No princípio, foi Rafinha. Depois, chegaram Pablo Marí e Gerson. Agora, foi a vez de Filipe Luís. A direção do Flamengo apostou forte ao ir buscar Jorge Jesus para o comando técnico e também está a mostrar que não tem medo de abrir os cordões à bolsa para dar ao treinador português reforços de peso, veteranos ou mais jovens mas todos com experiência e traquejo no futebol europeu.
Filipe Luís, já se disse, é o mais recente reforço – mas, muito provavelmente, não será o último. Prestes a fazer 34 anos, e depois de 13 anos a jogar em Espanha – apenas com uma época em Inglaterra, no Chelsea, de permeio –, o lateral-esquerdo brasileiro regressou ao seu país para jogar naquele que é, na verdade, o clube do seu coração. A mudança fez-se a custo zero, uma vez que a ligação de Filipe Luís com o Atlético de Madrid tinha terminado, mas ninguém duvida que o valor dos salários será bem mais alto que o de muitos dos seus colegas: o defesa canhoto fez 333 jogos (e 12 golos) nas oito temporadas em que representou os colchoneros, somando ainda passagens de uma época por Ajax e Real Madrid B (ambas numa fase muito embrionária da carreira) e de quatro épocas pelo Corunha.
O palmarés é o segundo melhor do plantel do Mengão – Filipe Luís, aliás, fez parte do grupo do escrete que acabou de vencer a Copa América em casa, com quatro jogos efetuados. Pelo Atlético de Madrid conquistou um campeonato, uma Taça, duas Ligas Europa e uma Supertaça Europeia, além de disputar duas finais da Liga dos Campeões, ambas perdidas frente ao eterno rival, o Real. Foi ainda campeão inglês e vencedor da Taça da Liga na única temporada em que atuou na Premier League, sob o comando de José Mourinho, fazendo também parte do grupo que conquistou a Taça das Confederações de 2013 pela seleção canarinha, então com Luiz Felipe Scolari ao leme, embora não tenha feito qualquer minuto na competição (Marcelo era o dono e senhor do lugar).
Reforços milionários Dissemos acima que o palmarés de Filipe Luís é o segundo melhor do plantel do Flamengo. E isto porque existe no outro flanco da defesa um atleta chamado Rafinha, que não foi tão bem sucedido a nível de seleção (soma apenas quatro internacionalizações e nunca esteve presente em fases finais de Mundiais ou Copa América) mas que fez uma carreira plena de conquistas na Alemanha, nas oito temporadas que passou ao serviço do Bayern de Munique: 16 títulos no total, com sete campeonatos, quatro Taças e duas Supertaças, além de uma Liga dos Campeões, uma Supertaça Europeia e um Mundial de Clubes.
Muito perto de completar 34 anos, tal como Filipe Luís, Rafinha aceitou o convite do Fla para regressar ao Brasil, 14 anos depois de ter partido para a Europa, então trocando o Coritiba pelo Schalke 04. O lateral-direito soma já dois jogos pelo Flamengo, ao contrário de Gerson, que se estreou este domingo no empate (1-1) em casa do Corinthians, e de Pablo Marí, que ainda espera pela primeira chamada.
Deste lote de reforços “europeus”, Gerson será mesmo o nome mais surpreendente. O médio centro brasileiro tinha saído há apenas três anos para a Roma, que pelo seu passe pagou 15 milhões de euros ao Fluminense (arquirrival do Mengão), e assinou agora por quatro temporadas com o Flamengo, que deixou cerca de dez milhões de euros nos cofres dos romanos. Gerson, hoje com 22 anos, acabou por nunca se conseguir impor na equipa da capital, tendo sido cedido à Fiorentina na última temporada (40 jogos e três golos).
Já Pablo Marí é um central espanhol de 25 anos que chega ao Rio de Janeiro proveniente do Manchester City – onde nunca jogou –, com o Flamengo a pagar 1,3 milhões pela transferência. Na última época, Marí foi colega de setor do português Domingos Duarte no Corunha, que falhou o objetivo da subida ao primeiro escalão espanhol nos últimos minutos da segunda mão do playoff.
Estaleca na casa Este quarteto juntou-se, no Ninho do Urubu, a vários outros jogadores com passagens mais ou menos significativas pela Europa. O guardião Diego Alves, notabilizado pelos seis anos no Valência, e o criativo Diego, campeão em Portugal ao serviço do FC Porto e em Espanha no Atlético de Madrid, além de várias épocas no Werder Bremen, Juventus, Wolfsburgo e Fenerbahçe, serão os mais bem sucedidos, mas há ainda o central Rhodolfo (dois anos no Besiktas), os extremos Bruno Henrique (dois anos no Wolfsburgo) e Vitinho (quatro anos no CSKA de Moscovo), além do avançado Gabigol (passagens infelizes por Inter de Milão e Benfica).
Há, portanto, matéria-prima para Jesus trabalhar e moldar à sua imagem, tendo por base um objetivo muito concreto: devolver o Flamengo aos títulos e assim regressar às origens do “cheirinho”, expressão criada em 2016 pelos seus adeptos quando o título do Brasileirão, que foge desde 2009, parecia estar muito perto, tão perto que até já se sentia o cheirinho no ar… mas acabou por ser o Palmeiras a vencer a prova. Desde então, a expressão é utilizada pelos adversários para ironizar com todas as derrotas e eliminações do gigante do Rio de Janeiro, como aconteceu ainda na semana passada após a derrota no desempate por grandes penalidades frente ao Athletico Paranaense, nos quartos-de-final da Copa do Brasil – lá está: mais uma vez, o Flamengo ficou “apenas no cheirinho”.
A Taça já lá vai, mas Jorge Jesus tem ainda aspirações legítimas em duas provas – as mais importantes, na verdade: o campeonato e a Libertadores. No Brasileirão, o Flamengo está no terceiro posto, a cinco pontos de Palmeiras e Santos, quando estão decorridas apenas 11 jornadas de um total de 38 e, portanto, com muito ainda por jogar; na competição continental, que o clube não vence desde 1981 e que Jesus frisou ser um objetivo claro, de modo a poder disputar o Mundial de Clubes em dezembro, o Mengão está nos oitavos-de-final, onde terá pela frente o Emelec, do Equador. A primeira mão disputa-se na próxima madrugada, em solo equatoriano, com a segunda a realizar-se uma semana depois no Maracanã.