A petição para travar a construção de um museu dedicado a Salazar já contava, ontem à noite, com quase sete mil assinaturas e engrossa a contestação contra a iniciativa do presidente da câmara de Santa Comba Dão. A petição, lançada, entre outros, pelo ex-líder da CGTP, Carvalho da Silva, a escritora Maria Teresa Horta e antigo reitor da Universidade de Lisboa José Barata Moura, apela ao Governo que “intervenha no sentido de impedir a concretização de um tal projeto que, longe de visar esclarecer a população e sobretudo as jovens gerações, se prefigura como um instrumento ao serviço do branqueamento do regime fascista”.
Joana Lopes, uma das promotoras da petição “Museu de Salazar, não!”, diz ao i que um dos objetivos é alertar para o risco deste museu se transformar num “centro de romaria para fascistas como já aconteceu em outros países”. Figuras como o deputado do Bloco de Esquerda José Manuel Pureza ou a ex-secretária de Estado da Educação Ana Benavente anunciaram, nas redes sociais, o seu apoio ao documento que manifesta “o mais veemente repúdio pela criação do Museu Salazar” e surge como um sinal de apoio aos mais de 200 ex-presos políticos que enviaram uma carta ao primeiro-ministro a apelar ao executivo para que impeça esta iniciativa. Domingos Abrantes, conselheiro de Estado e histórico do PCP, justifica a iniciativa com a necessidade de travar um museu que pretende fazer “propaganda” e “promover o papel” de Salazar. “A Constituição da República proíbe propaganda fascista”, diz ao i Domingos Abrantes.
Obras começam em agosto
As obras para a construção do museu na antiga Escola Cantina Salazar, designado Centro Interpretativo do Estado Novo, deverão começar ainda durante este mês. A autarquia prevê gastar, nesta primeira fase, cerca de 150 mil euros e pretende concluir a obra até ao final deste ano.
A ideia de lançar um museu com estas características insere-se na estratégia do autarca socialista para promover “uma forte aposta no turismo”. Numa mensagem dirigida à população, no início deste ano, Leonel Gouveia já destacava “a requalificação da Escola-Cantina Salazar em Centro Interpretativo do Estado Novo” como uma das medidas para atrair turistas.
O autarca garante, num artigo publicado na página da Câmara, que “este será um local para o estudo do Estado Novo e nunca um santuário para nacionalistas. O que vai ser dado a conhecer é um período de 50 anos da história do nosso país, que teve como figura chave Salazar”.
O autarca polémico
Leonel Gouveia conquistou a câmara ao PSD nas autárquicas de 2013 e reforçou a votação nas últimas autárquicas com quase 60% dos votos. Na noite em que venceu as eleições, o socialista prometeu trabalhar para mudar “o marasmo e regressão em que caiu Santa Comba Dão, que parou no tempo”. Um dos maiores desafios do autarca foi, porém, ultrapassar uma situação financeira difícil. “Essa é a nossa maior obra. O rigor e o trabalho difícil vão continuar”, disse, numa entrevista ao Jornal do Centro, há uns meses.
Leonel Gouveia foi professor de Biologia e Geologia na Escola Secundária de Santa Comba Dão, mas já estava ligado à política antes de liderar a autarquia. Foi adjunto e chefe de gabinete do governador civil do distrito de Viseu, entre 2008 e 2011. E já tinha sido vereador na autarquia a que agora preside entre 2003 e 2013.
A construção do chamado Museu Salazar foi, desde o início, um dos objetivos do autarca eleito pelo PS. Depois de muitos adiamentos, a Câmara aposta em abrir este espaço até ao final do ano.
“Trata-se de um museu para promover o papel de Salazar. Com todos os perigos que isso envolve” Domingos Abrantes ex-preso político “Um tal projeto que, longe de visar esclarecer a população e sobretudo as jovens gerações, se prefigura como um instrumento ao serviço do branqueamento do regime fascista e um centro de romagem para os saudosistas do regime derrubado com o 25 de Abril” Petição “Museu de Salazar, não!” Este será um local para o estudo do Estado Novo e nunca um santuário para nacionalistas” Leonel Gouveia presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão “Vai ser um centro de romaria para fascistas como já aconteceu em outros países” Joana Lopes promotora da petição “Museu de Salazar, não!”“Trata-se de um museu para promover o papel de Salazar. Com todos os perigos que isso envolve”