planeta.

Perguntou em Nova Iorque sem medos. Questionou os dirigentes políticos sobre o porquê de, na sua ótica, lhe roubarem os sonhos. Afrontou a área de conforto de ser criança. Chegou-se à frente por uma causa. Marcou o mundo.

Irei sempre preferir os que ousaram pensar em público e trazer mais pensamento à sociedade, mesmo aqueles cujo pensamento é antagónico do que acredito como Karl Marx, aos que apenas os tentam silenciar vozes superiores com teorias de conspiração, debilidades de saúde ou imaturidade.

Haja Pensamento. Atrevam-se. Ou como diria a Greta Thunberg: “Dare you”.

Carlos Gouveia Martins