Depois de Harvey Weinstein, do escândalo que o envolveu e que deu origem ao movimento #MeToo em Hollywood e à sua expulsão da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas norte-americana, que adotou, logo em dezembro de 2017 um código de conduta que levou à expulsão também de Roman Polanski, em maio, o realizador de “O Pianista” recorreu aos tribunais exigindo a sua reintegração no organismo responsável pela atribuição dos Óscares.
Segundo a imprensa norte-americana, os advogados do realizador de “O Pianista” entregaram na sexta-feira no Tribunal Superior de Los Angeles um pedido para obrigar a Academia a reintegrar o realizador, depois de este ter sido expulso segundo a aplicação do código de conduta adotado no final de 2017, no movimento que surgiu em reação aos escândalos de assédio e de absusos sexuais que assolaram Hollywood, que ditou também a expulsão de Harvey Weinstein da Academia de Cinema norte-americana, depois de ter sido acusado por dezenas de mulheres que ao longo das últimas décadas se tinham cruzado profissionalmente com o produtor, entre as quais estavam Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Mira Sorvino, Lea Seydoux e Rosanna Arquette.
Já nessa altura, Roman Polanski tinha contestado a decisão, num recurso que a Academia rejeitou, em janeiro. Citados pela Associated Press, os advogados de Polanski afirmam que a decisão da expulsão não está corretamente fundamentada e que, além disso, “as conclusões da Academia não são sustentadas em provas”. Segundo os representantes legais do realizador, a Academia “falhou no cumprimento das suas regras, políticas e regulamentos”, além de, argumentam, ter violado uma lei do estado da Califórnia que obriga a que as corporações realizem uma audiência justa antes de expulsarem um membro.
Em reação à diligência dos advogados de Polanski, a Academia de Cinema afirmou, em declarações à revista Variety, que “os procedimentos adotados para expulsar o senhor Polanski foram justos e razoáveis”. E mais: que “continua a defender que a decisão foi apropriada”. O código de conduta adotado em 2017 e com base no qual Polanski foi expulso determina que a Academia não tem lugar para “pessoas que abusam dos seus estatutos, poder ou influência de uma forma que viole os padrões da decência”. Desde então, a direção passou a ter poderes para suspender ou expulsar quem violasse esse mesmo código ou qualquer um que “comprometesse a integridade” moral da organização.
As acusações de abuso sexual e violação que pendem sobre o realizador franco-polaco remontam a 1977, altura em que admitiu ter tido relações sexuais com Samantha Geimer, uma adolescente de 13 anos, na casa de Jack Nicholson, em Los Angeles, enquanto o ator se encontrava em viagem. O realizador foi na altura preso preventivamente mas libertado ao fim de 47 dias. No ano seguinte, depois de uma reunião entre os seus advogados e o juiz, que deu a entender que seria condenado, Polanski deixou os Estados Unidos rumo a França e nunca mais regressou. A fuga à justiça norte-americana impediu-o de receber, em 2003, o Óscar de Melhor Realizador por “O Pianista”.
Ao longo dos últimos anos, outras acusações têm surgido contra o cineasta. Em 2010, a atriz britânica Charlotte Lewis acusou-o de a tinha obrigado a ter relações sexuais quando tinha apenas 16 anos. E em 2017, já depois de Hollywood ter virado palco para uma série de denúncias de abusos ocorridos ao longo dos anos, vieram outras duas mulheres alegar terem também sido elas vítimas de absusos por parte de Polanski na década de 1970, quando tinham apenas 15 e 16 anos.