O Papa, Eusébio, as Descobertas e a escravatura


A intolerância de uns tantos à diferença faz com que livres pensadores tenham quase medo de dizerem o que lhes vai na alma, já que temem ser logo apelidados de fascistas, homofóbicos ou xenófobos. 


Num mundo com tanta agitação, onde as pessoas destilam ódio a tudo aquilo com que não concordam, a atitude do Papa Francisco é uma autêntica lufada de ar fresco. Na sua visita a África e, nomeadamente, a Moçambique, o chefe máximo da Igreja conseguiu passar uma mensagem de esperança a um povo que bem precisa dela. Francisco diz coisas simples, mas muito assertivas. Quando apela aos moçambicanos que não deixem que ninguém lhes tire o prazer de serem felizes, de se divertirem como só eles sabem, o Papa dá o recado aos políticos locais para acabarem de vez com a guerra. “Foi impressionante ver jovens de diferentes confissões religiosas, filhos da mesma terra, juntos. Todos somos necessários com as nossas diferenças. Aliás, as nossas diferenças são necessárias”, acrescentou. Uma realidade tão esquecida cá no burgo, onde a tentativa de imposição do pensamento único parece ganhar espaço a cada dia que passa. A intolerância de uns tantos à diferença faz com que livres pensadores tenham quase medo de dizerem o que lhes vai na alma, já que temem ser logo apelidados de fascistas, homofóbicos ou xenófobos. A história da construção do museu da escravatura em detrimento do dos Descobrimentos é um ótimo exemplo do pensamento único. Mas voltemos ao Papa que não tem teias de aranha na cabeça e fala de todos os assuntos com frontalidade. Seja sobre os abusos sexuais na Igreja ou as más condições de vida de tantos milhões de pessoas, a verdade é que Francisco é um verdadeiro líder, à escala planetária, dos oprimidos. Há muito tempo que a Igreja não estava tão ao lado dos pobres como agora. Mas se fala de assuntos sérios, também não tem pejo em entrar em campos mais ligeiros e, por isso, não deixou de dar um sinal de esperança com a história do grande Eusébio da Silva Ferreira, “o pantera negra”. “Começou a sua vida desportiva num clube desta cidade [Maputo]. As graves dificuldades económicas da sua família e a morte prematura do seu pai não impediram os seus sonhos; a sua paixão pelo futebol fê-lo sonhar e continuar para diante”, mencionou, acrescentando: “Não faltavam razões para se resignar… O seu sonho e vontade de jogar lançaram-no para diante”, tendo conquistado Portugal e o mundo. Claro que as mentes mais tortuosas ainda o vão acusar de fazer a apologia das Descobertas…