O primeiro-ministro confirmou ontem que em 2020 as comemorações do Dia de Portugal vão realizar-se junto da comunidade portuguesa em África do Sul. “Para o ano começarão as comemorações na Madeira e terão continuidade na África do Sul”, anunciou António Costa aos jornalistas à saída do Palácio do Povo na cidade cabo-verdiana do Mindelo, onde se encontra a encerrar as comemorações do 10 de junho.
Esta ideia de ‘plano de festas’ na África do Sul para o próximo ano foi, primeiramente, introduzida pelo Presidente da República na segunda-feira, durante as celebrações que decorreram em Portalegre.
“Eu diria, provavelmente, que as comunidades sul-africanas, há muito tempo esperam por essa oportunidade. Mas isso se definirá a seu tempo”, ressalvou o chefe de Estado.
Foram precisas menos de 48 horas para haver uma confirmação. Se Marcelo Rebelo de Sousa quis criar suspense, o primeiro-ministro preferiu acabar rapidamente com o mistério em torno das comemorações do próximo ano. Há quatro meses, tinha sido o PR a levantar o véu, ao revelar que a iniciativa começaria na Região Autónoma da Madeira em 2020. Desde 1977, quando as comemorações do Dia de Portugal começaram a ter lugar em diferentes pontos do país, apenas em 1981 houve iniciativas no Funchal. Os Açores foram palco do 10 de Junho em 1989, 2003 e 2018. Só na Presidência de Marcelo começou a haver também deslocações ao estrangeiro.
Novo modelo de comemorações começou em 2016
“Começámos em França [2016], de França fomos ao Brasil [2017], do Brasil aos Estados Unidos [2018], e vamos agora a Cabo Verde”, recordou o Presidente da República durante as celebrações deste ano.
Por mais que muitos já se tenham habituado a este esquema de celebrações, a verdade é que o modelo que começa em território nacional e acaba no estrangeiro tem apenas três anos de implementação.
“Este modelo despertou o país para uma nova realidade – uma nova realidade que já era antiga. Valeu a pena comemorar o 10 de Junho, por simbólico que fosse, fora das nossas fronteiras físicas, mas dentro do nosso território espiritual”, garantiu o chefe de Estado.
O maior benefício apontado ao novo modelo de comemorações é ser uma forma eficaz de combater a abstenção nas eleições. “Entretanto, aumentou ainda mais a participação das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo e houve uma extensão do direito de voto no sentido do recenseamento automático, alargando de forma impressionante o universo eleitoral fora das fronteiras físicas do país”, apontou o Presidente da República, referindo as recentes mudanças legislativas ao nível do sistema eleitoral.
Um novo foco de atenção política?
Com o recenseamento automático, 1,4 milhões de portugueses residentes no estrangeiro passaram a estar desde o ano passado inscritos nos cadernos eleitorais, quando até aqui eram menos de 300 mil.
Numa entrevista recente ao semanário SOL, o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, admitiu que a mudança nas regras poderá levar os partidos a darem cada vez mais atenção aos portugueses no estrangeiro. “Estou convencido que, cada vez mais, num futuro próximo, os líderes dos partidos políticos irão dar outra atenção ao universo cívico e político da diáspora, dado que este passou a ter outro peso eleitoral.”
O movimento de aproximação à diáspora é notória. À margem das comemorações oficiais, Assunção Cristas e Rui Rio viajaram esta semana para o Brasil para passar o 10 de Junho junto de portugueses emigrados.
Cristas defendeu mesmo em Santos a criação de um novo círculo eleitoral para países lusófonos. “Uma ideia que surgiu um pouco antes desta viagem e que já validámos com a equipa do CDS-PP [na cidade brasileira de] Santos é começarmos a defender mais um circulo eleitoral fora do território português. Neste momento há dois, um para a Europa e outro para o resto do mundo”, disse a dirigente do CDS, citada pela agência Lusa.