Um restaurante, localizado no centro de Lisboa, vai ser inaugurado esta quinta-feira e irá apresentar uma diferença dos outros espaços à sua volta. Neste local, todo o atendimento será feito por pessoas que já estiveram, ou estão, em situação sem-abrigo.
A ideia nasceu na associação CRESCER – Associação de Intervenção Comunitária que pretende apoiar as pessoas que já estiveram ou estão em situação sem-abrigo a voltar a entrar no mercado de trabalho, algo que tem vindo a revelar-se difícil, apesar de as pessoas estarem capacitadas para assumir um cargo laboral.
O diretor da CRESCER, Américo Nave, teve então uma ideia: criar um espaço de restauração onde os trabalhadores são pessoas que já estiveram em situação sem-abrigo. A ideia é este espaço funcionar como uma transição para o mercado de trabalho e ajudar, durante seis meses, os sem abrigo a voltarem a entrar no mercado de trabalho e facilitar mais tarde a sua entrada noutros locais.
"Durante este percurso todo, as pessoas vão ser acompanhadas por uma psicóloga da associação, que irá tentar sempre ultrapassar barreiras que vão existindo em todo este processo, sejam barreiras sociais, sejam barreiras na adaptação ao próprio trabalho, sejam barreiras de saúde – no fundo, ajudar a que as pessoas estejam mais incluídas na comunidade", declarou Américo Nave à agência Lusa.
O restaurante, localizado na rua de São José, por trás da Avenida da Liberdade só irá ser aberto ao público no dia 1 de outubro. O menu, elaborado pelo chef Nuno Bergonse, irá disponibilizar "comida de partilha e de conforto" e terá o preço médio de 25 euros, segundo o diretor da associação.
Existem 15 pessoas que recebem apoio da associação que vão colaborar com o novo projeto, durante os primeiros seis meses. Depois, outras 15 pessoas irão substituí-las e assim sucessivamente. Américo Nave sublinha ainda que nenhum dos empregados do restaurante vive na rua atualmente.
"Dentro desta população, haverá pessoas com maior aptidão e pessoas com menos aptidão, mas como em todos os grupos. Não pode é haver uma discriminação ou um estigma que existe, muitas vezes, de que estas pessoas não conseguem trabalhar", reclamou o diretor da CRESCER, reforçando que a fronteira até à situação de sem-abrigo "é mais ténue do que muitas vezes as pessoas pensam".
Sem um valor exato do investimento, Américo Nave pretende que, "ao fim de dois anos, o restaurante seja autossustentável", com as receitas a cobrir todas as despesas do projeto. "É um restaurante como outro qualquer, mas também tem algumas particularidades, porque tem um coordenador de projeto, tem uma psicóloga que acompanha as pessoas, portanto, tem aqui outros custos que outros restaurantes não têm", explicou.