Sindicato. Sem resposta da ANTRAM, proposta do Governo “é insuficiente”

Sindicato. Sem resposta da ANTRAM, proposta do Governo “é insuficiente”


Até sábado, o país vai viver no impasse: ou a greve se realiza, ou é cancelada. Enquanto não se sabe, o Governo faz de tudo – incluindo simulacros. Até Marcelo já deixou um aviso.


A tensão aumenta na contagem decrescente para a próxima greve dos motoristas. As acusações vão em todas as direções, os sindicatos avançam com informações diferentes e o Governo prepara todos os meios para evitar que a greve se faça sentir.

O Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) juntou-se às negociações com o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) em junho. Avançaram juntos para greve, mas desde essa altura que se manifesta algum desentendimento entre as duas partes. Primeiro, em relação ao pré-aviso de greve que, tal como o i noticiou, não estipulava serviços mínimos para os supermercados. Só no dia em que os sindicatos reuniram com o Governo e ANTRAM para discutir os serviços mínimos é que o SIMM apresentou uma adenda ao pré-aviso, acrescentando os serviços mínimos de 25% para os bens perecíveis. Ontem, em relação à proposta do Governo, Anacleto Rodrigues (SIMM) garantiu ao i que a proposta ainda não foi aceite nem recusada, uma vez que só no próximo sábado será apresentada aos filiados. “Aquilo que foi apresentado não nos serve e, enquanto dirigentes, não quisemos tomar uma posição ali”, esclareceu Anacleto Rodrigues.

Já do lado do SNMMP, a posição não é tão branda. Ao i, o advogado Pedro Pardal Henriques explicou que Pedro Nuno Santos, ministros das Infraestruturas e da Habitação, propôs que a greve fosse cancelada “em troca de um recomeço de um processo negocial mediado pelo ministério, mas que não é vinculativo, nem garantido”. Por esta razão, o sindicato representante dos motoristas de matérias perigosas agradeceu “esse empenho, porque pela primeira vez há uma preocupação em resolver o problema que está na génese da greve, mas [considerou não ser] suficiente”. “Se não existir uma resposta da ANTRAM, a proposta do senhor ministro é insuficiente e a greve manter-se-á, sendo que a ANTRAM é a única responsável pela mesma”, avançou Pedro Pardal Henriques.

Governo faz simulacros Ontem, durante a reunião mensal do Centro de Coordenação Operacional Nacional ficou decidido avançar com um simulacro para testar os corredores de emergência para o transporte de matérias perigosas. O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, esteve presente na reunião para acertar os últimos pormenores do planeamento para assegurar o abastecimento dos postos de combustível durante a greve e garantiu que não existe qualquer problema com os combustíveis. “Há reservas de combustíveis acumuladas para mais de dois meses”, disse Eduardo Cabrita, acrescentando que tem “as melhores expectativas” que os seus colegas “de Governo sejam bem sucedidos na promoção do diálogo social”.

Marcelo reage à greve Arriscam ter contra si a “generalidade dos portugueses”, disse Marcelo Rebelo de Sousa em reação à greve do próximo dia 12 de agosto. O Presidente da República considerou ontem que os portugueses podem achar “que o sacrifício é excessivo”. “Não basta que os fins sejam legítimos, é preciso que os meios não venham prejudicar os fins”, acrescentou à entrada para uma aula de Direito.

Marcelo reconheceu que “a melhor maneira de melhorar as condições laborais, nas cargas e descargas, ou em qualquer outro tipo de atividade” será “promover a negociação e obter algumas vantagens”, ou “ir para greve”. No entanto, salientou que é preciso “ter presente como os portugueses vão receber” a greve. “Se, de repente, há na sociedade portuguesa um sentimento de que uma parte importante da sociedade está refém dessa luta, deixa de se identificar com essa luta”, disse.

Empresas pedem ilegalidade da greve Cinco empresas transportadoras decidiram ontem avançar com uma providência cautelar para pedir a ilegalidade do pré-aviso de greve. A informação foi avançada pelo advogado das empresas, Carlos Barroso, à Lusa, que apenas adiantou que em causa estão três empresas de matérias perigosas e duas empresas de carga geral. Sobre esta questão, o advogado do SNMMP disse que é apenas “mais uma forma de tentar bloquear os direitos dos trabalhadores”.

ANTRAM só fala com FECTRANs As acusações da ANTRAM aos sindicatos que convocaram a greve continuam e o dia de ontem não foi exceção. André Matias de Almeida, porta-voz da ANTRAM, acusou o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas de não fazer “nenhuma cedência” nas propostas. “Este sindicato não tem outra vontade que não seja a de fazer a greve”, disse.

A ANTRAM reuniu ontem com a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS) no Ministério das Infraestruturas e André Matias de Almeida garantiu, antes do encontro, que o contrato coletivo de trabalho agora discutido não inclui os motoristas filiados nos sindicatos que marcaram a greve. Questionado sobre esta possibilidade, José Manuel Oliveira, coordenador nacional da FECTRANS, apenas referiu que a sua estrutura sindical “é subscritora de um contrato coletivo de trabalho e está a proceder à sua revisão”.