O centro da Europa está de novo em alerta com temperaturas muito elevadas e as previsões sugerem que poderá ser batido o recorde de 40,4ºC registado em Paris há 70 anos. Portugal escapa à segunda “onda de calor” europeia deste verão? Não é bem assim: a massa de ar quente que agora está a dirigir-se para o interior do continente esteve por detrás das temperaturas elevadas dos últimos dias, explicou ao i Ângela Lourenço, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Em Portugal não chegou a haver tecnicamente uma onda de calor, uma vez que as temperaturas estiveram acima do normal três a quatro dias, tendo entretanto começado a baixar – para ser declarada uma onda de calor, as temperaturas têm de estar acima do normal seis dias consecutivos.
Agora, com a deslocação desta massa de ar quente proveniente do norte de África para o interior do continente europeu, prevê-se que os termómetros continuem a baixar, até porque o país começará a ter a influência de uma massa de ar marítima, do Atlântico. “Prevê-se uma descida gradual das temperaturas, o ar quente vai ser substituído por um ar mais ameno e húmido, que mais tarde vai acabar por varrer também a Europa”, descreve Ângela Lourenço, explicando que a perceção destes períodos mais quentes acaba por resultar daquilo a que a população está habituada. “Em Portugal é normal termos alguns dias com 40ºC no verão, o que não é tão habitual no centro da Europa”.
Por cá prevê-se nebulosidade já a partir desta quinta-feira e há a possibilidade de ocorrência de aguaceiros, nomeadamente no litoral, onde as temperaturas vão baixar para a casa dos 20ºC no fim de semana. Estas mudanças de temperatura são por vezes associadas a maior instabilidade atmosférica: há duas semanas, depois de dias quentes, a queda de granizo surpreendeu a população de Mogadouro. Esta semana foi registada trovoada.
Pode falar-se de um verão atípico com tantas mudanças do tempo? Ângela Lourenço diz que essa análise só pode ser feita à posteriori, sendo que as médias acabam por não captar bem o fenómeno: dias mais frescos seguidos de dias mais quentes dão médias normais. Para já, o último boletim climatológico do IPMA, de junho, conclui que o mês foi mais frio do que o normal, tendo sido mesmo o 13.º junho mais fresco desde que há registos. A precipitação esteve dentro dos valores normais, mas metade do território estava no final do mês passado em seca moderada ou severa, situação que os chuviscos dos próximos dias não deverá alterar – não é esperada chuva no interior.
Segunda-feira foi o dia com as temperaturas mais elevadas neste recente período de tempo quente, com as temperaturas a chegarem aos 40ºC em vários pontos do país, inclusive em Castelo Branco, onde o risco máximo de incêndio acabou por ser real. O fogo que começou no sábado em Vila de Rei e que alastrou para o concelho de Mação – agora em fase de resolução – ontem ainda mobilizava cerca de 600 homens. Segundo as últimas estimativas da plataforma europeia EFFIS, que assenta em imagens de satélite, o incêndio consumiu 9515 hectares e é o maior registado este verão na Europa. À hora de fecho desta edição, um fogo que deflagrou durante a tarde em Alijó, Vila Real, mobilizava mais de 300 operacionais.