A organização liderada por José Ángel Gurría receia que a Alemanha e o Reino Unido voltem a registar uma quebra, empurrando os dois países para um cenário de recessão técnica
Os alertas de recessão vão-se sucedendo e os alarmes voltaram a soar ontem com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) a alertar para um abrandamento económico no segundo trimestre. De acordo com os mesmos dados, o crescimento económico desacelerou para 0,5% entre abril e junho em relação aos três meses anteriores no conjunto da organização – que incluiu economias como Portugal. No trimestre anterior tinha crescido 0,6%.
O Reino Unido e a Alemanha são apontadas como as economias com pior desempenho. “O crescimento do PIB desacelerou acentuadamente” no Reino Unido, que registou uma contração de 0,2% face ao crescimento de 0,5% entre janeiro e março, enquanto na Alemanha, o crescimento recuou 0,1% em comparação com a expansão de 0,4% no trimestre anterior.
O risco para a OCDE é que a contração na Alemanha e no Reino Unido continue no terceiro trimestre, empurrando os dois países para aquilo que os economistas classificam de recessão técnica (dois trimestres consecutivos com a economia em queda).
E os dados não são animadores. Ainda esta segunda-feira foi revelado que o índice de confiança empresarial na Alemanha caiu em agosto para 94,3 pontos, o mínimo desde novembro de 2012, aumentando os sinais de uma recessão na maior economia da zona euro, revelou o Instituto Ifo. Segundo os mesmos dados, as empresas estão menos satisfeitas com a situação atual, enquanto aumenta o pessimismo em relação aos próximos seis meses.
No setor manufatureiro, a diminuição da confiança empresarial não dá sinais de travar e, quer a satisfação com a atual situação, como as expectativas, já estão em valores negativos. “A última vez que as empresas industriais mostraram pessimismo foi no ano da crise de 2009. Não se vê um raio de luz em nenhuma das principais indústrias da Alemanha”, salientou o instituto.
Nos serviços, a confiança empresarial deteriorou-se significativamente devido à valorização menos favorável da situação atual e ao crescimento do ceticismo face ao futuro próximo. Já no comércio, o índice de confiança empresarial caiu em terreno negativo, o que se deveu à grande distribuição. Por sua vez, na construção, a confiança empresarial caiu ligeiramente, pois as empresas estão menos confiantes com a sua situação atual e não esperam grandes mudanças nos próximos meses, embora as condições empresariais sejam, todavia, “muito favoráveis”.
A OCDE indica ainda que o crescimento desacelerou “marginalmente” na economia francesa ao abrandar para 0,2% no segundo trimestre, face aos 0,3% no trimestre anterior. Já a economia italiana registou um crescimento nulo (0%) depois da expansão de 0,1% entre janeiro e março.
EUA também abranda
O PIB desacelerou nos Estados Unidos, no entanto, segundo a OCDE, foi registado de forma mais “moderada”, recuando para 0,5% face aos 0,8% registados no trimestre anterior.
Mas também neste mercado as notícias não são animadoras. Vários analistas têm vindo a apontar para uma desaceleração na economia do país dentro de 12 a 18 meses. Um risco, entretanto, já afastado por Donald Trump ao garantir que a economia americana está “muito longe de uma recessão”, considerando mesmo que a palavra recessão seria “inapropriada”. Ainda assim, o Presidente dos Estados Unidos já veio garantir que a sua administração está a analisar a possibilidade de efetuar uma nova redução nos impostos. “Uma redução dos encargos sociais está a ser pensada”, frisou.
O mesmo cenário assistiu-se no Japão com o crescimento económico a abrandar para 0,4% depois dos 0,7% nos três meses anteriores. Ainda não estão disponíveis dados para o Canadá que registou um crescimento de 0,1% no primeiro trimestre do ano em relação aos três meses anteriores.
A OCDE indica ainda que o crescimento do PIB também abrandou na União Europeia e na zona euro para 0,2% em ambos os casos, no segundo trimestre, em comparação com os avanços de 0,5% e 0,4%, respetivamente, no trimestre anterior.
Em comparação com o segundo trimestre de 2018, o crescimento económico no conjunto dos países da OCDE “abrandou marginalmente para 1,6%”, no segundo trimestre, em comparação com a expansão de 1,7% nos primeiros três meses do ano, face ao mesmo período do ano passado.
Novos apoios
Face a este abrandamento económico que já era expectável, o Banco Central Europeu poderá vir a apresentar já em setembro um novo pacote de medidas para estimular a economia. Em cima da mesa poderá estar a combinação de descidas das taxas de juro – que está atualmente nos 4% – e na compra de ativos. Aliás, este foi um dos assuntos debatidos na reunião de política monetária do BCE, a 25 de julho.
“As várias opções devem ser vistas como um pacote, ou seja, uma combinação de instrumentos com complementaridade e sinergias significativas, uma vez que a experiência [passada] tem mostrado que um pacote de medidas – como a combinação de corte de juros e compras de ativos – foi mais eficaz do que uma sequência de ações seletivas”, referem as atas dessa reunião.
Recorde-se que a reunião de 12 de setembro será o penúltimo encontro de política monetária do conselho de governadores do BCE sob a presidência de Mario Draghi, que abandonará o cargo a 31 de outubro, a mesma data em que está marcada a saída oficial do Reino Unido da União Europeia, com ou sem acordo. A 1 de novembro, Christine Lagarde assumirá a liderança do BCE.