Ordem quer saber como serão avaliados pedidos de medicação na ADSE

Ordem quer saber como serão avaliados pedidos de medicação na ADSE


Bastonário dos Médicos diz que instituto não está preparado e que regras devem ser clarificadas, dos peritos envolvidos ao prazo de resposta.


A Ordem dos Médicos quer saber como vão ser avaliados os pedidos autorização prévia que a partir de dia 16 passam a ser obrigatórios na ADSE para a comparticipação de medicamentos oncológicos que ainda não sejam financiados pelo SNS e não sejam abrangidos por programas de acesso precoce. Miguel Guimarães indicou ao i que vai ser solicitada essa informação ao instituto. O bastonário defende que a ADSE “não está preparada” para fazer esta avaliação e que é preciso esclarecer atempadamente como será feita a análise.

“Neste momento ninguém sabe. Sabemos que a ADSE tem tido uma falta de recursos enorme até para controlar atos médicos e registos”, afirma Miguel Guimarães, defendendo que, além de saber quem serão os peritos responsáveis, é necessário clarificar qual será o prazo de resposta, estando em causa “janelas de oportunidade” de tratamento. Caso a ADSE opte por recorrer ao Infarmed, o bastonário admite que pode haver outro efeito: maior demora na avaliação dos pedidos de utilização excecional feitos no SNS.

Questionado ontem pelo i, o conselho diretivo da ADSE não esclareceu como será feita a avaliação. Como o i noticiou na edição de quarta-feira, as novas regras para acesso a medicamentos inovadores foram comunicadas aos hospitais a 23 de agosto. A ADSE esclareceu ontem que as mudanças resultam da publicação do decreto-lei n.º124/2018, de dezembro do ano passado, passando a prever que a ADSE comparticipa medicamentos que já sejam financiados pelo SNS e que em situações excecionais “possa ser conferida uma autorização especial de financiamento pela ADSE, em casos imperiosos para a saúde do doente, designadamente quando o mesmo corra risco imediato de vida ou de sofrer complicações graves. Esta exceção apenas deve ser utilizada quando não existem alternativas terapêuticas com decisão de financiamento pelo SNS para a população alvo e indicação terapêutica.” Foi esse novo mecanismo de autorização que foi agora operacionalizado para medicamentos oncológicos. Ao i, a ADSE disse que já existe para outras áreas e que “desenvolveu uma plataforma informática para os prestadores poderem solicitar as autorizações, a qual foi disponibilizada no dia 2 de setembro, o que permitiu desmaterializar o processo”.

Para esta quinta-feira estava já marcada uma reunião do Conselho Geral e de Supervisão do subsistema de saúde, que irá discutir agora estas alterações. João Proença, presidente deste órgão, disse que está em causa tornar o acesso à medicação mais criterioso com um mecanismo idêntico ao de outros sistemas de saúde e companhias se seguro.

Para a Ordem, coloca-se a questão de poderem ser limitadas propostas de tratamento fundamentadas pelos médicos, o que tem vindo a ser denunciado nos últimos dias relativamente a pedidos feitos ao Infarmed para a utilização excecional no SNS de medicamentos que ainda estão em avaliação farmaco-económica, o processo que leva à decisão de comparticipação dos medicamentos. “Quem prescreve um medicamento destes não é o médico a ou b, mas um grupo de especialistas que inclui oncologistas, radioterapeuta, anatomopatologista. Os médicos organizaram-se em grupos oncológicos e estão ali para cumprir a leges artis, as guide lines internacionais, tratando-se de medicamentos que estão aprovados ou pela agência de medicamentos americana ou europeia.”

Esta terça-feira a ministra da Saúde rejeitou dificuldades no acesso a medicamentos inovadores por motivos financeiros, considerando que o que pode estar em causa são “divergências entre análises técnicas e clínicas”, que poderão exigir mais discussão e formulação. Miguel Guimarães diz que a Ordem já se tinha disponibilizado para apoiar o Infarmed e mantém essa disponibilidade, mas considera que está em causa uma “situação grave” de protelamento do acesso a medicação que coloca em risco a saúde de doentes. A partir desta semana, adiantou ainda ao bastonário, ficará constituído o Gabinete de Apoio ao Acesso a Inovação Terapêutica e Tecnológica, que passará a acompanhar casos de recusa de medicação denunciados à Ordem. Na segunda-feira, a ordem anunciou que este gabinete irá trabalhar com médicos, colégios, sociedades científicas e associações de doentes para “reclamar, caso a caso, o acesso aos tratamentos que estão devidamente validados cientificamente pela comunidade científica e pela Agência Europeia do Medicamento.”