França. O Jardim do Principado deixou de dar flores e frutos

França. O Jardim do Principado deixou de dar flores e frutos


Temporada nova, resultados velhos: decorridas duas jornadas da Ligue 1, o Mónaco soma duas derrotas por 3-0. A matéria-prima é pouca e o prazo para contratações também, pelo que urge tomar uma atitude. Mas há mais técnicos portugueses a passar por um calvário semelhante.


“Nunca voltes ao lugar/Onde já foste feliz/Por muito que o coração diga/Não faças o que ele diz”. A um dos mais belos temas do cancioneiro português, Rui Veloso e Carlos Tê deram o nome de As regras da sensatez. Já fazia sentido em 1998, quando se ouviu pela primeira vez no álbum Avenidas; continua a fazer sentido em 2019 – se alguém duvida, que olhe para o penoso fim da temporada passada do Mónaco de Leonardo Jardim… e o início da atual.

Dois jogos, duas derrotas por 3-0, dois jogadores expulsos na primeira meia-hora: um pecúlio triste, muito triste, e acima de tudo muito preocupante. O técnico madeirense fez um trabalho belíssimo nas primeiras quatro temporadas ao comando do conjunto do Principado, conseguindo inclusive um impensável título de campeão em 2016/17, além dos mais de 800 milhões de euros que deu a ganhar ao clube com a potencialização e venda de ativos – de James Rodríguez a Mbappé, passando por Bernardo Silva, Lemar, Mendy ou Fabinho.

o erro remediado A partir de uma determinada altura, porém, o conto de fadas começou a transformar-se num pesadelo para Jardim. As saídas deixaram de ser devidamente compensadas e os efeitos a nível desportivo fizeram-se sentir, nomeadamente a partir da fase inicial da temporada passada. Em outubro, à passagem da jornada 9, o Mónaco somava apenas seis pontos e estava na zona de despromoção, tendo ainda averbado mais duas derrotas noutros tantos jogos na Liga dos Campeões.

Surpreendentemente – ou talvez não –, Dmitry Rybolovlev, o multimilionário russo que detém o emblema monegasco, decidiu prescindir dos serviços de Leonardo Jardim, dando a Thierry Henry a oportunidade de se estrear como treinador principal no clube onde se projetou enquanto jogador. Foi pior a emenda que o soneto: os resultados com o antigo internacional francês ao leme não melhoraram (muito pelo contrário) e, nos últimos dias de janeiro, com a equipa na zona de despromoção e já fora da Taça, Rybolovlev voltou a surpreender… contratando novamente Leonardo Jardim, que assinou até junho de 2021. “Temos de admitir que vendemos demasiados jogadores-chave e, apesar do investimento elevado, fizemos erros nos seus substitutos. E a decisão de despedir Leonardo Jardim também foi prematura. Agora percebemos que a sua história aqui não tinha acabado da maneira que devia e que tínhamos de lhe dar uma oportunidade de continuar o seu trabalho”, dizia então Vadim Vasilyev, vice-presidente do clube.

A missão do técnico luso-venezuelano era aí garantir somente a permanência e começar desde logo a preparar a nova temporada, impondo-se uma aposta mais arrojada no mercado de transferências, de modo a dotar a equipa de mais qualidade. O primeiro objetivo foi conseguido no limite: o Mónaco somou apenas duas vitórias nas últimas dez jornadas e terminou dois pontos acima da zona de descida. No que respeita à conceção do plantel, e já depois dos 30 milhões desembolsados para garantir a aquisição definitiva de Gelson Martins, destaca-se o negócio que levou o português Rony Lopes para o Sevilha, com Ben Yedder a fazer o percurso contrário, bem como os 13 milhões pagos ao Everton de Marco Silva pelo extremo nigeriano Onyekuru e ao Montpellier pelo guardião francês Lecomte.

Ao todo, são para já 105 os milhões de euros gastos: os efeitos práticos, como se percebe, é que têm sido nulos. O mercado encerra a 2 de setembro e será aconselhável uma investida séria por uma ou duas trutas que possam acrescentar valia à equipa monegasca. Caso contrário, Leonardo Jardim corre o risco de ver a direção russa cometer mais um “grande erro” e voltar a apontar-lhe a porta de saída.

só um pontinho Não é só Jardim, porém, a viver um desastroso início de temporada em França. Logo acima, com um ponto em dois jogos, surgem André Villas-Boas, contratado este verão pelo Marselha, e Paulo Sousa, que se mantém no comando técnico do Bordéus apesar dos péssimos números que apresenta desde março, quando chegou ao clube girondino: duas vitórias em 12 jogos.

O antigo campeão nacional pelo FC Porto iniciou a aventura francesa com um desaire caseiro perante o Reims (0-2), empatando no último fim de semana a zeros em Nantes – com Payet a ceder um penálti ao reforço Benedetto… e este a falhar, o que deixou o técnico luso fora de si. Já o Bordéus de Paulo Sousa empatou na receção ao Montpellier (1-1), depois da derrota na primeira ronda frente ao Angers (3-1). A conversa dos bons ventos costuma ser aplicada a Espanha, mas por França o clima também vai agreste para os treinadores lusos.