O Presidente da República lançou o alerta esta semana, ao considerar que seria “traumatizante” descobrir na noite das eleições europeias, a 26 de maio, que a participação dos portugueses nas urnas não iria além dos 25% a 30%. “Seria um mau sinal para a democracia”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa, apelando aos portugueses, residentes em Portugal ou no estrangeiro, para participar. O apelo justifica-se porque as eleições europeias são, por tradição, as que registam maior abstenção, normalmente, acima dos 60 por cento. Talvez, por isso, o cabeça-de-lista do PS, Pedro Marques, tenha reconhecido que “a abstenção é de facto” o seu maior adversário.
A confissão, em Ponte de Sor, à saída de uma fábrica, surgiu numa lógica em que o inimigo número dos europeístas é o desinteresse “porque deslegitimará qualquer vontade de barrar a extrema direita, barrar os populismos, barrar a xenofobia”.
Ontem, o cabeça-de-lista do Livre, Rui Tavares, considerou, citado pela Lusa que a baixa taxa de participação dos portugueses “em eleições europeias é um sintoma de um falhanço das nossas elites políticas”.
Para o PSD o problema é estrutural. José Silvano, secretário-geral social-democrata e diretor de campanha do partido, defende, em declarações ao i, que “as pessoas abstém-se mais nas eleições para o Parlamento Europeu, porque sentem-no mais longe”. Além disso, os temas de campanha europeia são sempre difíceis para as pessoas perceberem que estão a fazer escolhas que afetam as suas vidas. “Essa perceção demora a perceber”, admite José Silvano.
No caso do PSD, por exemplo, a campanha foi pensada para percorrer vários concelhos no mesmo distrito, e não apenas as capitais de distrito para tentar garantir “a proximidade”.
As contas fazem-se no final, mas os partidos esforçam-se por lembrar aos eleitores a importância de votar. “Não se esqueça de ir votar no dia 26”, é uma das frases que se pode ser ouvida da esquerda à direita, à medida que os candidatos percorrem milhares de quilómetros a tentar passar a sua mensagem.
O quarto dia de campanha oficial acabou ontem por ficar marcado por dois temas: a polémica sobre o comendador Joe Berardo e uma imagem partilhada pelo Patriarcado no Facebook.
Em relação a Joe Berardo, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu, citado pela Lusa, que deve ser concretizada “a reposição do que é devido ao Estado”. O dirigente referia-se aos muitos milhões de euros por reembolsar de créditos à Caixa Geral de Depósitos. Ou seja, mais do retirar comendas ao empresário, é preciso que salde as dívidas, segundo o PCP. O cabeça-de-lista do partido em coligação com o PEV (CDU), João Ferreira, também abordou o caso. Para o eurodeputado o processo do comendador é apenas a “ponta do icebergue” da “promiscuidade entre poder financeiro, económico, e poder político”.
Já Nuno Melo, do CDS, quis associar António Costa a Joe Berardo, depois de ter atirado críticas a José Sócrates, o ex-primeiro-ministro socialista. O cabeça-de-lista centrista lembrou que Costa, na qualidade de ministro da Administração Interna, também assinou o decreto -lei que criou a fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Coleção Berardo. Estávamos em 2006.
As polémicas do dia começaram bem cedo, com o Patriarcado de Lisboa a retirar do Facebook uma imagem que dá azo ao sentido de voto em partidos como o CDS, a coligação Basta ou o Nós Cidadãos. A notícia foi avançada pelo DN e o Patriarcado recuou e classificou o caso como uma “imprudência”.