Gerês. Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro só vai combater fogos

Gerês. Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro só vai combater fogos


Pela primeira vez nos últimos anos, durante todo o verão o Gerês não vai ter equipa de resgate para turistas ou para socorrer os feridos nas cascatas do Arado e do Tahiti. Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) está 100% focado nos incêndios.


O Parque Nacional da Peneda-Gerês e os concelhos limítrofes dos distritos de Viana do Castelo, de Braga e de Vila Real não terão este ano uma única equipa da GNR para resgate em montanha, o que acontece pela primeira vez nos últimos anos, apesar de nesta época estarem a registar-se vários casos de turistas perdidos e lesionados nos trilhos e nas cascatas, incluindo diversos casos mortais.

Nos últimos 15 anos, só na área do parque nacional ocorreram oito fatalidades, incluindo a de um casal que morreu abraçado ou a de um homem que faleceu à frente do filho, já para não falar dos pelo menos 46 feridos graves e 978 feridos ligeiros. Só no ano passado houve o registo de três mortos.

Apesar de ser o único parque nacional português, o Gerês, com uma linha de fronteira de cerca de 100 quilómetros e quase 70 mil hectares, está este ano sem uma das suas principais valências operacionais, sobrecarregando as corporações dos bombeiros e as delegações da Cruz Vermelha Portuguesa, já de si atarefadas esta época com o combate aos fogos florestais e o transporte de doentes.

Os Bombeiros Voluntários de Terras de Bouro, que se destacam pelo conhecimento profundo da zona, têm uma Equipa de Resgate em Grande Ângulo, mas neste momento contam apenas com metade dos elementos, devido à emigração crónica que tem vindo a diminuir as fileiras da corporação.

Em declarações ao i, o comandante José Amaro, confirmou que, não sendo ainda oficial, a ausência do GIPS em missões de busca e resgate em montanha “obrigará a esforços da nossa parte ainda maiores, aos quais nunca nos regatearemos, mas era melhor continuar a existir essa valência da GNR no terreno, porque temos muitas solicitações, em especial nesta época do ano, com o aumento exponencial de turistas no Gerês”.

O presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, Manuel Tibo, independente que foi eleito nas listas do PSD e é ainda o líder da direção dos bombeiros terrabourenses, assegura que a sua corporação está à altura dos desafios emergentes, mas não esconde que a presença daquela equipa avançada do GIPS era uma mais-valia, até porque a população do concelho aumenta bastante nos meses de verão, com a presença dos emigrantes da terra e de turistas.

Câmara melhora trilhos

Fazendo o seu trabalho de casa, a autarquia investiu na limpeza e requalificou durante as últimas semanas, em Terras de Bouro, a sinalética e a segurança dos caminhantes trilhos pedestres Na Senda de Miguel Torga, nas Serras Amarelo e do Gerês, porque se registam todos os anos muitos casos de turistas perdidos, cujo resgate tem sido a grande tarefa dos bombeiros locais, do GIPS e da GNR da zona. O crescimento rápido da vegetação naquela zona serrana tapa a sinalética, originando que algumas vezes os turistas se desorientem e alguns se percam, pelo que a autarquia aposta na prevenção.

A Câmara Municipal de Terras de Bouro mantém em curso várias intervenções no sentido de renovar aquela rede de trilhos pedestres, a os serviços municipais remarcaram a Grande Rota (GR) 34 da Serra Amarela e à alternativa do PR 9 – Trilho da Geira Romana, fazendo este passar pela Capela de Nossa Senhora da Nazaré, localizada na freguesia de Chorense.

Além das remarcações mencionadas, a equipa de Sapadores Florestais finalizou as intervenções nos trilhos PR1 – Trilho Cidade da Calcedónia, PR2 – Trilho do Castelo, PR6 – Trilho dos Miradouros e PR13 – Trilho da Caniçada, “oferecendo uma experiência mais segura e apelativa ao nível da envolvente natural e dos pontos de interesse que cada um oferece”, referiu o presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, Manuel Tibo.

