ALGUNS DOS QUE FESTEJAVAM anteontem no Marquês de Pombal a vitória do Benfica no campeonato experimentariam um sentimento duplo: por um lado, uma satisfação natural, uma euforia pelo triunfo; por outro lado, um embaraço, uma quase vergonha pelo modo como a equipa venceu alguns jogos na ponta final do campeonato. Em Vila da Feira, em Braga e em Vila do Conde ficou a ideia de que o Benfica só não perdeu pontos porque os árbitros não quiseram.
Claro que, na fase inicial do campeonato, o FC Porto foi mais beneficiado. Mas nestas coisas do futebol, as últimas imagens é que ficam.
INDEPENDENTEMENTE DISSO, Bruno Lage merece todos os elogios. Porque transmitiu outra alegria à equipa, pô-la a jogar um futebol mais solto e mais dinâmico, recuperou jogadores que estavam inexplicavelmente encostados às boxes, como Samaris, e foi buscar ao Seixal uns miúdos e meteu-os corajosamente a jogar – casos de Ferro, Gedson, Florentino e João Félix. Quase meia equipa!
Ora, em termos financeiros, isto representou muitíssimo. Muitos milhões. E sem sacrifício em termos desportivos, pelo contrário, com benefício, pois a equipa melhorou. Pode dizer-se, pois, que o treinador do Benfica foi uma aposta 100% vencedora.
SÉRGIO CONCEIÇÃO, AO INVÉS, fez o percurso oposto. Começou muito bem, ganhou um grande avanço, mas perdeu-o de forma inglória na segunda volta.
Perto do fim da primeira volta, um conhecido benfiquista dizia-me: “O Porto já é campeão. E o Benfica nem vai ficar em segundo, vai ficar em terceiro, atrás do Sporting”. E embora nem todos partilhassem deste pessimismo, a verdade é que não haveria um único benfiquista que ainda acreditasse no título. Mesmo que hoje diga que sim.
ENQUANTO A RECUPERAÇÃO do Benfica teve em Bruno Lage o grande obreiro, a débâcle do Porto foi devida, em boa parte, a Sérgio Conceição. Este cometeu um erro fatal ao meter Pepe diretamente na equipa, mal chegado do estrangeiro.
No balneário, muitos viram nisso uma injustiça. Jogadores que tinham andado a esforçar-se desde o início da época ficavam no banco ou nem eram convocados – e um que acabava de chegar entrava na equipa sem dar quaisquer provas.
ALÉM DISSO, a entrada de Pepe provocou uma revolução na defesa, obrigando Militão a ir para a direita e forçando a saída de Maxi Pereira, que estava a fazer bons jogos e empurrava muitas vezes a equipa para a frente.
O certo é que, depois da chegada de Pepe, a defesa, em vez de melhorar, piorou, passando a sofrer mais golos.
Resumindo e concatenando, a coragem de Lage, os erros de Conceição e alguma ajuda dos árbitros na fase final do campeonato explicam a recuperação e o título do Benfica.