O estado da nação


É um facto que se esperava pior, mas o pior foi substituído por uma fórmula anestesiante, assente no aumento dos impostos indiretos, protegida pela recuperação económica internacional, ancorada no turismo e sem bases sólidas, um somatório de medidas desgarradas, o caos nos serviços públicos da responsabilidade dos portugueses que deles precisam.


Ontem, na Assembleia da República, os portugueses escutaram um Governo a desafiar a verdade. Um Governo que se autointitula como tendo registado assinaláveis progressos na demografia, nas alterações climáticas, assumindo, para incredulidade dos ouvintes, um ímpeto reformista que nunca se discerniu na ação e reclamando opções assentes numa lógica de longo prazo que jamais se distinguiu na legislação.

Porém, travando o entusiasmo,lá se foi subtilmente assinalando que não vive num oásis menos ainda em país cor-de-rosa, não obstante o mesmo ser retratado como tal. É uma fotografia distorcida, um espelho circense daqueles que animam as pessoas fascinadas por uma realidade paralela. Não gostar de enfrentar problemas é um traço cultural muito presente, talvez dominante na sociedade portuguesa e que se alimenta do desespero e da fragilidade de muitos.

É um facto que se esperava pior, mas o pior foi substituído por uma fórmula anestesiante, assente no aumento dos impostos indiretos, protegida pela recuperação económica internacional, ancorada no turismo e sem bases sólidas, um somatório de medidas desgarradas, o caos nos serviços públicos da responsabilidade dos portugueses que deles precisam.

Perdeu-se uma oportunidade histórica: os resultados são insatisfatórios. Os conflitos laborais dispararam, o SNS capitulou, o investimento soçobrou, a carga fiscal subiu, as reformas ficaram no bolso, acompanhados por sinais indesejáveis como a queda da poupança e da produtividade e o regresso do famigerado défice externo.

Portugal está adiado. Tem de se mudar muito. Os partidos, sim; as pessoas também! A oportunidade perdeu-se, não volta.

 

Deputado do PSD