O Ocidente falhou no diálogo intercultural?


A afirmação das diferenças não é uma coisa imediatamente perigosa, é uma interpretação diferente da nossa humanidade. 


Participei num debate, muito interessante, cujo mote foi a questão que dá título a esta crónica. Ora, esta questão é típica de um complexo automutilador do Ocidente, o qual, em muitos momentos, tende a assumir como pressuposto uma responsabilidade unilateral de todos os males que veem ao mundo. Assim não é. Basta, empiricamente, refletir onde fora do Ocidente se foi mais longe no sentido de tratar questões sociais de minorias, reconhecer “o outro”, consagrar normas constitucionais que visam a sua proteção? Pelo contrário, muitas vezes – vezes demais –, as regras fora do Ocidente são barreiras à imigração, imposições mutiladoras da diferença e uma espartana intolerância quase de cariz marcial.

Do ponto de vista cultural, com os seus erros e os seus sucessos, a Europa trouxe uma dimensão cosmopolita ao mundo – talvez a sua principal novidade – e quando se põe isso em causa, como, por exemplo, com o refabricar de contextos históricos e deitar para o caixote do lixo o que somos, as nossas singularidades, deixamos de ser conscientes de nós mesmos, do bom e do mau que temos.

A afirmação das diferenças não é uma coisa imediatamente perigosa, é uma interpretação diferente da nossa humanidade. Não podemos é, para dizer que há diálogo intercultural, apresentarmo-nos despidos de nós mesmos, pois isso só pode conduzir a uma assimilação ou aceitação total – o que não é diálogo, é a sua negação.

A diversidade a sério supõe diferenças. Supõe identidade e singularidade, exige compromisso e tolerância, não rendição.

Deputado do PSD