Nós e eles


A qualidade dos serviços públicos é outro fator que contribui para o descontentamento dos cidadãos. (“nós”) e a sua revolta contra os políticos (“eles”).


Como era previsível, o discurso de 10 de Junho proferido pelo “cidadão comum” João Miguel Tavares causou algum desconforto entre alguns setores da denominada classe política, principalmente os mais afetos ao Governo.

A escolha do Presidente da República já causara alguma “estranheza” nesses e noutros setores, adivinhando certamente o que aí vinha.

E as expetativas não foram defraudadas.

João Miguel Tavares traçou um quadro realista da sociedade em que vivemos, da desesperança que se instalou nas gerações mais novas, no fosso que se alarga entre os “cidadãos comuns” e os políticos, devido ao sentimento generalizado de que estes constituem uma casta superior, com privilégios a que o comum dos mortais não pode aspirar.

Diria mesmo que se limitou a elencar uma série de factos que talvez só os políticos completamente alheados da realidade não reconhecem como óbvios.

O discurso foi mesmo rotulado de populista, agora um termo muito na moda, muitas vezes usado indevidamente. 

João Miguel Tavares foi mesmo criticado por “não apontar caminhos”, limitando-se a enumerar problemas.

A maioria das críticas reflete com muita clareza o espírito desta classe política, que se fecha sobre si própria e prefere apenas falar, mas sem ver e sem ouvir.

E é aqui que entra o sentimento de oposição entre “nós” e “eles”.

A eterna e inexplicavelmente adiada reforma da lei eleitoral que permita aproximar os eleitores dos eleitos é uma das causas desse sentimento. 

A qualidade dos serviços públicos, inversamente proporcional ao peso dos impostos, é outro fator que contribui para o descontentamento dos cidadãos (“nós”) e a sua revolta contra “eles”.

Só quem nunca se sentiu impotente para resolver assuntos urgentes em repartições públicas ou quem tem amigos e correligionários espalhados pelos serviços do Estado é que não reconhece esta dura realidade.

Podemos ter da política definições diferentes e objetivos também diversos. Podemos seguir Maquiavel e tê-la como um meio para conquistar o poder e conservá-lo, ou vê-la como uma ciência para a governação do Estado, uma arte para conseguir a conciliação de interesses.

Se nos esquecermos da definição de Aristóteles, ignoramos o essencial.

A função central da política é atender aos interesses dos cidadãos, na procura do bem comum. Isto é, da felicidade.

E é esta prática que devemos exigir, começando por participar ativamente na vida da nossa sociedade. 

Só assim seremos só “nós”, deixando de existir os “eles”.

Jornalista
 

Nós e eles


A qualidade dos serviços públicos é outro fator que contribui para o descontentamento dos cidadãos. (“nós”) e a sua revolta contra os políticos (“eles”).


Como era previsível, o discurso de 10 de Junho proferido pelo “cidadão comum” João Miguel Tavares causou algum desconforto entre alguns setores da denominada classe política, principalmente os mais afetos ao Governo.

A escolha do Presidente da República já causara alguma “estranheza” nesses e noutros setores, adivinhando certamente o que aí vinha.

E as expetativas não foram defraudadas.

João Miguel Tavares traçou um quadro realista da sociedade em que vivemos, da desesperança que se instalou nas gerações mais novas, no fosso que se alarga entre os “cidadãos comuns” e os políticos, devido ao sentimento generalizado de que estes constituem uma casta superior, com privilégios a que o comum dos mortais não pode aspirar.

Diria mesmo que se limitou a elencar uma série de factos que talvez só os políticos completamente alheados da realidade não reconhecem como óbvios.

O discurso foi mesmo rotulado de populista, agora um termo muito na moda, muitas vezes usado indevidamente. 

João Miguel Tavares foi mesmo criticado por “não apontar caminhos”, limitando-se a enumerar problemas.

A maioria das críticas reflete com muita clareza o espírito desta classe política, que se fecha sobre si própria e prefere apenas falar, mas sem ver e sem ouvir.

E é aqui que entra o sentimento de oposição entre “nós” e “eles”.

A eterna e inexplicavelmente adiada reforma da lei eleitoral que permita aproximar os eleitores dos eleitos é uma das causas desse sentimento. 

A qualidade dos serviços públicos, inversamente proporcional ao peso dos impostos, é outro fator que contribui para o descontentamento dos cidadãos (“nós”) e a sua revolta contra “eles”.

Só quem nunca se sentiu impotente para resolver assuntos urgentes em repartições públicas ou quem tem amigos e correligionários espalhados pelos serviços do Estado é que não reconhece esta dura realidade.

Podemos ter da política definições diferentes e objetivos também diversos. Podemos seguir Maquiavel e tê-la como um meio para conquistar o poder e conservá-lo, ou vê-la como uma ciência para a governação do Estado, uma arte para conseguir a conciliação de interesses.

Se nos esquecermos da definição de Aristóteles, ignoramos o essencial.

A função central da política é atender aos interesses dos cidadãos, na procura do bem comum. Isto é, da felicidade.

E é esta prática que devemos exigir, começando por participar ativamente na vida da nossa sociedade. 

Só assim seremos só “nós”, deixando de existir os “eles”.

Jornalista