No início da época, o FC Porto era um dragão arrogante. Surgia com as esporas de campeão e ganhava com facilidade o título inaugural da época – a Supertaça. E os primeiros jogos do campeonato vieram reforçar-lhe o orgulho: o Benfica começou a perder pontos e parecia moribundo, o Sporting despediu o treinador, o Braga teimava em bater o pé mas ninguém acreditava que aguentasse até ao fim.
Sérgio Conceição tinha o rei na barriga.
O primeiro revés veio quando menos se esperava: depois de eliminar o Benfica na Taça da Liga, caiu aos pés do destroçado Sporting. Precisamente aquela equipa por quem não se dava nada.
De qualquer modo, o Porto ainda estava na Champions, na liderança do campeonato e na Taça de Portugal. O percalço não era grave.
A eliminação da Champions surgiu naturalmente às mãos do Liverpool, pelo que também não causou alarme – embora não se esperasse que perdesse por tantos: 6-1 na eliminatória.
E depois começou a tropeçar no campeonato. Dois pontos aqui, três pontos ali – e de repente estava à mercê do Benfica. Mas tinha a seu favor o facto de o jogo do título ser no Dragão. Se ganhasse, ficava com o campeonato no bolso. Só que perdeu. E o favoritismo passou para o rival. Aqui, os portistas começaram a inquietar-se. Mas ainda havia muito campeonato.
Só que o benfica aguentou-se até ao fim – e o Porto perdeu mesmo o título. Mas ainda havia a Taça de Portugal. Fraca consolação para tantas expectativas, mas mesmo assim melhor que nada. Só que a sorte do jogo caiu mais uma vez para o lado do adversário. Depois de empatar no último segundo do jogo, renovando a esperança que parecia perdida, o Porto deixou fugir a Taça nos penáltis – exatamente como perdera a Taça da Liga, face ao mesmíssimo adversário.
O herói do início da temporada revelava-se afinal um vulgar plebeu, a chorar de tristeza no relvado do Jamor. Fazendo lembrar Jesus, quando caiu de joelhos no Dragão depois do golo de Kelvin. Só é pena Sérgio Conceição ter transformado a tristeza em azedume, ao recusar-se a apertar a mão ao presidente do Sporting. Aí, passou de plebeu a vilão.
Querer ganhar é uma coisa. Não saber perder é outra. E já são vezes de mais que Conceição mostra essa lamentável faceta.
No extremo oposto esteve Marcel Keiser, o treinador do Sporting. Não prometeu nada, não exigiu nada, não protestou nada, não reclamou nada. E com pezinhos de lã ofereceu dois títulos ao clube naquela que prometia ser a pior época da sua história.
Enquanto o Porto podia ter ganho tudo e perdeu tudo, o Sporting esteve sempre à beira de perder tudo e ganhou duas taças. Sempre por penáltis. Por penáltis eliminou o Braga, por penáltis ganhou ao Porto em Braga, por penáltis venceu o mesmo Porto no Jamor.
Sorte? Sem dúvida. Mas também muita crença.