Evitar uma rápida desvalorização do carro e, acima de tudo, pagar menos no momento da compra são os principais motivos que levam os portugueses a optar por comprar um veículo usado. Em alguns casos, basta ser mais velho poucos meses para a poupança ultrapassar os quatro mil euros. Aliás, este segmento é, muitas vezes, visto como o principal dinamizador do comércio automóvel em Portugal e da atividade financeira ligada ao setor.
Se por um lado a compra de um carro novo pode significar despreocupação – liberta os consumidores de inquietações como o historial de um carro, por exemplo –, por outro penaliza mais o orçamento familiar. Isto porque a aquisição de um automóvel novo não é acessível a todas as carteiras e a ideia da desvalorização constante pode também assustar alguns consumidores. Em média, uma viatura nova perde entre 15% e 25% do seu valor por ano.
Face a este facto, adquirir um carro com poucos anos poderá representar uma solução tentadora para a maioria dos potenciais compradores.
A verdade é que a aquisição de um automóvel com um, dois ou até mesmo três anos implica sempre ter um cuidado redobrado para evitar desagradáveis surpresas, principalmente se o negócio for realizado entre particulares ou pela internet. A explicação é simples: há situações em que é difícil de detetar alguns problemas: acidentes, avarias frequentes, quilometragem adulterada e outras fraudes.
Outra questão que se impõe é a quem comprar: a um particular ou a um stand? Em qualquer destes cenários há vantagens e desvantagens. O primeiro consegue vender mais barato e tem também maior margem de manobra para negociar e baixar o preço. O segundo pode apresentar valores mais elevados, mas está próximo das grandes marcas e, como tal, oferece uma garantia mais alargada.
De olho na garantia Qualquer que seja o automóvel que pretende comprar, tenha sempre especial atenção à garantia oferecida. Tal como os novos, também os usados têm direito a dois anos de proteção. No entanto, há muitos estabelecimentos que dão apenas garantia por um ano ou fazem desconto no preço se o cliente prescindir de qualquer garantia, o que é ilegal. Contudo, a lei admite a redução da garantia até um ano, caso exista um acordo entre vendedor e comprador, mas nunca para um prazo inferior.
Caso o negócio seja realizado entre particulares não existe garantia, o que torna o investimento mais arriscado. Mas mesmo assim continua a existir alguma proteção. Durante os seis meses seguintes à entrega do automóvel, o comprador pode provar que este não tem as características anunciadas para exigir uma reparação ou anular o contrato.
Além de reduzirem o prazo, vários stands ainda excluem da garantia peças ou componentes. É o caso do leitor de CD, do ar condicionado, da embraiagem, da correia de distribuição ou da bateria. Outros limitam-na a uma determinada quilometragem ou a um valor máximo por reparação. Qualquer uma destas alterações é ilegal.
Mas nem tudo são facilidades. É frequente os consumidores serem confrontados com a proposta de assinar um contrato que prolongue a garantia, mediante um valor de pagamento. No entanto, na maioria dos casos esta situação não apresenta qualquer vantagem para o cliente. A maioria destes contratos são assegurados por empresas externas ao stand e apresentam tantas restrições que poucos ou nenhuns benefícios oferecem. E a menos que estas garantias contratuais sejam mais abrangentes do que a garantia legal, esta solução não é compensadora. Como tal, o consumidor pode recusá-las, sem perder o que a lei prevê.
Se detetar um defeito dentro do período de garantia, o consumidor dispõe de dois meses para apresentar a fatura e acionar a garantia. A partir daí, terá dois anos para avançar com uma ação em tribunal ou num julgado de paz, caso o assunto não seja resolvido pelo vendedor. Geralmente pode optar pela reparação, pela substituição por outro veículo com as mesmas características – também poderá ser diferente, mas para isso é necessário existir um ajustamento do preço – ou mesmo pela anulação do contrato, se for essa a sua vontade.
A verdade é que a lei não impõe qualquer decisão. A palavra final caberá sempre ao consumidor. Não se esqueça que, se optar por mudar de carro, este passa a gozar de uma nova garantia com a duração de dois anos, a contar da data em que lhe é entregue.
Importados subiram Outra hipótese passa por adquirir um carro importado. O código do Imposto Único de Circulação (IUC) entrou em vigor há 12 anos e aos donos de carros importados é cobrado um valor mais elevado pois é tributado com base no ano da matrícula portuguesa (a data da entrada no país, mesmo que o veículo seja mais antigo) em vez da matrícula estrangeira.
No entanto, segundo o secretário-geral da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP), Hélder Pedro, as matrículas de veículos importados dispararam no ano passado. De acordo com dados da associação, assistiu-se a um aumento de 17% neste segmento, ultrapassando as 17 mil unidade vendidas. “Portugal, infelizmente, é o grande destino destes carros” usados, referiu. As principais origens foram Alemanha, França, Bélgica e Espanha.
Mas não se esqueça de fazer muito bem as contas e ver se realmente o negócio compensa. Por vezes, além do valor que é apresentado tem de acrescentar alguns custos, como a logística com serviços e documentação: por exemplo, seguro internacional, matrículas de trânsito, inspeções, etc.