A uma semana do início do dispositivo de combate a fogos florestais, o GIPS da Guarda Nacional Republicana terá para estas missões duas equipas avançadas, quer em Arcos de Valdevez, quer em Terras de Bouro. Mas esse “regime de exclusividade” de combate aos fogos levou os autarcas da região e os responsáveis do Parque Nacional da Peneda-Gerês, apanhados de surpresa, a aguardar pela concretização da má-nova a partir do próximo dia 1 de julho.

Questionado há uma semana e meia pelo i, o Comando Geral da GNR não revelou o porquê da ausência das equipas de resgate e montanha em Viana do Castelo, Braga e Vila Real, que está a inquietar os empresários turísticos locais.

O local de mais gravidade é em Vilar da Veiga, a maior freguesia do concelho de Terras de Bouro, onde se situa a vila termal do Gerês, pelo que nos últimos anos o GIPS, que faz parte da Unidade de Intervenção da GNR, tinha na zona da Pedra Bela um posto avançado, que permitia em poucos minutos chegar, por exemplo, às Cascatas do Arado e do Tahiti, em vez de demorarem uma hora a chegar de Braga. Mas este ano nem sequer em Braga haverá equipas de busca e resgate em montanha, segundo revelaram ao i fontes ligadas à Proteção Civil, dizendo que “estão todos os militares, todos sem exceção, mobilizados apenas para os fogos florestais”.

Sabendo-se que o fator rapidez, neste tipo de operações, além de mitigar consequências físicas, evita situações de risco de familiares ou amigos das vítimas, que perante a demora da chegada dos meios de socorro são tentados a arriscar-se eles próprios para tentarem retirar os sinistrados de zonas íngremes, é fácil perceber as consequências que poderá ter a ausência dos militares do GIPS. Por outro lado, a Unidade de Intervenção da GNR contribuía para o patrulhamento “musculado” do Gerês, em reforço da GNR da zona.

Deputado socialista questiona

A situação que se vive no Gerês, especialmente no verão, tinha inclusivamente levado o deputado socialista à AR José Manuel Carpinteira a preconizar uma equipa permanente do GIPS na região, não só no Verão, mas todo o ano.

O deputado do PS, antigo presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira, questionou o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, sobre a criação, a curto prazo, de uma equipa da GNR no Parque Nacional da Peneda Gerês. Carpinteira defende que “aquela equipa de busca e resgate em montanha, tal como já existe na Serra da Estrela, deveria estar em “permanência” no único parque nacional português.

Na resposta, ainda segundo o deputado socialista, o ministro Eduardo Cabrita garantiu que “o Governo está atento, o que se comprova com o reforço de segurança que tem vindo a efetuar na área do Parque Nacional da Peneda Gerês”.

José Manuel Carpinteira justificou a implementação da equipa do GIPS da GNR com “a crescente procura deste tipo de atividades por turistas e praticantes de desportos de natureza”, que “tem incrementado, naturalmente, o aumento do número de ocorrências e acidentes, alguns deles graves”.

“Por este motivo, o Comando do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) tem sido permanentemente solicitado com os mais diversos pedidos de colaboração para efeitos de prevenção e gestão da segurança dos praticantes”, concretizou, destacando que “os acidentes ocorridos no Parque Nacional da Peneda-Gerês têm-se agravado, com ocorrências muito mediáticas, que expuseram diversas fragilidades do sistema”.

José Manuel Carpinteira defendeu “ser necessário garantir, de forma especializada, a segurança de todos os que recorrem àquele espaço e a prestação pronta e eficaz do socorro que lhes é devido”.

Meios desdobrados

A prontidão do GIPS, aquartelado em Viana do Castelo, Braga e Vila Real, veio ao de cima, curiosamente, quando os seus meios operacionais passaram a desdobrar-se a nível do combate aos fogos florestais, bem como ao resgate e socorro dos turistas nestes três distritos nortenhos, com ênfase na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG).
Por outro lado, estando positivamente em foco os resgates nas zonas de Terras de Bouro, do distrito de Braga, como Vilar da Veiga, em especial nas cascatas do Arado e do Tahiti, a ausência este ano das equipas de montanha do GIPS é encarada internamente por meios sindicais contactados pelo i como uma alegada “tibieza” do Comando Territorial da GNR de Braga, já de si com dificuldades em reforçar os Postos da Vila do Gerês e de Terras do Bouro.