ALMATY – É-me irresistível. Nomes, imagens, ilusões. É possível não querer ir a Tiruchchirappalli, que também é Tiruchirapalli ou Trichinopoly, como preferirem, ou pura e simplesmente Trichy, que os indianos também gostam de simplificar de vez em quando? Eu não resisti ao nome. E fui lá ao Tamil Nadu, à procura dessa cidade com um nome tão extraordinário que deveria ser sempre escrito a maiúsculas.
De onde vem o chamado? Será aquilo a que Bruce Chatwin chamava restlessness? Anatomia da errância. Quando vou, não quero voltar. Mas volto para que possa partir novamente.
Blaise Cendrars, por causa de quem percorri os trilhos do Transiberiano, dizia: “Viajar é uma doença sem espírito de regresso”.
Uma tarde, ao fim de uma longa espera no aeroporto de San Salvador, um brasileiro meteu conversa comigo e quis saber para onde me dirigia. Disse-lhe: Tegucigalpa. Há lá nome mais irresistível do que Tegucigalpa? O homem horrorizou–se: “Tegucigáupa??? Cê vai para Tegucigáupa!!!? Cê vai deliberadamentchi para Tegucigáupa??!!!”
Fui. Deliberada e alegremente para Tegucigalpa, como deliberada e alegremente me meti num autocarro entre Bobo Diolasso e Ougadougou na companhia de pastores e dos elementos lãzudos da sua pastorícia. Ou me perdi, deliberada e alegremente, na estrada de Samarcanda.
Eis-me de novo em Almaty. Amanhã, provavelmente, tomarei o caminho de Bishkek, capital do Quirguistão, ao qual também dão o nome de Quirguizistão e de Quirguízia. Não sei como não ir. Não sei como não escrever sobre o que vejo e o que sinto.
Continuarei sem saber a razão de todas as partidas? Ou bastar-me-á exclamar, aliviado, à moda de Clarence, filho bastardo do 8.o conde de Warwick, que teimava em não se lavar ao longo das suas viagens infinitas: “It’s enough that I should be cleanset of my country”. Lavar-me de Portugal. É bem pensado.